Naquele Rancho
(Adriano Medeiros) Amadrinhador: Luis Carlos Camejo Cardoso
Ali naquele
rancho...
Dizem que
morava um louco!
Não sei...
nunca me incomodou.
Pois, sabe
que?
Em tudo que
é vila
De fundo de
campo
Ou de
cidade.
Sempre tem
alguém
Que ao povo
incomoda,
A gurizada
faz algazarra, fala...
Distorce os
comentários.
Morava em
uma humilde tapera
Um
arranchado, quase na beira do rio Uruguai;
Não sei se
tinha mãe se teve pai...
Viveu desde
cedo sozinho
Trabalhando
nas estâncias de Uruguaiana.
Sempre foi
meio rude... meio grosso...
Criado na
lida!
E por ser
teatino e meio gaudério
E, sabe-se
lá como?
Aprendeu a
ler e um pouco a escrever.
E desde
então:
Lidou, leu,
trabalhou
Lidava com a
pena como quem mexe na espada,
A segunda!
Aprendeu na
guerra
Foi
comandante e teve muita destreza e malícia
Para usá-la.
Atirava um
laço e mexia nas palavras
Com uma
sabedoria de mestre.
Sempre soube
“entreter” a gauchada
Com causos,
contos e lendas.
Citava Blau
Nunes nos campos do Jarau
Martin
Fierro na pampa cisplatina
Bentos e
tantos outros...
Sempre
gostou da lida e da poesia
Um dia
cansou da lida
E desde
então se encerrou
Em sua
sesmaria de campo.
Que se resumia
numa humilde morada
Num pequeno
rancho.
Chamavam-lhe
de louco,
Pois nas
noites de lua cheia
Acostumado
às rondas
Ele rondava
as estrelas!
Encilhava os
versos
Fazia as
rimas
E aprumava a
melodia
Em uma viola
surrada
Com seis
cordas tesas de tristeza.
Bueno, como
chamar de louco
Um homem,
que viveu e trabalhou tanto
Só por ele
conversar com o vento
Enxergar o
nada um pouco mais adiante
Pois eu não
compreendo
Era um homem
decente.
Muitas
tardes de passada
Para ir a um
baile de vila ou de ramada
Recebia o
convite,
E já no más
eu apeava do pingo
E tomava um
chimarrão
Ele contava
uns causos, conversas de galpão
...ríamos,
charlavamos.
-E, eu já
vou indo
Que é tarde
e vem chuva.
Morou sempre
lá.
Ele gostava
do recanto... um galpão,
Abaixo da
janela havia uma gamela
Onde ele
lavava o rosto
E também os
pensamentos!
Tinha também
umas cordas penduradas
Um laço
atirado num canto
Um relho e
um cusco amigo
Sempre lhe
chuleando os gestos
Diante da
soleira da porta,
Naqueles
restos de arreios
Por certo,
estavam seus sofrimentos
E por que
lhe chamar de louco
Se ele
tentava escapar de tudo isso
Através das
rimas
Que tirava
do pensamento.
De dia, ele
juntava gravetos,
Cuidava das
galinhas,
Tomava um
trago,
Esperando um
arrebol
Beirando o
pôr-do-sol
Ele se
recolhia,
Dormia
pensando nas gineteadas
E nos
cimbronaços da vida.
Viveu
troteando solito
Às vezes nas
campereadas
Conversando
com seu flete
Por isso lhe
veio nas idéias
Prosear com
as madrugadas.
O povo?
O povo não
defendia nem atacava
As crianças
achavam engraçado
Como um
vivente podia ficar
Tanto tempo
ali parado
Em frente ao
rancho...
Falando e
falando
E falando
sozinho;
Mas pra que
explicação
Então que
explicassem!
Porque o
redemoinho
Porque o
vento... e o vôo dos passarinhos.
Cortou
muitas madrugadas
Até que um
dia cansou de falar sozinho,
E pensou:
-Hoje, eu
faço um fogo de chão
E queira ou
não queira
O meu
coração vai virar braseiro.
Vou rever os
companheiros de patacoadas!
Vou emalar o
poncho da vida...
Vou embora e
me enfurnar na madrugada.
Quero matear
com aquele sorriso aberto
Vestir-me de
luz, daqueles fogões campeiros.
DECIDI...
Vou me
embora para o céu,
Fazer
poesias para SÃO PEDRO.
Declamador: Solon Alves