Romance De Pampa E Sol
(Danilo
Kuhn) Amadrinhador: Danilo Kuhn
Despacito,
o sol desnudava à pampa
Com
carícias mansas e luzidias
Que
pouco a pouco se tornavam amplas,
Lhe
trazendo matizes de alegria,
Iluminando
os campos deste amor
Quando
noite se transformava em dia.
O sol
que suspirava em seu rubor
Que à
paixão denunciava a cada afago
Aos
poucos revelava a pampa em flor,
E a
noite fria com seu poncho amargo
Ia
dando lugar à pampa desnuda,
Plena
de todos os amores do pago.
À luz
do amor, o iluminado muda
Sua
tez que agora resplandece, brilha,
Quando
antes era opaca e sisuda
Como
as flores, que na noite das trilhas
Se
ocultam da visão do caminhante,
Mas
que ao sol, lhe acenam das coxilhas.
Assim,
a pampa, em pele verdejante,
Exalava
dos poros seu perfume
Enquanto
o sol, mais e mais radiante,
Estendia
à sua amada tal lume
Que,
ao esmaecerem, as demais plagas
Deste
romance sentiam ciúme.
E o
sol percorria as planuras largas,
Se
mirava vaidoso nos açudes,
Roubava
beijos da água das sangas,
E a
pampa encantava aos homens mais rudes,
Versejando
amor em suave canção
Soprada
ao vento, que no céu se funde:
Terra
e céu, pampa e sol, agora são,
Ao
terno amanhecer que se faz dia,
Um só
ser, unido pela paixão;
E o
romance ao longo das horas ia,
E o
casal apaixonado se amava,
Despercebido
que o tempo esvaía...
Mas,
na medida em que o tempo passava
– Se
ia sorrateiro, sem alarde –,
O
romance ao final se aproximava,
Porque
enquanto o sol de amores arde,
Esquece
que seu fogo depois apaga
Com o
frio que impõe o cair da tarde.
O
mesmo vento que o amor propagava,
Agora
sopra avesso a tal romance,
Contentando
a inveja das demais plagas;
E a
pampa de luz, do amor que amanhece,
Desposada
pelo amante do céu,
Se
recolhe escura quando anoitece...
A
noite torna a vesti-la, em negro véu,
Cobrindo
a vastidão ora ensolarada
Que
agora, abatida, o lume perdeu;
O sol
gaudério pega o rumo da estrada,
Deixando
pra trás a diurna amante
– Em
lágrimas de estrelas derramada –.
Sangrado,
o amor anuncia o poente
De um
romance que fora ardente outrora,
Descendo
melancólico o horizonte.
Mas
este rubor que se vê agora,
Do amor
fora atestado no amanhecer
E
prenuncia que amanhã a aurora
Fará,
talvez, o romance renascer
Quando
o lume do sol lumiar a pampa
E à
sua pele carícias tecer,
Percorrendo
a geografia do campo,
Sussurrando
brisas ao pé do ouvido
Enquanto
aos poucos o dia se acampa.
E de
terra e céu o amor desmedido,
Que
morre e renasce a cada arrebol,
Assim,
jamais quedará em olvido,
Pois a
cada nova manhã no sul
Reacenderá
a chama do amor
Num
novo romance entre a pampa e o sol!