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Mostrando postagens com marcador Miguel Marques. Mostrar todas as postagens
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Clave De Lua


Clave De Lua
(Nilo Bairros de Brum, Miguel Marques)

Enquanto a prata luzia entre os ramos da figueira
Lentamente fui bordando esta milonga campeira
Intercalando silêncios com acordes naturais
Dei cancha goela da noite e as vozes dos mananciais

Milonga da noite milonga da lua
Cantar de fronteira compasso charrua
Por mais que te apontem lugares comuns
Jamais te enjeito de jeito nenhum

Temendo assustar os grilos evitei as dissonâncias
Pois em derradeira estância queria seu contra canto
E a noite já bem madura se fez regente xirua
Notando em clave de lua escreveu a partitura

Pressentindo que a noite de paixão se consumia
Um galo madrugador chamou a barra do dia
Quedei-me então em silêncio tal como fez a guitarra
Fui cevar um mate novo ouvindo o som das cigarras

Manhãs

Manhãs
(Nenito Sarturi, Miguel Marques)

Um sabiá no seu galho
Uma gota de orvalho
Um gritar de tahã
Que me importa o sereno
Se meu mundo é pequeno
Tenho a terna manhã.

Tenho o coice do arado
O mugido do gado
O quero-quero gritão
Que me importa o suor
Quero um mundo melhor
E na mesa mais pão.

Tenho um raio de sol
Tenho um riso guri
Não me falta mais nada
Nesta calma alvorada
Para andar por aí.

Se eu não tenho mais tino
Se meu sonho é menino
Que me importa afinal
Que me importa este choro
Se me resta o consolo
De um clarão matinal.

Se as manhãs do meu tempo
Já não têm mais alento
Vou aguentando o tirão
Vou curando as feridas
Das manhãs desta vida
Que rebrotam do chão.

Tenho um raio de sol
Tenho um riso guri
Não me falta mais nada
Nesta calma alvorada
Para andar por aí.

Não me falta mais nada
Nesta calma alvorada
Para andar por aí.

Conterrâneos

Conterrâneos
(João Ari Ferreira, Sabani Felipe de Souza)

Depois de ausente tanto tempo longe
Vou te rever minha querência antiga
Saudade grande me apertando o passo
Pra trocar abraços com essa gente amiga

Quando repiso teu torrão vermelho
Cortando rumo entre ervais e sojas
Me volta imagens dos avós de ontem
Esteios firmes da palmeira nova

Da erva buena carreteada longe
Do gado alçado pelas sesmarias
Criou raízes lá de Linha Velha
Pra Santo Antônio apadrinhar um dia

Ficou no pátio da infância humilde
Uma sombra eterna para os Guaranis
Por que a alma de quem foi embora
Naquela hora se plantou aqui

As matarias de ipês e grapias
As araucárias sempre vigilantes
Atrás ficaram no horizonte vasto
E o tempo largo os tornou distantes

Vozes e roncos prenunciando safras
E o pulsar de um só, e o ritmão do fundo
Sinfonia agrária que o progresso mescla
Ao som das águas nos lajeados rubros

Guardei comigo cada imagem tua
O azul das gralhas e o verde dos galhos
A seiva do mate o fio do biscaio
E as águas dos olhos pra volta ao borralho

Ficou no pátio da infância humilde
Uma sombra eterna para os Guaranis
Por que a alma de quem foi embora
Naquela hora se plantou aqui

Boeira

Boeira
(Nenito Sarturi, Miguel Marques)

Quando a noite abre a cancela
Do invernadão do infinito
Surge a luz dos olhos dela
Pra quem vagueia solito

Ponteando a noite campeira
Na tropa do firmamento
Fiz uma estrela boeira
Parceira do meu lamento

Esta estrela solitária
Guiei luzeiros sem fim
É uma frincha imaginária
Clareando o mundo pra mim

Só tu boeira candente
Quente e ansiosa de abraços
Essa amante permanente
Guiando sempre meus passos

Engarupada de estrelas
A noite pinta nuances
Soprando o lume das velas
E o braseiro dos romances

Há um recuerdo em cada canto
Deste rancho abandonado
A saudade é um acalanto
Quinchando o peito cansado

O capim de Santa Fé
Aos temporais sucumbiu
Deixando sonhos no tempo
Num rancho triste e vazio

Só tu boeira candente
Quente e ansiosa de abraços
Essa amante permanente
Guiando sempre meus passos