Ritual De Campo E Milonga
(Marciano Reis, Luiz Cardoso)
A sombra grande da tarde desceu comprida mais lenta
Sobre o juncal dos açudes com suas águas barrentas
Da pobre rês desgarrada a dor escapa no berro
Sentindo fundo no quarto a marca quente do ferro
Homens arrastam esporas no entra e sai dos galpões
Cansados na desencilha pra um mate ao pé dos fogões
A palha boa pro fumo pros lábios um gole de pura
E uma guitarra en las manos onde há paixão e ternura
Então o verso se arranca na guela vindo pra fora
E a alma doce liberta meu sonho na mesma hora
De andar cantando pros outros com queixos de noite longa
Amores, pago, querência, ritual de campo e milonga
O tosador lá do povo que vem pra sapra dos pila
Envelheceu já faz tempo mas não se cansa da esquila
Um lago de prosa mansa no campo afora em distância
Interte um pouco da indiada montando os potros da estância
Mas quando chega o inverno com o frio vem o temor
E até o coração mais bruto reclama a falta de amor
É quando as coisas da vida já não se ajeitam no tranco
E uma saudade de china desquina vindo do pranto
Então o verso se arranca na guela vindo pra fora
E a alma doce liberta meu sonho na mesma hora
De andar cantando pros outros com queixos de noite longa
Amores, pago, querência, ritual de campo e milonga