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Mostrando postagens com marcador Pirisca Grecco. Mostrar todas as postagens
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Pala da Noite


Pala da Noite
(Carlos Omar Villela Gomes, Érlon Péricles)

A lua é um buraco de bala no pala da noite
Oigalête mas que mira do atirador
Ou tava atirando pra cima por rabo de saia
Ou tava fazendo tocaia pra Nosso Senhor

A bala furou este pala, presente do dia
Um pala de seda e poesia que a noite vestiu
E a noite coçada de bala ergueu Três Marias
Tentando bolear de vereda a quem lhe agrediu

Já tava armada a peleia bem lá nas alturas
A noite de pala furado de raiva tremia
Quem foi o bandido sem alma que só por maldade
Fez mira no pala da noite regalo do dia?

Mas Deus já cansado de guerra pediu uma trégua
Pra noite que tava tão cega de raiva e de frio
A noite largou Três Marias erguendo Cruzeiro
E o céu se amansou novamente no sul do Brasil

Num fundo de campo tranquilo Blau Nunes pitava
Foi só um balaço por farra, ninguém se pisou
E a noite ainda hoje bombeia querendo vingança
Blau Nunes é lenda e a história Simões não contou

El Bocal


El Bocal
(Rogério Ávila, Leonel Gomez, Juliano Gomes)

No hay mirada mas linda
Que la de un criollo bagual
Con su crinera enredada
Esperando rienda y bocal...

En el palenque, clavado,
Frente a la estancia, el zorzal;
Cuantas golpeadas de potro
Que allí se ataran el bocal...

Y así salían en corcovos
Hasta el desarrollo del potro,
Y entonces el bocal, colgadito
En la ramada esperaba por otro...

Cuando los dias se iban
Y el trabajo lo hacía redomón;
El domero, domingueando salía
Al pueblito, de su gaucho rincón...

Al bocal, que hace del potro
Tchê caballo del hombre campero;
En esos versos, un regalo sencillo
Que le entrega de alma, un domero...

Carreira de Campo


Carreira de Campo
(Gujo Teixeira, Érlon Péricles, Ângelo Franco, Pirisca Grecco)

Era uma tarde qualquer
Volta pras casas da lida
Ia um gateado e um tordilho
Cruzando a várzea estendida.

Ia um índio no gateado
No tordilho outro campeiro
Um de pala a meia espalda
O outro de lenço e sombreiro.

Se largaram em paleteio
Que um olhar firma a carreira
desde as duas corticeiras
Até o cruzar da porteira.

É a rédea frouxa na mão
Contra uma espora segura
Quem sabe é por pataquada,
Por honra ou por rapadura.

Só sei que bem pareciam
dois tauras em disparada
uma carga de combate
Mas era só carreirada...

Hace tiempo no se via 
Uma carreira tão parelha
Era fucinho a fucinho 
Era orelha com orelha...

A várzea ficou pequena 
Pra mostrar como se faz
Uma carreira de campo 
Saltando barro pra trás.

O gateado mais ligeiro 
Que um tirambaço de bala
Cruzou o vão da porteira
Com o índio abanando o pala.

No tordilho outro balaço
Cruzou ligeiro num facho
Chapéu tapeado na aba
Mas firme no barbicacho
Quem perdeu e quem ganhou
Cruzaram assim num repente
Um diz que cruzou primeiro
O outro que ia na frente.

Na Palma Da Mão (Enquanto Mateio)


Na Palma Da Mão (Enquanto Mateio)
(Rodrigo Duarte, Paulo Fleck, Mateus Neves Da Fontoura, Maurício Barcellos)

O mundo gira enquanto mateio
Se reinventa a cada instante
É minha hora de parar rodeio
O meu olhar se faz distante

Além da fumaça que vela meus olhos e o meu pensamento
Além das porteiras das tantas fronteiras dos meus sentimentos
Além das palavras não ditas de toda poesia
Além das verdades cansadas do meu dia a dia

O mundo gira enquanto mateio
Agora vejo o que me cerca
A vida é mais do que um simples rodeio
Nessas paisagens descobertas

É o abuso que move meus passos em busca de novos caminhos
É o jeito de ser por inteiro e o meio de não ser sozinho
É o que vai além do horizonte e além do silêncio
É o mundo na palma da mão onde me reconheço

E a mão estendida, o sal, a ferida, pastores, rebanhos
É o homem perdido buscando sentido nos seus desenganos
É um tempo de espera por novas bandeiras e falsos profetas
É a gente insistente que ainda acredita, que ainda contesta

É a semente no solo e o filho no colo, o brilho no olhar
É o homem na lua, um menino de rua, as pernas pro ar
É o sopro da vida, é a bala perdida, a pedra e o tropeço
É a fuga de casa, um voo sem asas, um novo começo

É a fome que impera, a dor que desterra, o sonho na estrada
Então a esperança nos ergue e nos lança na eterna jornada

O mundo gira enquanto mateio...
O mundo gira, gira, gira, gira, gira...

Quem Eles São


Quem Eles São
(Carlos Omar Vilella Gomes, Pirisca Grecco)

Chegou em uma noite linda e bebeu luar…
Risonho,
Trazendo tantos bons amigos pra me visitar.
Amigos,
Que chegam entregando a alma que me cativou…
Amigos…
Espelhos de toda uma vida a refletir quem sou.

Vêm das ruas e canções da minha infância, vêm…
Vêm dos planos e paixões dos tempos moços, vêm;
Vem de um mundo que aceitou os meus tropeços…
Meu coração sabe quem eles são!

Seguimos,
Os passos recortando a estrada, levantando pó…
Parceiros,
Mostrando que nesta jornada não estamos sós;
Um sonho
Chegou em uma noite linda e se foi embora
Mas eles
Ficaram junto a mim sonhando pela vida a fora!

Vão, levando suas canções por outras ruas, vão…
Vão com planos e paixões rumo ao futuro, vão;
Vão… Cabelos de geada, olhar maduro…
Meu coração sabe quem eles são!”

Feito O Carreto


Feito O Carreto
(Mauro Moraes)

Meu compadre toca essa milonga nova feito negro véio
Meu compadre trova que o dedo de prosa anda mixuruca
Meu compadre abraços tocando pro gasto tá feito o carreto
Não tô nem aí não sou de me exibir eu sou de Uruguaiana

Meu compadre volta que a Santana velha ainda te espera
Meu compadre estive em Passo De Los Libres chibiando um pouco
E me fiz de louco pra juntar uns troco e passar na aduana
Mortadela, queijo, azeite, papa doce e uns sacos de farinha

Meu compadre eu posso milongueando uns troços te alcançar um mate
Nosso buenas tardes teve o mesmo pátio a mesma cidade
Somos companheiros, somos milongueiros, somos regionais
Somos que nem peste da fronteira oeste como nossos pais

E não há mal que sempre dure
E não há bem que nunca acabe

Ah! seu tocador de rádio
Eu queria tanto mandar esse recado
Para o meu compadre
Que está aquerenciado
Na alma do meu violão

Estrelas Castanhas

Estrelas Castanhas
(Pirisca Grecco, Silvio Genro)

Sei como se trança um laço,
E sei temperar o aço pra uma faca de respeito...
Sei como se faz um mate,
E também dar o arremate num nó de lenço bem feito.
Sei a linguagem da lua
E cada mensagem sua, lendo o livro do luar...
- Só não sei prever as manhas
Do par de estrelas castanhas que trazes no teu olhar!

Sei onde meto o cavalo,
E quando arrisco um pealo tenho confiança no braço!
Sei de nuvens e de ventos,
E sei o melhor momento para cada coisa que eu faço.
Sei a lida da campanha,
E quando um potro se assanha, eu sei como lhe amansar...
- Só não sei domar as manhas
Do par de estrelas castanhas que trazes no teu olhar!

Sei bem mais do que ninguém
As baldas que a tropa tem e também os seus caprichos.
Sei do boi pelo mugido,
Pois afinei meus sentidos ouvindo o berro dos bichos.
Sei de reza e cruz de sal
Pra se amansar temporal e a tempestade passar...
- Só não sei benzer as manhas
Do par de estrelas castanhas que trazes no teu olhar!

Sei de cor o meu caminho
E aprendi a andar sozinho como quem sabe o que faz...
Sei enganar a saudade
Pra nunca sentir vontade, nem ganas de olhar pra trás.
Sei escapar de emboscadas,
E nem mesmo alma penada consegue me amedrontar...
- Só não sei fugir das manhas
Do par de estrelas castanhas que trazes no teu olhar!

Intérprete: Pirisca Grecco


Chora Gaita Véia

Chora Gaita Véia
(Mauro Moraes)

Se a mim me tocar pelar o chibo
D’uma gaita veiaca gasguita de fole
Comigo não tem de tronqueira
Atropela em mangueira, sampando de lote...

Eu trago ao tranco a mirada
D’uma sombra estirada e um romance a capricho
Sou tipo flor de gaucho,
Loco de macanudo, criado em bochincho
Comigo não tem de floreio
E “quarquer” negaceio tem gaita e cambicho

Eu trago uma escrita charrua
Numa rastra pampa chairada em refrega
Um baita estadão de fachada
Com a égua encilhada pateando macega
A alma atada à cordeona
Campeando as bocona, degavarzito nas pedras...

Chora gaita véia
- Bufa e prende o grito
Contra falta envido!
- Contra falta o resto...
E o bailongo se estende deixando de lambuja
As alpargata barbuda e um coração desdomado
D’uma morena cor de cuia galponeando a lo largo!

Do Japejú ao Toro Passo, no corredor de um gaitaço,
A indiada mete o cavalo num compassão de campanha...
Cheio das “balda”, das “manha”, não “temo” perna ensaboada
Nem “refuguemo” bolada, nós “semo” de Uruguaiana!

Moço, Irmão, Companheiro E Paisano


Moço, Irmão, Companheiro E Paisano
(Luiz de Martino Coronel, Neto Fagundes)

Moço,
Se tenho sede
Não fico olhando as nuvens a espera da chuva.
Cavo um poço e bebo a água nas mãos.

Irmão,
Se tenho fome
Não fico a rondar o celeiro
Vou à luta, dou mãos ao arado
E me alimento dos frutos que nascem do chão.

Companheiro,
Se tenho protesto
Não esmoreço
Digo logo o que quero, no palco, na praça
Para ser verdadeiro.

Paisano,
Se amo,
Não me retiro ao suspiro.
Abro os meus braços, afago, morro e proclamo
A beleza de quem amo.

Eu bebo a água nas mãos
Como os frutos que planto
Digo o que penso,
Digo o que penso
E a quem amo, amo tanto

Outra Campereada

Outra Campereada
(Pirisca Grecco, Túlio Urach)

Manhã de junho no interior do estado
Cambona fria e nem sinal das brasas
O minuano que rengueia tudo
O cusco e até o pé direito da casa.

Saltou cedito como de costume
Lavou as mãos e a cara já judiada
E requentou para seu desayuno
Garrão do chibo da noite passada

Botou confiança na cincha do mouro
Levou o laço pra beber sereno
Requisitou a proteção divina
E contemplou seu mundo tão pequeno.

Sua vida inteira foi assim
Achando lindo, dando risada

Como quem colhe uma flor no inverno
Se foi com Deus pra outra campereada.

De Saltar Calando

De Saltar Calando
(Fernando Soares, Juliano Gomes)

É de vereda parceiro, que o golpe firma na trança
Se o braço busca a distância, no estender da canhada
Uma terneira abichada, que achata a cola por conta
Ritual gaúcho na estampa, desta querência sagrada.

É de vereda parceiro,com a bota sempre estrivada
Que aparto um boi na invernada, pra garantir o sustento
Chapéu tapeado com o vento, num barbicacho apertado
E um peleguito virado, nesse “fundão mormacento”

Salta calando parceiro, salta calando!!
Faz um bichinho e afirma a perna no más
Soca as esporas e “afrouxa” a boca do pingo
Que a zebuada, sobra pata por “demás”.

E de vereda parceiro, “vamo” rangindo a carona
Num resmungar da chorona, n'alguma folga domingueira
E a sina por balconeira, faz esbarrar na cancela
Pra tira a poeira da goela, num bolicho de fronteira.

E de vereda parceiro, que a noite vem espiando
Junto aos buracos do rancho, de uma peleia passada
E o vício ronda a indiada, num destorcido com canha
Piscando um olho na sanha e metendo sorte clavada

O Arco e a Flecha

O Arco e a Flecha  
(Carlos Omar Villela Gomes, Piero Ereno)

Poesia é flecha, a alma é um arco...

Futuro é um alvo que a alma tem;
Estamos todos no mesmo barco...
Se ele naufraga vamos também!

Poesia é flecha que se projeta

Pelas nações, que de fome choram;
A alma é um arco nas mãos do poeta
Caçando as feras que nos devoram!

A flecha corta os confins do mundo

Sangrando as chagas que a fome fez...
Povos inteiros já moribundos,
Matando um sonho de cada vez!

O arco fica, mas manda a flecha

E a flecha voa com altivez;
Chora a miséria e, em nome dela,
Transpassa a carne da insensatez!

O arco dita as razões da flecha

E mostra o rumo sem hesitar;
A flecha é força que a tudo pecha
Quanto é justiça cortando o ar!

São arco e flecha sempre em vigília,

Que essa miséria tem rosto e nome;
Nos calcanhares dessas matilhas 

Que se sustentam de sangue e fome!