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A Volta Do Tordilho Negro


A Volta Do Tordilho Negro
(Teixeirinha)

Aquele tordilho negro que há muito tempo domei
Na estância do paredão um certo dia voltei
Fui atender o chamado da moça que a flor ganhei
Pra chegada ter mais brilho eu fui no mesmo tordilho e as três da tarde cheguei

A fazenda embandeirada de muito longe avistei
Um peão pra abrir a cancela meti o tordilho e cruzei
A linda moça na porta falou pra pai escutei
Vem chegando o domador aquele que eu dei a flor e agora me apaixonei

Desci do tordilho negro e a mão da moça apertei
Num aperto carinho que ela me amava notei
Sem sentir nada por ela pedi licença e entrei
Tava ansiosa que eu chegasse e mandou que eu sentasse numa cadeira de rei

Logo veio o chimarrão e a erva boa provei
Deu-me outro sinal de amor aí me justifiquei
Não resisti dei um beijo e pra cadeira voltei
Dei-lhe a cuia com carinho apertei o seu dedinho que amava que confessei

Pedi o prazo de um ano com a linda moça casei
Na garupa do tordilho pra minha casa levei
Na estância do paredão dois presentes eu ganhei
Duas coisas que um home quer cavalo bom e mulher meu sonho realizei

A Vida Do Operário

A Vida Do Operário
(Teixeirinha)

Cinco horas da manhã alarma o despertador
Anunciando o novo dia acorda o trabalhador
Toma seu banho e café vai tomar a condução
Às sete e meia ele pega lá na sua construção
E o Brasil vai crescendo como calo da sua mão

Ao meia-dia ele pára prá segunda refeição
Sua companheira em casa cuidando da obrigação
Perto da noite ele volta do seu trabalho cansado
Está na hora do “pique” lá vai num bonde lotado
No fim da linha ele desce, compra no super-mercado

Os filinhos no terreiro de longe o pai ouve a voz
O caçulinha pergunta: trouxe um docinho prá nós
A sua esposa na porta vem beijar-lhe com alegria
Perguntar pro seu marido como ele passou o dia
Cansado janta e se deita na sua cama macia

No outro dia é o mesmo, lá vai ele sorridente
Pegado na construção levando o Brasil prá frente
Se não fosse o operário não existia grandeza
O nosso Brasil não era um gigante de riquezas
Que deus não deixe operário! Faltar pão na sua mesa.

A Ordem É Essa

A Ordem É Essa
(Teixeirinha)

Vou fazer chover na estrada prá não levantar poeira
E cantadorzinho novo vou fazer tirar carteira
Vou pegar os linguarudos que falam do seu Teixeira
Antes de negar que falam corto eles de soiteira
E vou acabar também com mulheres faladeiras
Vou por pimenta na língua prá deixar de ser fiteira
E esses bonitinhos bobo, vai levar uma pauleira
Que é prá ficar conhecendo o que é porteira de mangueira
E esses que não lêem jornal analfabetos em geral eu faço entrar no mobral
E dar um beijo legal na bandeira brasileira

Vou afirmar esses grossos mais grossos que tronqueira
Tradição não é grossura cultura não é besteira
Vou fazer homens casados esquecer moças solteiras
Casou ficou veterano pendure as suas chuteiras
A alguma mulher casada que ainda é namoradeira
Prá apagar a caloria vou prender na geladeira
E essas moças solteironas eu vou passar na peneira
E as que passar  pelo furo vai encerrar a carreira
Prá criança melhor vida mais estudo mais comida
Religião mais entendida da Senhora Aparecida que é a nossa padroeira

Vou parar os lombizomes que vira na sexta-feira
Entrar na jaula do tigre prá na calça dar goteira
Vou fazer os atrevidos respeitar a sinaleira
E caçar os documentos dessas meninas barbeiras
Malandro que não trabalha vai dar muro na pedreira
E prá mostrar que eu não sou de uma raça morredeira
Os homens da fala fina, vou jogar na pirambeira
Prá não enganar pai e mãe nem a coitada da parteira
Mulher tem que ser mulher e o homem de onde vier
Ser macho a lei requer e fazer o que puder pelas cores da bandeira

A Bravura Do Peão

A Bravura Do Peão
(Teixeirinha)

Ganhei um boi de presente
Mas com uma condição
De laçar ele sozinho
E trazer pro mangueirão
Perguntei ao capataz
Me respondeu o patrão
Este boi nunca viu corda
O seu nome é Serração
Já propus pra muita gente
Todos recusam o presente
Que eu dou de bom coração

Meu patrão se me permite
Eu aceito seu presente
Eu não sou pobre soberbo
Estou feliz de contente
O patrão mudou de cor
E me falou novamente
Encomende o seu caixão
Despeça-se dos parentes
Peça a Deus que lhe abençõe
Porque os chifres deste boi
Tem matado muita gente

Acredito meu patrão
Só eu nunca fui marcado
O meu compromisso é grande
Vou lhe contar um bocado
Tenho cinco irmãos menores
Que vivem aos meus cuidados
Minha mãe ficou viúva
Só eu tenho sustentado
Ó Senhora Aparecida
Tenho de arriscar a vida
Pra dar conta do recado

Puxei meu cavalo preto
Acostumado na lida
Me fui invernada a dentro
De ninguém fiz despedida
Olhei pro céu acenei
Ó Senhora Aparecida
Se acaso o boi me matar
Cuide a minha mãe querida
Nisso o boi me viu e veio
Deu um mugido tão feio
Senti que perdi a vida

Mas quem tem fé na Senhora
Aparecida brasileira
Levanta o laço com fé
Joga uma armada certeira
Antes que a história termine
Sua vida derradeira
O patrão vai ser meu sogro
Tem uma filha solteira
Me amou por não ser covarde
As duas horas da tarde
Prendi o boi na mangueira.

A Grande Viagem

A Grande Viagem
(Teixeirinha)

Eu comprei uma boiada zebu de Minas Gerais
Com destino a Porto Velho o sertão dos seringais
De trem até Mato Grosso depois dali não deu mais
Foi quatro peões comigo desviando os pantanais
Valentes por natureza por isto eu tinha certeza de chegar com os animais

Setenta dias de viagem homem valente é um aceio
Chapéu quebrado na testa meu pingo mascando freio
Cinto rodeado de bala pronto pra um tiroteio
Remédio contra malária de nada eu tinha receio
Miava onça no mato puxava o quarenta e quatro
Cortava a fera no meio

Um dia me deu tristeza a tropa estorou na estrada
Um companheiro rodou passou por cima a boiada
Tirei meu laço dos tentos prendi ele numa armada
Puxei do meio do gado ja não adiantou mais nada
A tropa foi reunida e o companheiro da lida
Morreu com a espinha quebrada

Na beira do igarapé enterramos o parceiro
Nossa jornada seguiu mas ficou o companheiro
Chegamos em Porto Velho vendi o gado a um fazendeiro
Pra esposa do finado entreguei todo o dinheiro
Me despedi da pionada nunca mais toquei boiada
Em homenagem ao tropeiro

A Morte Não Marca Hora

A Morte Não Marca Hora
(Teixeirinha)

Alô, alô amigos vamos ser realistas
Sabemos que a morte ela não marca hora
Aqueles que quiserem falar depois da vida
Terá que escrever antes fiz isto e canto agora

E como eu queria falar depois da morte
Então estou falando e eu já sou outrora
Dizendo adeus amigos meus fãs, meus familiares
Meu coração parou já estou indo embora

Televisões e rádios vocês estão ouvindo também
Veem minha foto em todos os jornais
Dizendo que eu morri e é pura verdade
O dono desta voz já não existe mais

Aqueles que puderem venham em meu velório
Amigos e parentes meus fãs venham também
O último adeus eu quero de vocês
Será o maior presente que eu levo pro além

Será a última noite que eu passo com vocês
Deitado em minha caixa junto aos que eu quero bem
Não é preciso choro sorriam para mim
Respondo em meu silêncio depois o padre vem

Encomendar meu corpo prá Deus lá no infinito
Depois peguem nas alças carreguem o meu caixão
Me leve por favor prá última morada
Cantando a minha música de gaita e violão

 “Quero que as duplas cantem em dueto chorem os aís
Quero um bom declamador se não é pedir demais
Quero dois bom trovadores em dez minutos de rima
Enquanto o povo me atira todas as flores por cima
Não ponham-me na parede quero túmulo sobre o chão
Meu busto de bronze em cima abraçado ao violão
O busto será mais tarde fazer a família mande
Marque o lugar que descança o cantador do Rio Grande”

Aqui fica meu corpo minha alma vai pro céu
Pagar os meus pecados se eu fui pecador
Se eu puder voltar espiritualmente
Quero fazer o bem ao povo sofredor

Aonde houver crianças, cuidando-as estarei
Curando as enfermas, amenizando a dor
As que tiverem fome arranjarei o pão
Me ajude a fazer isto meu Cristo Salvador

Cantores e cantoras também vou proteger
Cantar foi o que eu fiz quando na terra andei
Chame pelo meu nome quem precisar de mim
Se Deus me der licença contigo eu estarei.




colaboração do amigo Glenio
gracias pelo costado

Porto Lucena

Porto Lucena
(Teixeirinha)

Desceu o rio Uruguai uma chalana a motor
Partiu de Porto Lucena carregando o meu amor

Chalana que vai sumindo deixando Porto Lucena
Levando a bordo pra sempre a mais formosa morena

Chalana fui o culpado, um dia lhe fiz traição
O motivo da partida foi a minha ingratidão

Eu sei que ela vai chorando, chorando ficou quem erra
Meu amor partiu por água e eu também parti por terra

Pelas curvas da estrada meu pranto dos olhos cai
De mágoa ela também chora descendo o rio Uruguai

A maré bate na praia a poeira bate em mim
Por ter errado com ela minha tristeza é sem fim

Se um dia encontrar com ela e ela de mim tiver pena
Me caso e não traio mais e volto pra Porto Lucena

Ave Maria Do Gaúcho

Ave Maria Do Gaúcho
(Teixeirinha)

Ave Maria do Gaúcho quando ele sai campo a fora
Também reza um padre-nosso pede pra nossa senhora
Pra livrar raio e trovoada temporal vem sem demora
A chinoca lá no rancho também reza nesta hora
Ele apressa sua tropa era boi vamos embora

“Virgem Santa ouve as preces que ele rezou com fervor
O temporal já se espalha e o céu já muda de cor
Ele tira o seu chapéu olha o céu do redentor
Obrigado Virgem Santa
Obrigado meu senhor
Posso voltar pro meu rancho ver a china meu amor”

Na planície ou na coxilha lá vai um Gaúcho andando
Muitas vezes numa restinga tem uma cobra esperando
No estouro de uma tropa ou um boi brabo avançando
Na rodada de um cavalo ou um furacão roncando
Pra livrar destes perigos Ave Maria vai rezando: era boi!

Primeira prenda do céu Santa Virgem imaculada
Protege o Gaúcho andando na coxilha ou na canhada
E assim ele prossegue chegar ao fim da jornada
Entra no rancho cantando com a bolsa recheada
Para agradecer a virgem reza junto a sua amada

Ave Maria, Ave Maria abençoada.

Tordilho Negro

Tordilho Negro
(Teixeirinha)

Correu notícias que um gaúcho
Lá estância do paredão
Tinha um cavalo tordilho negro
Foi mal domado ficou redomão

Este gaúcho dono do pingo
Desafiava qualquer peão
Dava o tordilho negro de presente
Prá quem montasse sem cair no chão

Eu fui criado na vida de campo
Não acredito em assombração
Fui na estância topar o desafio
Correu boato na população

Foi num domingo clareava o dia
Puxei o pingo e o povo reuniu
Joguei os trastes no lombo do taura
Murchou a orelha teve um arrepiu

Botei a ponta da bota no estribo
Alguns gaiatos por perto sorriu
Ainda disse comigo eram oito
Que boleou a perna montou e caiu

Saltei do lombo e gritei por povo
Este será o último desafio
Tordilho negro berrava na espora
Por vinte horas ninguém mais nos viu

Mais de uma légua o pingo corcoviou
Manchou de sangue a espora prateada
Amanheceu o povo pelo campo
Procurava um morto pela invernada

Compraram vela fizeram um caixão
A minha alma estava encomendada
A meia noite mais de mil pessoas
Desistiu da busca desacorçoada

Daqui a pouco ouviram um tropel
Olharam o campo noite enluarada
Eu vinha vindo no tordilho negro
Feliz saboreando a marcha troteada

Boleei a perna na frente do povo
Deixei as rédeas arrastar no capim
Lavado em suor o tordilho negro
Ficou pastando em volta de mim

Tinha uma prenda no meio do povo
Muito gaúcha e eu falei assim
Venha provar a marcha do tordilho
Faça o favor e monte de selim

Andou no pingo mais de meia hora
Dei-lhe uma rosa lá do seu jardim
Levei prá casa o meu tordilho negro
Mais uma história quem chega no fim

Querência Amada

Querência Amada
(Teixeirinha)

Quem quiser saber quem sou
Olha para o céu azul
E grita junto comigo
Viva o Rio Grande do Sul!
O lenço me identifica
Qual a minha procedência
Na província de São Pedro
Padroeiro da querência

Oh! Meu Rio Grande
De encantos mil
Disposto a tudo
Pelo Brasil
Querência amada dos parrerais
Da uva vem o vinho
Do povo vem o carinho
Bondade nunca é demais

Berço de Flores da Cunha
E de Borges de Medeiros
Terra de Getúlio Vargas
Presidente brasileiro

Eu sou da mesma vertente
Que Deus saúde me mande
Que eu possa ver muitos anos
O céu azul do Rio Grande

Te quero tanto
Torrão Gaúcho
Morrer por ti
Me dou ao luxo
Querência amada
Planície e serra
Dos braços que me puxa
Da linda mulher Gaúcha
Beleza da minha terra

Meu coração é pequeno
Porque Deus me fez assim
O Rio Grande é bem maior
Mas cabe dentro de mim

Sou da geração mais nova
Poeta bem macho e guapo
Nas minhas veias escorre
O sangue herói de Farrapo

Deus é Gaúcho
De espora e mango
Foi maragato ou foi chimango
Querência amada
Meu céu de anil
Este Rio Grande gigante
Mais uma estrela brilhante
Na bandeira do Brasil