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Mostrando postagens com marcador Walther Morais. Mostrar todas as postagens
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Fazendo Cerca

Fazendo Cerca
(Binho Pires, Érlon Péricles)

Corta taquara pra alinhar a cerca
Que não tem perca essa porfia
Moceia as trama, fura os palanques
Até de tarde atemo as guia...

Vou cavoucando na tabatinga
Essa restinga “ta” me judiando...
Lajedo brabo, fundão de passo
E eu vou no braço me sustentando...

A maderama toda de lei
Classifiquei na moda “véia”
Só puro cerne que eu vou socando
E vai ficando que é uma “tetéia”

Vamo cortando cerro e canhada
Pouca risada, muita labuta
De noitezinha me vou pra vila
E deixo os pilas lá no *“chicuta”.

Cava que cava, soca que soca,
Fura que fura, bota que bota,
Que nem tatu, abrindo toca,
Fazendo cerca na bossoroca.

Estronca forte, mestre de angico
Firma o rabicho e vai tenteando
Mordente e gancho, braço e corrente
Ringindo os dentes vamo estirando

São cinco liso e depois o “farpa”
Que dão as cartas nesse tirão
Cerca gaúcha, campo e rodeio
De dar costeio até em lebrão

É timbaúva, rincão do ipê
Oigaletê, taquarembó,
É a bossoroca velha tronqueira
Bem missioneira como ela só.

*salão de baile tradicional nos pagos da Bossoroca

Alma De Palanque

Alma De Palanque
(Thunao Pereira, Walther Morais)

Na estância das casuarinas
Eu fiz minha fama de mau
Por deixar os aporreados
Salinos de tanto pau.
Sou domador e me gusta
Montar de em pelo ou no arreio
Pois quando salto pro lombo
Nem com promessa eu me apeio.

Meus amuletos campeiros
É que me dão proteção
Um par de espora de aço
E um mango firme na mão

Fui criado nesta lida
Que hoje me dá o sustento
Não é de agora que eu monto
Já faz um lote de tempo.
Vivo grudado no lombo
Desses veiacos malinos
E é num pulo de potro
Que eu traço o próprio destino.

Se um louco salta berrando
Cravo a espora e não me espanto
E o mango bate cruzado
Como quem benze quebranto.
Tenho a alma de palanque
E o coração que é maneia
Por isso essa afinidade
Com bicho que corcoveia.

Coisas Do Mundo De Peão

Coisas Do Mundo De Peão
(João Sampaio,Walther Morais)

Tem tanta coisa parceiro neste meu mundo de peão
Que alem de serviço e lida vira farra e diversão
Gosto de bicho maleva que veiaqueia e dispara
Só pra sai abrindo o peito dando de pala na cara
Também me agrada um bagual desses que só por cacoete
Se embodoca e sai bufando pras esporas do ginete

Gosto do mundo de peão na pampa verde amarela
De corta um matambre gordo um granito uma costela
E golpear um trago de canha pra limpar o perau da goela

Acho lindo um touro brabo num dia de campereada
Sair na cola do pingo me errando coice e corneada
Gosto de muntar num potro depois duns trago de vinho
C’oa cachorrada da estância pegando só no focinho
Só por pachola me agrada atira um pealo de patrão
Pro maula troca de ponta guasqueando o lombo no chão

Também me orgulho parceiro do oficio de domador
E de ir ver a china que eu quero num bagual escarceador
Gosto de passear num mouro de laço atado nos tentos
E amanhaecer me guasqueando num fandango pacholento
Só voe mala meus arreios e deixa meu mundo de peão
Quando o patrão do universo me enfiar o laço nas mãos

Milonga Abaixo De Mau Tempo

Milonga Abaixo De Mau Tempo
(Mauro Moraes)

Coisa esquisita a gadaria toda,
Penando a dor do mango com o focinho n'água
O campo alagado nos obriga a reza,
No ofício de quem leva, pra enlutar as mágoas...

O olhar triste do gado atravessando o rio,
A baba dos cansados afogando a volta,
A manhã de quem berra num capão de mato,
E o brado de quem cerca repontando a tropa...

Agarre amigo o laço,
Enquanto o boi tá vivo,
A enchente anda danada molestando o pasto,
Ao passo que descampa a pampa dos "mirréis"
E a bóia que se come, retrucando o tempo
Aparta no rodeio a solidão local
Pealando mal e mal o que a razão quiser...

Amada!
Me deu saudade,
Me fala que a égua tá prenha,
Que o porco tá gordo,
Que o baio anda solto,
E que toda a cuscada lá em casa comeu!

Coisa mais sem sorte este peste medonha,
Curando os mais bichados deu febre no gado,
Não fosse a chuvarada se metendo a besta,
Traria mil cabeças com a benção do pago...

Dei falta da santinha limpando os peçuelos,
E do terço de tento nas preces sinuelas,
Logo em seguidinha é semana santa,
Vou cego pra barranca e só depois vou vê-la!

Agarre amigo o laço,
Enquanto o boi tá vivo,
A enchente anda danada molestando o pasto,
Ao passo que descampa a pampa dos "mirréis"
E a bóia que se come, retrucando o tempo
Aparta no rodeio a solidão local
Pealando mal e mal o que a razão quiser...

Amada!
Me deu saudade,
Me fala que a égua tá prenha,
Que o porco tá gordo,
Que o baio anda solto,
E que toda a cuscada lá em casa comeu!

Amada!



Aos Domingos

Aos Domingos
(Gaspar Machado, Walther Morais)

Domingo de manhãzinha
Sento os recaus no gateado
De crina e casco aparado
O mundo é tudo o que eu quero
Meu pala branco de seda
Bota negra reluzenta
E uma bombacha cinzenta
De tudo que mais venero

Eu boto o pé no estribo
E o flete campeia a volta
Já com luzeiro de escolta
Unido à luz da boiadeira
E o brilho da feiticeira
Se corta no campo afora
Com a serenata da espora
Pra uma canção estradeira

Esta vida a gente leva
Nos encontros do cavalo
Pechando e botando pealo
Coisas que faço me rindo
Do bagual eu faço um pingo
Pra um andejar de aragano
Que não tem dias do ano
Mais belos do que os domingos

Pelo caminho se vai
Ao potreiro dos olhos dela
Sogueiros de sentinela
No lombo das sesmarias
Clareando as barras do dia
Encilho com a liberdade
E cabresteio a saudade
Pra tironear judiaria

Ao se cantar uma flor
O sentimento é dobrado
Troca orelha o meu gateado
Que inté nem toca no pasto
E o vocabulário gasto
Ensaia o que é de dizer
As coisas do bem querer
Pra garupa do meu basto.