Romance Em Estiagem
(Danilo Kuhn)
A vida, cá na campanha,
Andava meio sisuda.
Coração feito cacimba
Esperando água da chuva.
Um dia encilhei o pingo
Que restara desta seca
E me fui bebendo estrada
Entre nuvens de poeira.
Perdido, entre a paisagem,
Um par de olhos castanhos...
Chuvarada na campanha!
– Foi-se embora a estiagem –.
Na porteira da fazenda
O meu peito descobriu
Que o olhar daquela prenda
Era de inundar estio.
Coração foi na corrente
Das corredeiras do rio...
O amor se fez enchente
Neste peito tão vazio.
No entanto, tamanho encanto
Num instante se desfez
E o rio tornou-se pranto...
– De tristeza, me afoguei –.
A prenda de olhos castanhos
Não me deu seu coração
E eu, aos poucos, fui secando...
– Vi meus olhos rasos d´água –.
Me fui voltando “pras casa”,
A galope, no meu pingo
Que o sol forte da campanha
Já levou em seu estio...
Inda lembro da fazenda,
Das corredeiras do rio
E do olhar daquela prenda
Que era de inundar estio.
Hoje vago nas paragens
Remoendo a solidão
De um romance em estiagem
Que secou meu coração.
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