Inquietude
(Vaine Darde, Sabani Felipe de Souza)
Alguma coisa estranha
Anda rondando o país:
Nos braços do estivador,
Nos beijos da meretriz;
No cantador de cordel,
Nas previsões da vidente,
Se espalha feito uma peste
E toma conta da gente...
Conspira nos botequins,
Bate na porta das casas,
Faz procissão nos confins,
Desperta o sono das brasas.
Há um perigo constante
De que um dique arrebente
E o velho rio da esperança
Cause uma nova enchente...
Há uma inquietude no povo
Que a notícia não diz,
De ir pra rua, de novo,
E refazer o país.
Anda inspirando o poema,
Sofrendo o a fome das vilas;
Pegando trem no subúrbio,
Perdendo a vida nas filas.
Vive descalço nas praças,
Gastando a infância nos morros,
Vendendo as moças nas docas,
E, às vezes, pede socorro...
É um festim de mendigos,
É um motim de guitarras
Onde se insurgem profetas,
Onde ressurgem cigarras.
É o cotidiano das ruas
Numa comédia febril
E, às vezes, vira tragédia
Pelos sertões do Brasil.
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