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Meu Rancho


Meu Rancho
(Jayme Caetano Braun, Noel Guarany)

É a sina dos tapejaras
Essa de beber mensagens
Que o vento traz nas aragens
Do fundo da noites claras
Bordoneando nas taquaras
Ou pelas frinchas da porta
Porque reanima e conforta
O velho sangue guerreiro
E se eu nasci missioneiro
O demais pouco me importa.

Nasci no meio do campo,
Na costa do banhadal
Dentro dum rancho barreado,
De chão duro e desigual
Meu berço foi um pelêgo
Sobre um couro de bagual!

Bebi leite na mangueira
Numa guampa remachada
E acavalo num tição
Me aquentei de madrugada
Enquanto o vento assobiava
Nos campos brancos de geada!

Brinquei com gado de osso
Na sombra do velho umbu
E assim volteando um amargo
E o churrasco meio cru,
Fui crescendo e me orgulhando
De ter nascido um chirú!

Depois de andar gauderiando
Por muita querência estranha
Hoje vivo no meu rancho
Na humildade da campanha
Junto a chinoca querida
E um cusco que me acompanha!

Na estaca em frente do rancho
Dorme o pingo meu amigo
Companheiro que eu adoro,
Prenda guasca que bendigo
Pois alegrias e penas
Sempre reparte comigo!

É meu vizinho de porta
Um casal de quero-quero
Por isso, embora índio pobre,
Bem rico me considero:
Tendo china, pingo e cusco
No mundo nada mais quero!

E quando de noite a lua
Vem destapando meu rancho
Agarro na gaita velha
Que guardo erguida no rancho
E dando rédeas ao peito
Num vanerão me desmancho!

E meu verso é como o vento
Que vai dobrando as flexilhas
E floreia compadresco
O hino destas coxilhas
Entre os buracos de bala
Do pavilhão farroupilha!

É mesmo que bombeador
Dos piquetes de vanguarda
Que vem abrindo caminho
Pelas tropas da retaguarda.
Enquanto a cordeona chora
Meu cusco fica de guarda!

E ali pela solidão
Onde meu canto escramuça
Parece que a noite velha
Cheia de mágoas soluça
E a própria lua pampeana
No santa fé se debruça!

Mas pra deixar o sossego
Do meu rancho macanudo
Basta só a voz de um clarim:
Com china e cusco me mudo
Pra defesa do Rio Grande
Que adoro acima de tudo.

Meu Rancho

Meu Rancho
(Telmo de Lima Freitas)

Primavera chegou
No meu rancho cantor
Lá na sanga as pitangas
Tão rubras, tão doces
Tal qual nosso amor.

O sabiá começou
O cantar da paixão
Modulando cantigas
Que tocam no fundo
Do meu coração.

O barreiro cantou
Quando viu tu chegar
Festejando contente
O grande presente
De erguer nosso altar.

Quero-quero querendo
Dizer algo pra mim
Que na soma dos dias
Nossas alegrias
Jamais terão fim.