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Mostrando postagens com marcador Shana Muller. Mostrar todas as postagens
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Identidade

Identidade
(Luiz Carlos Borges)

Com chapéu de aba larga
E barbicacho de couro
E este lenço apresilhado
Por uma argola de ouro
Mais esta faixa bordada
Por descendente de Moro,
Eu me pilcho de pampiana,
Alpargata castelhana
E um patuá contra o agouro,
Defendendo o que é meu
Com esta voz que Deus me deu
Porque esse é meu tesouro.                
  
Cantando levo a vida
E a vida me levando,
Quem já nasceu cantando
Renasce todo dia.
Me encanta ser assim
Feliz, sem preconceito,
Um rio que do seu leito...                   
Derrama poesia!                                 

Qualquer espaço é lugar
Para soltar minha voz
Da nascente até a foz
O meu canto é assim:
- Mensageiro das barrancas,
Mescla de terra e capim,
Uma enchente de esperança
Que se agita e que se amansa,
Manancial que não tem fim,
Cristalina na vertente
Sou matriz e afluente
Desse rio que corre em mim.
                                
Cantando levo a vida
E a vida me levando,
Eu vou morrer cantando
E, se eu voltar um dia,
Permita Deus que eu volte
Gaúcha, deste jeito,
Com a mesma voz no peito...
Repleta de poesia 

Moço, Irmão, Companheiro E Paisano


Moço, Irmão, Companheiro E Paisano
(Luiz de Martino Coronel, Neto Fagundes)

Moço,
Se tenho sede
Não fico olhando as nuvens a espera da chuva.
Cavo um poço e bebo a água nas mãos.

Irmão,
Se tenho fome
Não fico a rondar o celeiro
Vou à luta, dou mãos ao arado
E me alimento dos frutos que nascem do chão.

Companheiro,
Se tenho protesto
Não esmoreço
Digo logo o que quero, no palco, na praça
Para ser verdadeiro.

Paisano,
Se amo,
Não me retiro ao suspiro.
Abro os meus braços, afago, morro e proclamo
A beleza de quem amo.

Eu bebo a água nas mãos
Como os frutos que planto
Digo o que penso,
Digo o que penso
E a quem amo, amo tanto

Ñangapiri

Ñangapiri
(Antonio Tarragó Ros)

Anduve mirando el pueblo, buscándome
Y fluyes como mi sangre de chamamé

Enciende tu pie desnudo sobre mi piel
Un río de primaveras ternura y miel

A orillas de tu sonrisa yo soy feliz
No quiero partir de nuevo, ñangapirí

Ñangapirí silvestre luz del arenal
Tibio rubor del verde gris de la niñez
Mi resplandor, mi atardecer, mi taragüí
Y el cielo aquí de tu mirar, ñangapirí.

La luna se ardió en el río ñangapirí
Y vuela a lo más profundo de tu vivir
Allí donde es todo aroma vá mi canción
A darle a tu entraña un beso, ñangapirí

A orillas de tu sonrisa hallé un país
De pájaros florecidos, ñangapirí

No Fio Da Milonga

No Fio Da Milonga
(Érlon Péricles)

Quero ver sumir a desilusão que trago no peito
Quando esta milonga ferir bem fundo o meu coração
Quando ela me corta sangra a tristeza daqui de dentro
Que vai se esvaindo por entre as cordas do meu violão

Seu talho é profundo e vem procurando matar a mágoa
Que há muito tempo fez dos meus olhos a sua casa
Vem neste entreveiro terceando ferro de rima afiada
Uma briga feia batendo adaga co´a solidão

Afio a faca no verso na pedra da inspiração
Sinto que o fio da milonga foi chairado na emoção
Arrabalera se achega me causando um arrepio
Vem me cortando de acordes pra sangrar em seu fio

Outra Campereada

Outra Campereada
(Pirisca Grecco, Túlio Urach)

Manhã de junho no interior do estado
Cambona fria e nem sinal das brasas
O minuano que rengueia tudo
O cusco e até o pé direito da casa.

Saltou cedito como de costume
Lavou as mãos e a cara já judiada
E requentou para seu desayuno
Garrão do chibo da noite passada

Botou confiança na cincha do mouro
Levou o laço pra beber sereno
Requisitou a proteção divina
E contemplou seu mundo tão pequeno.

Sua vida inteira foi assim
Achando lindo, dando risada

Como quem colhe uma flor no inverno
Se foi com Deus pra outra campereada.

Abre Essa Gaita

Abre Essa Gaita
(Zelito Ramos, Erlon Péricles)

Quando a gaita chora
O sorriso aflora
A saudade estanca,
Quando abre o fole
Arrepio na pele
Nó na garganta...

Um mate, uma prosa,
Um beijo, uma rosa,
Pra me conquistar,
Um olhar sereno
E esse jeito bueno
De me acompanhar.

Assim é a vida
A estrada é comprida
Aprendemos mais,
Caminhando junto,
Descobrindo o mundo
Sem olhar pra trás!

A canção em brasa
Ilumina a casa...
Faz acontecer,
Toda melodia
Na sintonia do bem querer.

Abre essa gaita que eu abro o peito num chamamé...
Abre essa gaita de luz e sonho, de força e fé...
Abre essa gaita que eu abro o peito num chamamé...
Abre essa gaita que to contigo pro que vier!

Esse Jeito De Domingo

Esse Jeito De Domingo
(Xirú Antunes)

Lá vem Natalício Perdomo
No seu mouro destapado
E um ovelheiro do lado
Costeando a franja do pala

Será que andou de cismado
Numa bailanta argentina
Com alguma correntina
De pêlo amorenado

Ou uma milonga campeira
Mesclada com uma carreira
Lhe pealou pelo sombreado
De um capão de pitangueira

Quem sabe as suas razões
De andejar nos domingos
São as mesmas destes índios
Que habitam os galpões

Que fazem as solidões
Se multiplicarem nos cascos
De um mouro negro ou picasso
Pra os olhos de alguma china

Não é só a geografia
Deste meu povo de campo
Mas também fisionomia
De quem tem seu próprio canto

E alimenta suas raízes
Com jujos da própria alma
Filosfias de calma
Paciência de acalanto

Este meu povo de campo
De geratrizes antigas
Mistura de pulperias
Ternura mansa de rancho

Tem memoriais escondidos
Nas dobraduras do arreio
De andar nos pastoreios
Esparramando cultura