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Guasca

Guasca
(Pedro Ortaça)

Eu nunca pedi bexiga pra patrão ou pra milico
Por isso ninguém me obriga a ser pelego ou pinico
Não choro por rapariga nem tiro chapéu pra rico
E onde a gaita choraminga eu ganho a vida no bico

Jamais arrotei grandeza, pois fortuna não me encanta
Porque a minha riqueza Deus já me deu na garganta
Sou mais um que vira a mesa e faz chover quando canta
Pois pra pelear com a tristeza a minha voz se levanta

Sou do Rio Grande do Sul e por isso não me calo
Por entre o verde e o azul em qualquer parte me instalo
E onde não querem que eu cante meu canto vai a cavalo
Levando a noite por diante, igual ao canto do galo

Pra galinho ou pra tirano quando a vida se escancara
Não saio queimando o pano pra ver a coisa mais clara
No sufoco me abano faço saltar as amarras
Atazanado o fulano com acordes de guitarra

Por bem eu dou a guaiaca, fico liso sem um pila
Porem à ponta de faca ninguém me tira da trilha
Afinal não tenho marca, nem herança de família
Porque um dia nasci guasca, no lombo destas coxilhas

O Quilombo Das Luzia



O Quilombo Das Luzia
(Pedro Ortaça, Júlio César Fontele dos Santos)

De além mar vieram os negros africanos para o Brasil.
Não por vontade própria. Vieram como escravos.
Pelearam em guerras e revoluções, para defender uma pátria que nem sua era.
Inclusive o Rio Grande do Sul. Espalharam a sua cultura por todo este continente.
Na vila 13, nas missões, também existia um quilombo...

Das Luzia...
Que era bem assim...
Raça negra dominando na vila 13 vivia
Carvão na pele curtida
Brasa no olho que ardia
E a liberdade na alma no quilombo das Luzia

Africanos quase puros
Uma clã de raça brava
Que quando estanha os olhos
Ou quando afrouxa a baba
Ficam pior que temporal
Quando com fúria desaba.

Certa feita a autoridade
Quis prender as negras Luzia
Foram os ratos e os baios
E mais o povo que podia
E o quilombo pegou fogo
E o chão de medo tremia

Peleavam se conversando
Cotejando no facão
Não gostavam dos de farda
Dos paisana também não
E a cada estouro das negras
Um branco beijava o chão

Enquanto da briga crescia
Que cerrava a polvadeira
As Luzia davam laço
Com panela e com chaleira
E até os negrinhos de colo
Davam pau com as mamadeiras

Anda lacaio, negro não ameaça, negro dá!!!

A negra fúria guerreira
Não se dobra ao opressor
Enfrentam de alma aberta
O chicote e o feitor
Quem nasceu para ser livre
De pouco interessa a cor.

Janelas Da Liberdade


Janelas Da Liberdade
(Pedro Ortaça , Jorge Enio)

É pela marca que se sabe o dono,
É pelo berro que se acha a cria
Mas quem tem marca e ainda berra
Vive a esmo pelas sesmarias.
Se até o gado busca ser livre
Em noites altas pelo vão do arame,
Porque alguns homens com sabedoria
Usam buçal acatando infames.

Calar a voz e curvar o lombo,
É viver em vão e não ter consciência
Andar na verga é para boi manso
Que por ser bicho cumpre a penitência.
Mas se nascemos para sermos livres
Porque então aceitar o ajoujo,
Maneias e cordas são para animais
Que não trazem anseios dentro do seu bojo.

Mudaram-se os tempos
Não mudaram aqueles
Que insistem na castra da liberdade
Com ausências arcaicas carregam museus.
Que insistem ainda viver de saudades
Janelas se abrem ao abrirem-se os olhos
Mas para vermos precisam visão,
Querer ser livre, soltar as amarras
Largar o grito com o coração.

Timbre De Galo

Timbre De Galo
(Aparício Silva Rillo, Pedro Ortaça)

Rio Grande, berro de touro,
Quatro patas de cavalo.
Quem não viveu este tempo,
Vive esse tempo a cantá-lo
E eu canto porque me agrada
Neste meu timbre de galo.

É verdade que alguns dizem
Que os tempos hoje são outros,
Que o campo é quase a cidade
E os chiripás estão rotos,
Que as esporas silenciaram
Na carne morta dos potros...

Cada um diz o que pensa
Isso aprendi de infância,
Mas nunca esqueça o herege
Que as cidades de importância
Se ergueram nos alicerces
Dos fortins e das estâncias.

Não esqueça, de outra parte,
Para honrar a descendência,
Que tudo aquilo que muda,
Muda só nas aparências
E até num bronze de praça
Vive a raiz da querência.

Eu nasci no tempo errado
Ou andei muito depressa,
Dei oh de casa em tapera,
Fiquei devendo promessa
Mas se pudesse eu voltava
Pra onde o Rio Grande começa.

E se me chamam de grosso,
Nem me bate a passarinha.
A argila do mundo novo
Não tem a mescla da minha,
Sovada a cascos de touro,
Com águas de carquejinha...

Rio Grande, berro de touro,
Quatro patas de cavalo
Quem não viveu esse tempo
Vive esse tempo ao cantá-lo,
E eu canto porque me agrada
Neste meu timbre de galo...