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Fronteiras De Um Só Povo

Fronteiras De Um Só Povo
(Ayrthon Nenê Caetano)

Um homem mateia solito
Alheio a tudo na sombra do oitão
Seu olhar percorre o longo infinito
O campo alargando horizontes de pão

Fronteiras demarcam limites
Separando povos tidos como irmãos
Bandeiras identificam pátrias
Com regras e leis sem explicação

Talvez mudássemos o conceito
De pátria e querência, para povos irmãos
Pois terra e somente terra
Todos têm direito a usar seu quinhão

Que Voltem As Querências Verdes

Que Voltem As Querências Verdes
(Ayrthon Nenê Caetano)

A saudade das querências verdes
Ainda faz estragos na mente do peão
Pastagens povoadas de espécies variadas
São lembranças vivas que vem e que vão
O canto do galo clarim do terreiro
Que acordava a pampa pela madrugada
Só ficou nos versos de algum cancioneiro
Cantando lembranças de antigas moradas

Encilhar o cavalo pra lida campeira
Peitear na porteira o gado alçado
Palanquear o cebruno arisco de lombo
Montar levar tombos domar aporreados

Tropeiros e tropas berrantes tocando
Sinuelo na frente dirigindo o gado
O banho de sanga a pesca no açude
A coivara rude do mato roçado
Vida campesina perdida no tempo
Embretar potro xucro curar estropiados
Na mangueira grande marcar castrar bois
A beira do fogo o mate cevado

Ouvir o mugido do gado na encerra
Colher na tapera laranjas e maçãs
Na sombra do angico estender meus pelegos
Sestear escutando o cantar do tahã

As querências verdes hoje são taperas
O cercado a porteira tudo foi pro chão
Os mourões de angico viraram fumaça
Calou-se a cordiona emudeceu o galpão
Das lides campeiras só resta saudades
E o peão na cidade ficou sem missão
Não em mais serviço pro homem do campo
Por isso que canto pedindo aos patrões

Encilhem cavalos pras lides campeiras
Arrumem as porteiras ajuntem o gado
Amarrem o cebruno arisco de lombo
Tragam para o campo o peão desgarrado

Pois ele precisa montar levar tombos
Ouvir o relincho e o berro do gado
Voltar à tapera pra colher laranja
Replantar o angico e viver sossegado



 Enviada por Ayrthon Nenê Caetano

Velhas Lembranças

Velhas Lembranças
(Ayrthon Nenê Caetano)

Deito em baixo da figueira grande
Pra cesta diária que virou rotina
Vejo-me montado no cavalo mouro
Nas lides campeiras que ainda me fascina
Ouço lá no fundo o grito da peonada
Encerrando a tropa para a marcação
E o latir dos cães ainda é tão recente
São peças que a mente prega no peão

Puxo o ar com força embaixo da sombra
Desta que nasceu e cresceu junto a mim
Hoje ainda é viçosa e eu já cansado
Espero calado o dia chegar o fim

Os meus pensamentos já ficaram ausentes
Não sei por que a gente teima em recordar
O capão de mato a estrada das tropas
Meu peito sufoca, mas torno a lembrar
Choro de saudade do tempo antigo
É como um castigo a me machucar
Da gaita chorando na roda de amigos
Do mate de estribo quando ia viajar

Puxo o ar com força embaixo da sombra
Desta que nasceu e cresceu junto a mim
Hoje ainda é viçosa e eu já cansado
Espero calado o dia chegar o fim

Manadas de éguas e pontas de gado
Baguais corcoveando perto do capão
Eu firme no lombo a laçar campo afora
Cutucando a espora de rédeas na mão
O moirão de angico segue imponente
Na porteira grande lá do casarão
Eu fecho os olhos e brota em minha mente
O mouro escarceando e só imaginação

Puxo o ar com força embaixo da sombra
Desta que nasceu e cresceu junto a mim
Hoje ainda é viçosa e eu já cansado
Espero calado o dia chegar o fim



Enviada por Ayrthon Nenê Caetano

Tudo Aqui Fui Eu Que Fiz

Tudo Aqui Fui Eu Que Fiz
(Ayrthon Nenê Caetano)

Vim lá das bandas da serra
Pra morar cá nesta pampa
Trouxe minha mala nas ancas
Do meu matungo ligeiro
Vinha um cusquito parceiro
Seguindo-me lado a lado
Me vim bater com os costados
Nesta terra de campeiro

Eu que construí meu rancho
Desde o barro até o quinchar
Madeira para cercar
Tudo passou por minhas mãos
Cruzando após o capão
Plantei sombra de pau-ferro
Só pra ouvir os quero-queros
Lá na beira do lagoão

Com uma junta de bois mansos
Semeei quartas de trigo
E meu velho cusco amigo
Sempre andando em meu costado
Vês em quando era assustado
Com um revôo de perdiz
Como e lindo a matiz
Ao amanhecer de meu pago

Construí uma cancha reta
Pra diversão da peonada
Quando finda a carreirada
Tem fandango no galpão
Uma gaita de botão
Chora ate clarear o dia
Numa vaneira macia
E um costado de violão

E assim vou levando a vida
De gaúcho galponeiro
Pois sei que não tem dinheiro
Que pague a tranqüilidade
Tu que mora na cidade
Vem conhecer meu rincão
Vem sorver um chimarrão
Com muita hospitalidade



Enviada por Ayrthon Nenê Caetano

Se Tem Vaneira

Se TemVaneira
(Ayrthon Nenê Caetano)

Se tem vaneira eu tou, eu tou no entrevero
Se tem vaneira eu sou, eu sou bem fandangueiro

Eu me esparramo na sala se for toque de vaneira
Inda mais se é a botoneira que anima a função
Ajudo a varrer o chão com as franjas de meu pala
Pego a mais linda da sala, não sou de frouxa o garrão

Se tem vaneira eu tou, eu tou no entrevero
Se tem vaneira eu sou, eu sou bem fandangueiro

Ninguém fica sentado se tem toque de vaneira
Até quem ta parado se mete e some na poeira
A duas ilheiras ronca igual o bugio no mato
No violão o “Zé Mulato” e o pandeiro do “Gadeia”

Se tem vaneira eu tou, eu tou no entrevero
Se tem vaneira eu sou, eu sou bem fandangueiro
É prenda que solta às ancas com maestria ao dançar
É peão campeando par pra se ajeitar com a vaneira
Procura moça solteira tentando arrumar encosto
Capricha no rosto a rosto e assim dança a noite inteira

Se tem vaneira eu tou, eu tou no entrevero
Se tem vaneira eu sou, eu sou bem fandangueiro

Conversa de pé de oreia, sapucai que a indiada gosta
No embalo da vaneira eu gasto a sola das botas
Começo à boca da noite e atravesso a madrugada
Danço até clarear o dia, dele chicho gauchada.

Se tem vaneira eu tou, eu tou no entrevero
Se tem vaneira eu sou, eu sou bem fandangueiro



Enviada por Ayrthon NenêCaetano

Por Que Falamos no Tchê

Por Que Falamos No Tchê
(Ayrthon Nenê Caetano)

Muita gente me pergunta por que falamos no tchê
Tento explicar o porquê deste vicio de linguagem
Tem quem ache uma bobagem que é usada de forma rude
Mas e tradição não mudo digo a razão pra você

No vocábulo gauchesco se usa a palavra tchê
Muitas vezes pra fazer alguém prestar atenção
Também como cumprimento buenas tchê seja bem vindo
Bate nas costas sorrindo lhe da um aperto de mão

Mas ba tchê também se usa quando se esta em apuros
Montado num queixo duro como expressão de pavor
Pois sabe que o mal domado incha o lombo e vai à cerca
Enfurece, vende arreios dispara no corredor

O termo é bastante usado como um adjetivo
Quando se chama um amigo primeiro se usa o tchê
Com certeza vai saber que se trata de um parceiro
Gaúcho e companheiro não demora pra atender

Estando eu longe do pago noutro Estado ou nação
Vai que me falte o pão, pois o dinheiro anda escasso
Acho alguém lhe dou um abraço me apresento e digo tchê
Já basta pra convencer a me emprestar uns trocados

Por tanto e assim que defino este costume constante
Não me acho ignorante nem bárbaro por falar
Pois sei em cada lugar a fala sofre mudanças
E o tchê recebi de herança preciso valorizar



Enviada por Ayrthon Nenê Caetano