Quando os Verões Trazem
Secas
(Xuxu Nunes, Dilamar Costenaro)
O sol estridente tremendo o horizonte,
E longe bem longe uma nuvem solita,
Só traz a certeza que a chuva demora,
E na angústia da seca a alma se agita.
A terra sedenta secou as cacimbas,
O berro do gado campeia uma aguada,
No pasto minguado, do campo já raso,
E a sede se agranda na tarde abafada.
O campo cinzento perdendo seu pelo,
A vertente cansada dos olhos da gente,
Aumentaram as ânsias na falta da chuva,
E acendeu-se uma vela na prece indigente.
Nesses verões em que o cinza se deslumbra,
E a sequidão traz prenúncios de tristeza,
Somente a chuva pra curar as cicatrizes,
E trazer vida às cores da natureza.
O dia se achega no lombo da aurora,
E o norte aflora ponteando aguaceiro,
Quem sabe no céu ouviu-se uma prece,
Trançada nos tentos da fé dum campeiro,
Trovejo e “relâmpo” riscando o horizonte,
E o negro do poncho cobriu a invernada,
As águas saciam a sede dos campos,
Verdejando o pasto, coxilha e canhada.
A alma se acalma ao cheiro da terra,
E um ar de tapera rodeia o galpão,
A paz se estende aquietando à tarde,
E a seca se acaba em mais um verão.