(Ramiro Amorim, Erlon Péricles)
Mormaceira, tarde quente, no céu um corvo agourento ,
Campo quieto, nenhum vento, a tropa vinha abombando,
“Eu de cá” não achei graça quando se armou pro Sul,
Enegreceu o céu azul e a manga veio estourando.
Nisso o lote da ponta enveredou no aramado,
O seu Marcos assustado correu o facão nos fios,
Dois ficaram a cuidar da tropa no corredor...
“Eu de cá” fui de fiador, costeando a margem do rio.
Disse o Nelson, há bem pouco, ter visto formiga de asa,
Tacuru que abriu a casa sabendo que vinha água,
“Eu de cá” pensei que era uma chuva de verão,
Não uma tormenta osca de deitar as crinas no chão!
"Oito campeiro e três cusco" a repontar esses bois,
Bem certo eram vinte e dois, no total cento e quarenta,
Duas horas de tormenta, cachorro, estalo de relho,
Um boi pampa bem parelho caiu sangrando na venta.
Trovão, ventania e raio de enxergar o pago inteiro
A água pelos bueiros arrebentava os gargalos.
Lembro tudo o que falo, pois pouco adiantou a cuscada,
Quando a tropa está estourada precisa mesmo é cavalo.
Têm coisas que a gente pensa e mesmo com experiência
Pelas lidas da querência, patacoadas e atropelos ,
Perde o fio do novelo, fica a cismar onde errou,
O primeiro que desgarrou era manso e era sinuelo.
A chuva se foi num upa, o temporal ganhou mundo,
Olhares quietos, profundos, nos semblantes encharcados,
Alinhamos todo o gado e nenhum chego no rio,
Perdemos só o que caiu no lançante pro banhado.
Intérpretes: Ângelo Franco, Cristiano Quevedo
Nenhum comentário:
Postar um comentário