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João Saudade


João Saudade
(Pedro Neves, Vaine Darde)

No estilo da estampa
Um resto de pampa
Farrapo dos trapos
Bombacha já rota,
Melena revolta,
E um jeito de guapo
Chapéu deformado
Um lenço rasgado
Ainda bandeira
Guaiaca roída
Rimando com a vida
Do João da Fronteira

Porque, oh João,
Deixaste o galpão
E a lida campeira
Pra ser na cidade
Mais um João-saudade
Sem eira, nem beira?

O João da favela
Que a vida atrela
A um carro de mão
É João-lá-de-fora
Repontando agora
Papel, papelão
E assim, quem diria,
Que a sorte um dia
Lhe desse este pealo
O João já nem sente
Que ontem ginete
É hoje o cavalo.

Porque, oh João,
Deixaste o galpão
E a lida campeira
Pra ser na cidade
Mais um João-saudade
Sem eira, nem beira?

A La Pucha Tchê


A La Pucha Tchê
(Iedo Silva)

A La Pucha Tchê
Não se assustemo
Que no perigo
A bala vem
Nós se abaixemo

Se a bala vem por baixo
Eu salto por cima
Se a bala vem por cima
Me atiro por baixo
Se a bala vem no meio
Respingo pra qualquer lado
E saio dando pulo
Mais do que tatu faqueado

Se me apontar o revólver
Esse gaudério nem liga
Mas se puxar uma faca
Me dá um frio na barriga
Procuro me defender
Quando a coisa fica feia
Não corro sem ver do que é
Não tá morto quem peleia

Tratar bem não é ter medo
Dizia o velho ditado
Eu não nasci de susto
Portanto não sou assustado
Não entro numa briga
Querendo me divertir
Dou um boi pra não entrar
E uma tropa pra não sair

Respeito todo mundo
Gosto de ser respeitado
Me orgulho das amizades
Por onde tenho passado
Faço amor não faço guerra
Porque sou homem de bem
Tenho amor por essa terra
E o povo que quero bem

Brinquedo Perigoso

Brinquedo Perigoso
(Dionísio Costa, Oscar Soares)

Vem cá meu filho e senta aqui junto comigo
Teu pai amigo é quem no mundo mais te ama
Vou te mostrar que existe mais de uma verdade
Pra liberdade, que tu tanto me reclama
Quem não entende e não escuta os seus pais
Padece mais e com a vida se revolta
Fica perdido já com a primeira queda
E envereda por um caminho sem volta

Ao teu redor terá todo tipo de gente
Que certamente não trarão só coisa boa
Saiba escutar teu coração e a consciência
Pois aparência nem sempre mostra a pessoa
Não quero ver meu filho amado só por farra
Cair nas garras de um conceito enganoso
Tu tem direito de viver tua mocidade
Mas liberdade, é um brinquedo perigoso

Eu sei que longe tu terá dificuldade
Pois a saudade, queima feito ferro em brasa
Pode seguir teu sonho moço e bater asas
Mas minha casa será sempre a tua casa
A vida ensina quem quer caminhar em frente
Seja paciente, não tenha medo de errar
Vá com cuidado e não esqueça um segundo
Que o maior amor do mundo, tu vai deixar neste lar

Escolha um rumo, mas respeite as diferenças
Pois pela crença somente Deus é perfeito
Encare a vida e tenha os pais por teu espelho
Não vá de joelhos pedir o que é teu direito
Tu pode ter muitos amigos, mas no entanto
Ninguém é santo e nem todo mundo é sincero
Mesmo que as vezes não entenda o que tu diz
Te ver feliz é o que na vida eu mais quero

Cevando O Amargo

Cevando O Amargo
(Lupicínio Rodrigues, Piratini)

Amigo boleia perna
Puxe banco vai sentando
Encoste a palha na orelha
E o criolo vai picando

Enquanto a chaleira chia
O amargo eu vou cevando
Enquanto a chaleira chia
O amargo vou cevando

Foi bom você ter chegado
Eu tinha que lhe falar
Um gaúcho apaixonado
Precisa desabafar

Xinoca fugiu de casa
Com meu amigo João
Bem diz que mulher tem asa
Na ponta do coração