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Mostrando postagens com marcador Severino Moreira. Mostrar todas as postagens
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Estiagem


Estiagem
(Severino Moreira, Zulmar Benitez)

“Pra quem é de campo, ver o gado lambendo o barro e um campeiro desgalhando o mato para que não morra e fome.
Dói na alma. Não é o sul que nossos olhos acostumaram”.

Ao ver a pampa estendida
Até onde a vista alcança
Torreira triste descansa
Sem pressa de ir embora
Miséria gastando esporas
No pastiçal já gateado
Remoendo a fome meu gado
Aponta os ossos pra fora.

A sanga perdeu as forças
Que nem na ladeira anda
E o Patrão Velho não manda
O Vento Norte que falo
Lamber o pasto já ralo
Que só a chuva renova
Vai a Cheia e vem a Nova
Sem nenhum “rabo de galo”

O açude rachou a taipa
Numa soleira bagual
No fundo um lodaçal
Minguando a cada dia
- Quem sabe venha de cria
A negritude do poente
Que alumia a alma da gente
Quando o tempo velho estia

Mirando a quincha do pampa
No rumo do meu “Patrão”
Na mudez de uma oração
Que nunca aprendi a fazer...
Até me custa entender
Esse flagelo do gado
Se a mim sobram pecados
A tropa não deve ter.

A Pedra

A Pedra
(Severino Moreira, Zulmar Benitez)

“Um dia foi o bem e o mal.
Hoje é o flagelo de uma nação.
Nosso país está envelhecido,
Por que a juventude se consome pelo vicio”.

Da terra vem o começo
Na pedra se resume o final,
Pois na terra ressurge vida
E a pedra planta o funeral.

Da pedra surgiu a lança,
Que arrematou numa cruz,
É quem acende a cobiça,
Quando destapa e reluz.

Riscada foi “pai de fogo”,
Moldada se fez boleadeira,
Foi dor de escomungados,
“Mundanas” e feiticeiras,

Nos pés é fio que castiga,
Por vezes cala bem fundo,
Na cabeça mutila sonhos,
E a dor espalha no mundo.

Trás a sede que não sacia,
Deixa tudo em reviravolta,
Transitar “o caminho da pedra”,
É trilhar caminho sem volta.

É seixo na caricia das águas,
E gelo ao despencar do céu,
Na doutrina dos “Sete Povos”,
Foi o batismo dos “incréus”.

Na coxilha é monumento
Trincheira numa canhada,
No galpão “assenta o fio”,
Pra “gravata colorada”.

Assim se define “Pedra”,
Uma palavra universal,
Traduz miséria e luxo,
Todo o bem e todo o mal.

Milonga À Sombra

Milonga À Sombra
(Serverino Moreira, Juliano Javoski)

“Pensando bem, a sombra é nosso lado abstrato”

Parceira de todos os dias
Irmã gêmea que o Sol me deu
Parte abstrata de mim,
Refletida na cor do breu.

No chão me copia sem face
Na água me imita o semblante
Sol á pino fico pequeno
Sol baixo me torno gigante

Por vezes é o meu sinuelo
Em outras guarda meus passos
As vezes caminha a meu lado
Junto ao pé e longe do braço.

Se guitarreio sente inveja
E debochada me provoca,
Na sua guitarra sem voz
“Arremeda” e também toca.

No galpão reflete na quincha,
No braseiro parece crescer,
Se mateio comunga do mate
Se proseio parece entender.

Parece que a sombra tem vida
E por a gente sente carinho,
Enciumada desaparece,
Se noutra sombra me aninho.

Por isso canto pras sombras,
Talvez nem assombre ao cantar,
Mas o meu canto tem sombras,
Que parecem me sussurrar

Coplas Para Um Galpão De Estância

Coplas Para Um Galpão De Estância
(Xirú Antunes, Severino Moreira, Jari Terres)

Estes cernes consumidos em tua alma de brasedo
Por certo foram segredos no centro das inverneras
De repousar as basteras retovando o garreril
Principiando o assobio de uma milonga galponera

Quem tem lembranças guardadas como regalo
Dos velhos tempos quando tudo era estância
Cruzar querência sobre o lombo do cavalo
E  por instinto ter o tempo e a distância

Rever as garras penduradas num galpão
Chiar de tição nos respingos da cambona
Sentir o gosto desta xucra infusão
Bebendo acordes de guitarras redomonas

Galpão de estância marca viva do meu mundo
Cheiro de garras e pingos suados da lida
Tosca cantiga do estralar dos gravetos
Ar de sereno com carqueja ressequida

É a mais antiga das crenças de um payador de ofício
Mescla de guitarra e vício, és meu galpão centenário
Que por certo foi o cenário de improvisos e saudades
No bordonear de ansiedades de algum poeta visionário

Quando o soluço do inverno abre o poncho
Ou mormaceando o verão traz sualheiras
Tua tronqueira de saludo abraça a gente
Ilha quinchada no mar verde sem bandeira

Testemunha da raça dos potreadores
Que no teu chão conceberam bruxarias
Benzer as cismas dos lampejos de aurora
E atar esporas antes do clarear do dia

Galpão de estância marca viva do meu mundo
Cheiro de garras e pingos suados da lida
Tosca cantiga do estralar dos gravetos
Ar de sereno com carqueja ressequida