Cadastre seu e-mail e receba as atualizações do Blog:

Mostrando postagens com marcador Everson Maré. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Everson Maré. Mostrar todas as postagens

Semaneiro


Semaneiro
(Volmir Coelho)

Esta semana inteira
Me tocou a recolhida
Vem da invernada do posto
Zaina, gateada e tordilha
E uma tostada gaviona
De trompá e cruzá por riba

Depois de ta na mangueira
Meu povo vai se servindo
Entre assovios e risadas
Que quadro que eu acho lindo
Som de casco e de esporas
E os ovelheiros latindo

Esta semana inteira
Me tocou a recolhida
Por ter nascido no campo
Eu canto as coisas da lida
Que aprendi a respeitar
Desde guri já taludo
Campo mangueira e galpão
Este pra mim é meu mundo

Depois que todos encilham
Dá as ordens o capataz
Tem que juntá um rodeio
Das faiada pra dozar
E fazê uma reculuta
De uma que ficou pra trás

E assim vai passando o dia
Vem outro, outra missão
Repassar o rebanho inteiro
Cuidando da produção
Muda nova na mangueira
Só não muda a situação

No Tranco Que O Zaino Faz


No Tranco Que O Zaino Faz
(Gujo Teixeira, Rafael Teixeira Chiappetta, Everson Maré)

Eu ia ao trote, assobiando uma milonga aos pedaços,
Rédea frouxa no meu zaino, numa cruzada do passo,
Quando este pingo, no freio, gachou o toso por conta,
Que se eu não sou dos “ligeiro”, não saía na outra ponta.

Daí que se dá valor a um par de espora grongueira,
Que firmam bem no sovaco, entre o suor e a barrigueira,
Depois que pega não solta, igual meus cusco em rodeio,
Pena não terem mais fio que eu partia o zaino ao meio.

Foi querendo se estender onde o passo era mais raso,
Entre o barranco e a aguada, foi aí que criou caso,
Meu zaino é passarinheiro, mas eu sempre me cuidava,
Acho até que não gostou da marca que eu assobiava.

Perdi o entono mas não perdi o assovio,
Me fui, perdendo e juntando, que pena que ninguém viu,
Oigalê zaino maleva que se enfeiou por bravata,
Entre as pedras do lageado mal se formava nas patas.

Perdi o entono mas não perdi o assovio,
Em cada golpe que dava, ia roncando o vazio,
Mas quando a coisa se enfeia, um golpe curto se alonga
E o zaino “inté’ parecia que dançava esta milonga.

Levei o zaino assobiando, numa tremenda epopéia
E o tino desta milonga não me saía da idéia,
Neste combate chairado que se fazia em trovoada,
Se foi negando os carinhos pra esporas mal afiada.

Creio que agora meu zaino entende meu assobio,
Cruzou adiante do arroio e até as casa seguiu,
E eu fui juntando os pedaços desta milonga no más
Pra chegar com ela bem pronta, no tranco que o zaino faz.

Sinceridade

Sinceridade
(Rômulo Chaves, Everson Maré)

Porque afirmar opinião
...Quando o coração fala noutro sentido
Só sei que o sentimento
Na estrada do tempo anda meio escondido

Então lá dentro do peito
Se mostra com jeito a flor da verdade
E a alma acorda seu dia
No sol que irradia a sinceridade

Não basta ser falante
Ou sempre confiante pra ter boa imagem
Palavreado bonito ou a força dos gritos
Nem sempre é coragem

Há que entender pela vida
A exata medida da paz que é tão boa
Na sinceridade da luz que guia e conduz
Os rumos de uma pessoa

Quero sorrir com vontade
Chorar de saudade do jeito que for
Olho no olho ao falar pra poder enxergar
Na palavra o valor
Ser quando em silêncio
Naquilo que penso sincero comigo
Na consciência a leveza
Estampando a clareza nas coisas que digo

Assim vou mais além
Na jornada do bem que é sempre sincera
Não quero chegar ao fim
Perdido de mim numa alma tapera

Um homem mostra quem é
No rastro dos pés atitudes e gestos
Pois é sinal de grandeza
Escolher com certeza o justo e o certo

Sincero eu quero andar
Para encontrar o melhor dos caminhos
Meu coração vem dizer que amar e viver
Não se aprende sozinho

Enquanto o tempo me abraça
E a vida passa ao longo dos anos
Sigo buscando abrigo na força de amigos
Na gente que amo



Tropa Morta


Tropa Morta
(Volmir Coelho, João Bosco Ayala, Everson Maré)

Segue o corpo desta tropa
Findando a vida na estrada
O berro é o triste lamento
Indo ao fim da jornada
Peão e tropa um só destino
Findar no sal das charqueadas

Na ponta a “morte” chamando
Por conhecer o caminho
Num grito de venha...venha...
Pra o corpo que aos pouquinhos
A cada marcha encurta a vida aqui na culatra
Seguindo o rastro vai indo

Tropa morta pelo tempo
Conduzida ao matador
Somos iguais nesta estrada
Que o tempo fará o fiador...

Ficara somente o rastro
Desta tropa que passou
Até mesmo um mal costeado
Que duma ronda furou
Venho na “corda” berrando...
...e berrando se “quedou”.

Tropa morta no caminho
Segue lenta ao destino
Sem saber pra onde vai
Tropeiro e tropa um só rumo
De ir sem voltar jamais...

De Vento E Garoa

De Vento E Garoa
(Christian Davesac, Ricardo Rosa)

Um poncho negro no arreio, carregador de distâncias,
E o vento carda fragrâncias de terra e lombo suado,
Num passo firme o gateado da marca antiga do avô,
Que o Rio Grande enfrenou na várzea pechando bois,
Silhueta que o tempo pôs quando a noite se atorou!

Boiada ponta de tropa, pesada de sobre-ano,
Tranqueia solta de mano seguindo o passo das pedras
O campo verde apodera, põe graxa na capadura,
É a primavera que apura pro rumo do saladeiro,
Estilo guapo fronteiro, desde guri se assegura!

Tem cara negra mochado e baios de cola branca
Cruza da marca da estância lá da costa da lagoa
Bem mansa chega a garoa desato o poncho da mala
Ainda longe das casas, refuga um pampa brasino,
Meu pampa é cerno e abrigo pajando de cola atada!

Pito um crioulo de rolo, com palha seca de milho,
Depois aperto o lombilho no olho da tarde cheia,
Um cusco guapo se achega, me dá uma mão no rodeio,
Cuidando a tropa se veio, sem olvidar da culatra,
Sacode a cola de prata este picaço ovelheiro!

A tropa encordoa mansa pros lados do parador,
Chega do posto o olor dum borreguito nas brasas,
O gateado enxerga as casas, tapeio bem o chapéu,
Desaba o tempo do céu, afrouxo boca de espora,
O tempo não se apavora, e nunca nega o sovéu!

Na porteira da invernada saudade é cerne de lei,
Sossego léguas que andei de tropa no corredor,
Um truco me canta flor, campeando estrada e galpão,
Nas cordas do violão uma canção já ressonga,
Batendo vento e garoa de mate gordo na mão!

Um poncho negro no arreio, carregador de distâncias...

A Estrela Torta Da Espora

A Estrela Torta Da Espora
(Gujo Teixeira, Everson Maré)

A estrela torta da espora, boca da noite desceu cadente
Metendo os dente, contra as costelas do colorado
Fechou o céu, escureceu, e eu firmei meu posto
A contragosto, que eu vinha lindo, de chapéu tapeado.

Quem que mandou, querer por conta desencilhar
Sem me deixar, nem apeiar, ou descer ligeiro
Foi resolver, mais outra vez, arrastar minhas garras
Agora por farra, vai me levar, que eu sou caborteiro.

Meu colorado as vez parece que esquece a doma
Quando se assoma com a alma ruim dos potro veiaco
Um dia desses, me errando coice, se estendeu pra fora
Me entortou a espora do pé direito e arrancou um taco.

Agora eu vinha, num tranco estradeiro de bota nova
Primeira sova, couro de capincho, cosa bem feita
E o colorado mudou o trancão, e agachou o toso
E por baldoso, me entortou de novo a espora direita.

Mais hoje a história, por bem ou mal, já foi diferente
Firmei os dente, uns sete ou oito, dos que restaram
Contra a barrigueira e couro grosso do colorado
E de chapéu tapeado, abanei o pala pros que olharam.

Mais aí que a sorte de quem se estriva, vai água abaixo
Foi-se o barbicacho, e o chapéu tapeado boleou pro chão...
E o colorado ainda pisa a copa do meu aba larga
Daí sim fiz carga, e entortei a outra, firmando o garrão.

De Alma Campo e Silêncio

De Alma, Campo e Silêncio
(Fernando Soares, Juliano Gomes, Everson Maré)

Noite de campo que vejo numa lembrança de outrora
Beira de um fogo que acalma, triste cambona que chora
Alma povoada em silêncio deste meu rancho fronteiro
Mateando alguma saudade costeando o sono da espora

Vento que geme na quincha feito um basto na estrada
Resmunga o som de tesoura do picumã amorenada
Quem sabe traga de arrasto alguma manga pras casa
E um cheiro bruto de terra pra invadir a madrugada

Noite que chora pro campo tocando a tropa na sanga
Batiza os lábios da china num galho flôr de pitanga
Somente o sonho que cresce num distanciar de povoeiro
Que parte junto com a aguada pra alguém que vive de changa

E a primavera se estende com olhos claros pra lida
Bolear a perna na estância, este é meu rumo na vida
Solito eu cruzo as horas num camperear de invernada
De rédea firme por diante com alguma mágoa contida