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Mostrando postagens com marcador Dionísio Costa. Mostrar todas as postagens
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No Rio Da Vida

No Rio Da Vida
(Dionísio Costa, José Claro)

A vida é um rio carregando a gente
Caminhando sempre pra núnca voltar
No leito do tempo desliza pra o fim
Assim como as águas no rumo do mar
Quando a alegria é enchente no peito
A vida transborda de felicidade
Se vem o desprezo saímos do curso
E nos afogamos num mar de saudade

Já tive a vida como um rio calmo
Correndo silente pra o mar da paixão
Já fui correnteza carregando sonhos
Mas fiquei nas curvas da desilusão

As vezes o sonho é um convite louco
Prá um mergulho à esmo onde não dá pé
Por vezes a vida é bruta cachoeira
E as vezes marasmo lá dos aguapés
Quando a incerteza ao fundo nos leva
E a vida é turva e sem horizontes
Buscando as margens de um raso tranquilo
Olhamos a vida de cima da ponte

Proseando Com Meu Cavalo

Proseando Com Meu Cavalo
(Pedro Neves, Dionísio Costa)

Vem cá meu pingo, ‘bamo tê’ uma prósa boa
Tu anda à tôa, me tratando aos 'manotáço'
Não facilita, nem exija muito mimo
Porque eu te estimo e não quero te ‘passá’ o laço
Bicho rebelde, não me assusta nem um pouco
Matungo ‘lôco’, tu pode ‘virá’ as ‘cangáia’
Qualquer pulinho, não vai me tirar do sério
Que eu sou gaudério e vou campear rabo de saia

Não esperava que fosse me dar trabalho
Pois tô grisalho e tu também não é mais pôtro
Andamos juntos dividindo o mesmo arreio
E é muito feio um amigo ‘derrubá’ o outro

Se tu bem sabe que eu sou teu melhor amigo
Conto contigo pra me levar pra os namôros
Que coisa feia tu bancar o caborteiro
Meu companheiro me fazendo desafôro
Por isso amigo escuta bem o que te falo
Tu é cavalo e me ajudar é tua sína
Se na verdade somos parceiros de estrada
Não custa nada, tu ‘engarupá’ alguma china

Tu me desculpe te 'passá' este baita píto
Mas acredito que meu cavalo me entende
Me obedecendo tu vai correr perigo
Que um bom amigo não se empresta e nem se vende
O nosso trato vale mais do que um contrato
Não te maltrato e tu não me deixa de à pé
De tardezinha te levo pra 'vê' uma eguáda
De madrugada me leva pra 'vê' as 'muié'

Romance De Baile

Romance De Baile
(Dionísio Costa, Amaro Peres)

Alço a perna num final de tarde
Pra ‘matá’ a saudade de um baile campeiro
Os arreios no maior capricho
Atrás de um cambicho me largo faceiro
Logo a noite me péga na estrada
Co’a alma emalada por uma esperança
De alegrar esta vida custósa
Ajeitando uma prósa no meio da dança
Meu cavalo num tranco sereno
Pingo bueno da minha confiança
Me carrega ao rumo da cordeona
Pra rever a dona da minha lembrança
Já me vejo à rodar no galpão
Coração à pular junto dela
Cabresteando pensamentos loucos
Uma noite é pouco pra bailar com ela

Pra quem leva uma vida solito
Quem sabe um ranchito pra viver à dois
Mas só levo na minha saudade
Um romance de baile pra lembrar depois

A vanera convida que eu dance
E eu neste romance me sinto um monarca
Deixo atado mais algum assunto
Uma propósta junto lá na outra marca
Quando o sol méte a cara na quincha
Meu zaino relincha chamando por mim
Vem o dia, no mundo se arrancha
Meu sonho desmancha e é o baile no fim
Um asceno e um sorriso lindo
Vou saíndo sonhando acordado
Dando rédeas à essa emoção
No fogo da paixão nem me sinto cansado
Me despéço com o peito em brasa
Vou pra casa com o beijo dela
Cabresteando pensamentos loucos
Uma vida é pouco pra viver com ela

Coração Gaúcho

Coração Gaúcho
(Dionísio Costa)

Um mês inteiro de luta, nesta lida aqui de fora
Acho que já tá na hora, de sair do cafundó
Hoje me aparto dos bichos, de laço, mango e maneia
Porque a vida é uma peleia, lidando e mateando só
Enquanto o sol vai entrando e na garupa leva o dia
Uma estampa de alegria, do meu xucrísmo se adona
Pego o rumo de um fandango, pra enfrenar a noite inteira
Uma tropa de vanera, que se escapou da cordeona

O meu coração gaúcho, tá batendo com saudade
Da velha hospitalidade, da nossa gente campeira
Por isso minh'alma xúcra, campeia gaita em galpão
Pra cadenciá o coração, num corcoveo de vanera

Sou taura que ganha a vida lidando co'a matungada
Não me sobra quase nada de tempo pra fazer graça
Por isso de vez em quando, me sumo campeando dança
Pra me apartar na festança, da solidão que me abraça
A china que é dançadeira, vai ver que aínda tô vivo
Tudo que é incomodativo, ficou pra segunda feira
Hoje eu nem quero notícia, da lida que me judia
Tô por conta da alegria, de gaita, china e vanera

Louco Por Vanera

Louco Por Vanera
(Dionísio Costa, Rodrigo Lucena)

Quando me preparo pra 'mexê' os 'cambito'
Me embalo solito bombeando o poente
Esperando o baile, minha alma campeira
Farêja a vanera e se manda na frente
Aqui na campanha é sempre uma luta
Nessa vida bruta tem de tudo um pouco
Mas se dá uma vaza me vou pra zoeira
E se tem vanera esparramo os 'trôco'

Eu sou fandangueiro louco por vanera
E levanto poeira firme no compasso
Pois é no surungo que ajeito namôro
Sacudindo o couro no som de um gaitaço

Quando escuto as marcas que o gaiteiro espicha
A sóla comixa, coçando o garrão
Pra dançar vanera não faço figura
Aperto a cintura e me vou num trancão
Pouco me interessa papo ou cara feia
Não sou de peleia pra fazer meu nome
Eu gosto é de festa, não sou bochincheiro
Mas no meu terreiro carancho não come

A mais dançadeira, de mim já se adona
E o som da cordeona me tira do sério
Mas é só namôro, não tem casamento
Pois ajuntamento não é pra gaudério
Livre de cambicho, eu sigo troteando
Pra viver bailando pela vida inteira
Não méço distância, seja longe ou perto
Tendo baile é certo que eu tô na vanera

Visita De Saudade

Visita De Saudade
(Dionísio Costa, José Claro)

Na noite passada, meu sono não veio
E eu fiz um passeio, na minha lembrança
Do meu pai amigo, revi o semblante
Por algum instante, voltei ser criança
Senti a inocência, da vida tranqüila
Que a gente aniquila, quando bate as asas
Vi nesta saudade, meu velho mateando
Comigo proseando, na sombra da casa

Que hora sagrada, foi este momento
Pois em pensamento, lhe dei um abraço
E embora distante, do meu grande amigo
Sei que está comigo, nos versos que eu faço

Parece verdade, na força da mente
Que eu ví novamente, o velho Nelcindo
Me alcançando a cuia, com um pé no banco
De cabelos brancos e um sorriso lindo
Que coisa abençoada, que cena bonita
Foi esta visita, que eu recebia
Bem na minha frente, comigo abancado
O meu pai amado, que há tempo eu não via

O mesmo trejeito, a mesma alegria
E a fisionomia, que de mim não sai
De olhos molhados, beijei o seu rosto
E senti o gosto, do amor do pai

Ao roncar a cuia, me disse sorrindo
Meu filho vou indo, preciso voltar
Que deus te abençoe, com sorte e saúde
Só aí que eu pude, então lhe falar
Tu sabe meu velho, que o meu dia a dia
É uma correria, mas não te esqueci
Como me faz falta, a tua amizade
E que baita saudade, eu sinto de ti

Teus ensinamentos em minha memória
Faz a minha história, ter clareza e brilho
Mesmo que esta vida seja tão pequena
Já valeu a pena, só por ser teu filho

Tipo À Tôa

Tipo À Tôa
(Dionísio Costa, José Claro)

Nascí pra viver na farra onde conversa a cordeona
Dengo e chôro não me agarra, meu abraço não tem dona
Solito me determino, pra me casar tô sem préssa
E o rumo do meu destino é só pra mim que interéssa
Bruxaría não me péga, 'zóio' feio não me marca
Tudo que a sorte me néga, eu ajeito na fuzarca
Me sumo quando anoitece, 'campeá' um retôsso no pago
Só volto quando amanhece, repunando fumo e trago

Me chamam de tipo à tôa só porque eu gosto de festa
Se tem tanta coisa boa, não 'vô' 'pegá' o que não présta
(Nem ligo pra o que não présta)

Se tem barulho me chêgo, pra 'bebê' e 'fazê' fumaça
Tô virado num morcego, de noite eu ando na caça
E os 'pila' que vêm suado, vai num tapa que eu nem vejo
Chego no rancho quebrado e os 'beiço' inchado de beijo
Chinaredo e jogatina tão me rapando o bocó
Sou movido à 'cangibrina' e não caio num góle só
Carestía não me afronta, quem tem pouco, não tem nada
Pois enquanto eu pagá a conta, eu é que enfreno essa eguada

Loco Pra Dançá


Loco Pra Dançá
(Dionísio Costa, Bonitinho)
 
Um sotaque de vanera
Numa gaita bagaceira, fazendo o baile fervê
Uma china de primeira
Que se bandiô da fronteira, só me dá o que fazê
Um pandeiro bem surrado
Num trancão embatucado, pro povo dizê no pé
E a guitarra debochada
Num bailão de cola atada, tapadinho de muié

Tá formado o intrevêro
Pode avisar o gaiteiro, que hoje o bicho vai pegá
Deixe que o mundo se acabe
Porque todo mundo sabe, que eu tô loco pra dançá

Numa vontade medonha
Eu atropelo a vergonha, na cerveja bem gelada
A vanera é sala cheia
Num balanço que incendeia e assânha a mulherada
Agarrado na morena
Sei que vai valer a pena, cada pila que eu gastá
Já matei a minha sêde
Não vou escorá parede, dá licença vou dançá

Pedindo Vaza

Pedindo vaza
(Dionísio Costa, Chico Espenosse)

Por eu ter uma cifra pequena
Não me acanho pra festa e namoro
Se a saudade de baile me enfrena
Me engarupo pra chacoaiá o couro
Pra bailá não importa a distância
Quando o taura carece de afago
Muito embora o salário da estância
Seja uns troco de pouca importância
Sempre dá pra o ingresso e uns trago

Tendo gaita eu me sinto em casa
E o chinedo de pronto me nota
Sou nanico mas arrasto a asa
Me agiganto e vou pedindo vaza
Pra o bugio que eu carrego nas bota

Gosto muito de beijo e abraço
Mas também não refugo peleia
Por viver entre berro e pataço
Não me assusta quem tem cara feia
Desaforo eu destrincho na hora
Pois não sou de deixar pra depois
Desconfio de china que chora
Se dengueando da boca pra fora
E atirando a mirada pra dois

Reconheço que sou meio tosco
Mas da vida conheço o bastante
E conforme se ajeita o enrosco
Eu já sei o que vem logo adiante
É por isso que bailo e me espicho
Com a banca de rico me assanho
Me apartando do cheiro dos bicho
Eu troteio tenteando cambicho
Mesmo sendo minguado meu ganho

Sacudindo a Crina

Sacudindo a Crina
(Dionísio Costa)

Na hospitalidade de um rancho sem luxo
É onde um Gaúcho é bem mais feliz
Curtido no tempo, à poeira e fumaça
É um templo da raça, no sul do país
Ali o Rio Grande no sangue rebróta
Cadenciando as notas que vem da vanera
A cordeona arteira fazendo folia
Reponta alegria pela sala inteira

O taura se solta sacudindo a crína
E o cheiro da china no ar sarandeia
O xucrismo guapo na gaita se acampa
E a alma do pampa no surungo apeia

Quando a cordeona, sagrado instrumento
Faz um chamamento pra bailar de novo
A alma do pampa ali se retrata
Bailando resgata a grandeza de um povo
São essas noitadas de amor à querência
Pela convivência de seres iguais
Que afirmam pra o mundo o nosso civismo
E que o gauchísmo não morre jamais

Extraviado

Extraviado
(Dionísio Costa, Celso Oliveira)

Aquele que junta o resto, do consumo do povoeiro
Já foi um taura campeiro, lidando pelas estâncias
Hoje é um retrato de campo, que a evolução jogou fora
E o modernismo ignora sua real importância
A sua prosa espichada, desdenhando a vida bruta
Silencia quando escuta canções falando em cavalos
Pois recorda em cada verso, que traz o chôro pra o rosto
Quando acordava disposto, com a cantiga dos galos

Lá vai mais um extraviado, pela ilusão da cidade
Cabresteando na saudade, suas lembranças campeiras
E nessa vida de andante, de apartar papel e lata
Se confunde co’a sucata, que campeia nas lixeiras

Sonhava em voltar de novo, pra o velho pago nativo
Mas o sonho por mais vivo, não lhe garante o sustento
Lembrança não traz os cobres, o sonho nunca deu nada
Nem a fome da piazada, se ameniza com lamento
Não sabe enganar ninguém, não nasceu pra ser bandido
Pois embora desnutrido, não perdeu a honestidade
Por isso arrasta alpargata, no mormaço da avenida
E na contramão da vida, puxa um carro de saudade

Você Já Foi, Graças à Deus

Você Já Foi, Graças à Deus
(Dionísio Costa)

Eu vou deixar você, vou fazer festa
E amanhecer bebendo na gandaia
Eu vou fazer de tudo que não presta
E não vou desprezar rabo de saia
Vai ser uma semana de alegria
Que a minha vida vai ser uma farra
Que é pra festejar o bendito dia
Que enfim eu me livrei das tuas garras

Eu vou cantar, beber, me divertir
Só pra comemorar o teu adeus
Se alguém me perguntar digo à sorrir
Que você já se foi, graças à Deus

Você se apossou da minha vida
Usou e abusou, fez o que quis
Com cara de santinha foi bandida
Só me fazendo o mal foi bem feliz
Eu te dei meu amor e meu carinho
Mas te amar demais foi o meu fim
Se isso é teu amor, melhor sozinho
E eu quero a minha vida só pra mim

O Abraço Da Saudade


O Abraço Da Saudade
(Dionísio Costa)
 
Aqui no apartamento, me sinto um prisioneiro
E passo o tempo inteiro, lembrando o meu passado
Eu sou outra pessoa, desde que eu vim embora
E a saudade de outrora, muito tem me judiado
Deixei minha querência, pensando no dinheiro
Pra morar no povoeiro, vim cheio de esperanças
Meus filhos têm estudo, minha casa tem luxo
Mas eu sou um gaúcho, que vive de lembranças

Deixando a minha terra, pra viver na cidade
O abraço da saudade, me aperta todo dia
Aqui tenho de tudo, mas a vida é tapera
Porque lá fora eu era feliz e não sabia

Depois que a gente perde, que aprende a dar valor
Na vida do interior, que é muito mais sincera
Nos anseios de moço, a gente bate as asas
E o tempo não dá vaza, pra voltar ao que era
Me resta hoje em dia, reviver meu passado
Estou fraco e cansado, vencido pela idade
Já não tenho mais forças, pra enfrentar a lida
Por isso a minha vida, é somente saudade