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A Flauta Da Vida

A Flauta Da Vida
(Adão Quevedo, Danilo Kuhn)

Sabiá não cantou mais,
Feito eu, sente tua falta,
Ficaram tristes as manhãs,
Não se ouve a sua flauta.

Até mesmo o bem-te-vi
Que encantava a tua chegada,
Voou pra longe daqui
Pra cantar noutra morada.

João-de-barro, meu vizinho,
Perdido da companheira,
Deixou o rancho sozinho,
Foi morar noutra porteira...

Beija-flor, por desamor,
Nunca mais fez outro ninho,
Nem foi mais de flor em flor,
Ferido a ponta de espinho.

Os quero-queros, posteiros,
De tanto te querer bem,
Foram pra outros potreiros
Pra não querer mais ninguém. 

Tudo em volta entristeceu
Depois da tua partida,
O pago emudeceu...
Calou-se o canto da vida!


A Voz da América do Sul

A Voz da América do Sul
(Danilo Kuhn)

Calou-se a voz da América do Sul,
Levou com ela a dor do nosso adeus.
Nas asas de um condor, no céu azul,
Sua alma, clara, foi morar com Deus.

Nos ranchos, toscos, se acenderam velas
E de silêncio revestiu-se a pampa.
O aço perde o fio, se destempera,
Mas a palavra, é espada de quem canta.

A América ouvia a sua voz,
Como se fosse o som de nossas almas.
Um rio não morre ao encontrar a foz,
São só suas águas que se alargam, calmas.

Eu só peço a Deus, em nome dos pobres,
Nós somos filhos do mesmo abandono.
A terra abriga humildes casebres
E nos casebres, se abrigam os sonhos.

Em cada verga, em cada semente,
Na esperança, cega, do semeador,
Em cada sanga, dormindo silente...
Tu viverás, nos aguapés em flor.

A América ouvia a sua voz,
Como se fosse o som de nossas almas.
Um rio não morre ao encontrar a foz,
São só suas águas que se alargam, calmas.