Lua Chirua
(Edilberto Teixeira, Ênio Medeiros)
A lua é uma gata angorá
Que pisa manso o telhado,
E a geada no descampado
Que ainda não levantou,
É um velo de lã merina,
É um seio branco de china
Que nem o sol não tocou;
A lua é prenda que foge
Do rancho do firmamento
E, engarupado no vento,
Vai alumiar a querência
Nos olhos negros da prenda
A lua cheia é uma oferenda
De paz, amor e de ausência
Esta lua é uma chirua
Que maltrata o meu sossego
Quando abre a pampa nua
Vem dormir nos meus pelegos.
A lua guia o gaudério
Como um celeste candeeiro
Quando ele vai, de escoteiro,
Abrindo atalho e caminho.
E atravessando o perau,
Meia noite, ouve o urutau
Chamando a fêmea pra o ninho.
E a lua cá do potrero,
Quando linda vai passando,
Faz minh'alma ir-se cantando
Na amplidão do seu luar
E este azul se azul não fosse,
Seria rima água-doce
De uma canção de ninar.
Esta lua é uma chirua
Que maltrata o meu sossego
Quando abre a pampa nua
Vem dormir nos meus pelegos.