Mostrando postagens com marcador 13º Bivaque da Poesia Gaúcha. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador 13º Bivaque da Poesia Gaúcha. Mostrar todas as postagens

Barro E Fé

Barro E Fé
(Matheus Costa)                                        Amadrinhador: Clênio Bibiano

Tenho a fé e tenho o barro
Alguns palmos sobre o chão,
Uma cruz por paradeiro
E o destino de “Barreiro"
Fez do rancho um coração.

Tenho a fé e tenho o barro
De que mais precisaria?
Se tenho sonhares plenos
E meu mundo bem pequeno
É de tão grande valhia.

Tenho a fé e tenho o barro
Nada mais posso pedir...
Embora o algo que busco
Tenha voado de susto
Sem aviso de partir.

Tenho a fé e tenho o barro
Pra cuidar toda amplidão,
Um vazio de metro e tanto
Relembrando o mesmo canto
Que me fez ser solidão.

Tenho a fé e tenho o barro
Desejar mais é pecado?
Pra um cantador sem guitarra
Que em melodia se agarra
No próprio bico afiado.

Tenho a fé e tenho o barro
Mas quisera cantar mais,
E nesta tremenda luta
Saber se ela me escuta
E sonha cantos iguais.

Tenho a fé e tenho o barro
Tudo aqui ao meu redor,
Mas por falta de carinho
Me tocou viver sozinho
- Dos males, será o menor?

Tenho a fé e tenho o barro
E um par de asas abertas,
Que ruflam, como escondendo
Alguém que canta sofrendo
Por uma mirada incerta.

Tenho a fé por protetora
Pra o barro não ir ao chão,
Pois meu único pertence
É este rancho que vence
Chuva e sol pelo rincão.

Tenho a fé e tenho o barro
O rancho não sucumbiu...
Mas tremeu junto comigo
Quando não deu mais abrigo
Pra “Barreira” que partiu.

Tenho a fé e tenho o barro
Onde ainda canto baixinho,
Pensando nas horas vagas
Se aquela "linda emplumada"
Tem achego em outro ninho.

Tenho a fé e tenho o barro
Vez por outra, milongueiro..
Assim espanto as tristezas
Assoviando as mágoas presas
Pra algum ranchito lindeiro.

Tenho a fé e tenho o barro
Bem de “fronte” ao corredor,
E mesmo tendo este tanto
Peno a ausência do encanto
Que levou de tiro o amor.

Tenho o barro na morada
Quinchada pela ilusão,
E quando a chuva ela escora
Até parece que chora
Por meu destino de “João”.

Tenho a fé junto do peito
Amargo por este pranto...
- Cicatriz que a vida ensina
Quando fecha, vira rima
Pra dar razão à outro canto!


Intérprete: Neiton Bittencourt Perufo