Guasca
(Pedro Ortaça)
Eu nunca pedi bexiga pra
patrão ou pra milico
Por isso ninguém me obriga a
ser pelego ou pinico
Não choro por rapariga nem
tiro chapéu pra rico
E onde a gaita choraminga eu
ganho a vida no bico
Jamais arrotei grandeza, pois
fortuna não me encanta
Porque a minha riqueza Deus já
me deu na garganta
Sou mais um que vira a mesa e
faz chover quando canta
Pois pra pelear com a tristeza
a minha voz se levanta
Sou do Rio Grande do Sul e por
isso não me calo
Por entre o verde e o azul em
qualquer parte me instalo
E onde não querem que eu cante
meu canto vai a cavalo
Levando a noite por diante,
igual ao canto do galo
Pra galinho ou pra tirano
quando a vida se escancara
Não saio queimando o pano pra
ver a coisa mais clara
No sufoco me abano faço saltar
as amarras
Atazanado o fulano com acordes
de guitarra
Por bem eu dou a guaiaca, fico
liso sem um pila
Porem à ponta de faca ninguém
me tira da trilha
Afinal não tenho marca, nem
herança de família
Porque um dia nasci guasca, no
lombo destas coxilhas