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Mostrando postagens com marcador Nilo Bairros De Brum. Mostrar todas as postagens
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Cabo Toco

Cabo Toco
(Nilo Bairros de Brum, Heleno Gimenez)

Foi no lombo de um cavalo que descobri horizontes
Em vez de vestir bonecas andei gritando repontes
Entrei de frente na história e acredite quem quiser
Em vinte e três fui soldado sem deixar de ser mulher

Me chamam de Cabo Toco
Sou guerreira, sou valente
Do Primeiro Regimento
Enfermeira e combatente

Me chamam de Cabo Toco
Só não sabe quem não quer
Debaixo do talabarte
Há um coração de mulher

Lutei contra Honório Lemes na serra do Caverá
Na ponte do Alegrete meu fuzil estava lá
Enfrentei o Zeca Neto sem temor da "colorada"
Anita sem Garibaldi, já nasci emancipada

Me chamam de Cabo Toco
Sou guerreira, sou valente
Do Primeiro Regimento
Enfermeira e combatente

Me chamam de Cabo Toco
Só não sabe quem não quer
Debaixo do talabarte
Há um coração de mulher

A velhice me encontrou com a miséria na soleira
A ver a vida por frestas num subúrbio de cachoeira
Digo aos curiosos que trazem ajudas interessadas
Que não quero caridade, quero justiça e mais nada



Intérprete: Fatima Gimenez

Clave De Lua


Clave De Lua
(Nilo Bairros de Brum, Miguel Marques)

Enquanto a prata luzia entre os ramos da figueira
Lentamente fui bordando esta milonga campeira
Intercalando silêncios com acordes naturais
Dei cancha goela da noite e as vozes dos mananciais

Milonga da noite milonga da lua
Cantar de fronteira compasso charrua
Por mais que te apontem lugares comuns
Jamais te enjeito de jeito nenhum

Temendo assustar os grilos evitei as dissonâncias
Pois em derradeira estância queria seu contra canto
E a noite já bem madura se fez regente xirua
Notando em clave de lua escreveu a partitura

Pressentindo que a noite de paixão se consumia
Um galo madrugador chamou a barra do dia
Quedei-me então em silêncio tal como fez a guitarra
Fui cevar um mate novo ouvindo o som das cigarras

Cantar Galponeiro

Cantar Galponeiro
(Oacy Rosenhaim, Nilo Bairros de Brum)

Meu verso é rio de águas claras
Correndo para o remanso
É igual a um potro manso
De andar garboso e faceiro
Faz tempo que é meu parceiro
Pois é meu verso que acalma
As penas da minha alma
Nas horas de desespero

O meu cantar galponeiro
Traz a marca da querência
E a prova de uma existência
Cevada no mate amargo
E quem aceita o encargo
De campeiro cantador
Sabe que é fiador
Da memória do seu pago

Quem não renega as origens
É cerno de corunilha
Plantado numa coxilha
Palanque por vocação
Esta xucra devoção
Expressa através do verso
Participa do universo
Sem desgarrar do seu chão

O meu cantar galponeiro
Traz a marca da querência
E a prova de uma existência
Cevada no mate amargo
E quem aceita o encargo
De campeiro cantador
Sabe que é fiador
Da memória do seu pago

Meu verso carrega o timbre
Do sentimento nativo
E cada rima é um estrivo
Onde se afirma a consciência
E nessa busca de essência
Meu canto é quase sagrado
Porque projeta um legado
Além da minha existência

O meu cantar galponeiro
Traz a marca da querência
E a prova de uma existência
Cevada no mate amargo
E quem aceita o encargo
De campeiro cantador
Sabe que é fiador
Da memória do seu pago

Replica

Réplica
(Nilo Bairros De Brum)

Esse réu eu defendo de graça
Ele é bom não amola ninguém
No entanto quem canta o bugio
Bota vícios que ele não tem

Que é safado, ladrão e velhaco
Abusado e vergonha não tem
Quem diz isso transfere pro bicho
Os defeitos que a si não convém.

O bugio tá roncando na mata
Vai chover amanhã de manhã
Ou será que é o motor de uma serra
Derrubando algum Tarumã.

O bugio tá roncando na mata
Tá gritando o seu desafio
Ou será que é choro de gaita
Lamentando o fim do bugio.

Eu me espanto com tanta maldade
Dessa gente que o mundo pariu
Habitando um planeta tão lindo
Só queimou, devastou, poluiu

Derrubou a floresta nativa
Pôs veneno nas águas do rio
Tá matando o que resta da fauna
E ainda diz que o bandido é o bugio.

O bugio tá roncando na mata
Vai chover amanhã de manhã
Ou será que é o motor de uma serra
Derrubando algum Tarumã.

O bugio tá roncando na mata
Tá gritando o seu desafio
Ou será que é choro de gaita
Lamentando o fim do bugio.

Data vênia senhores que cantam
Seus libelos não têm procedência
Quem acusa quem culpa não têm
Tá de mal com a sua consciência.

Bom seria se a gente trocasse
A calúnia por um elogio
Preservando o que resta do pago
Como faz o mais bronco bugio.

O bugio tá roncando na mata
Vai chover amanhã de manhã
Ou será que é o motor de uma serra
Derrubando algum Tarumã.

O bugio tá roncando na mata
Tá gritando o seu desafio
Ou será que é choro de gaita
Lamentando o fim do bugio.

Nova Trilha

Nova Trilha
(Nilo Bairros de Brum, João de Almeida Neto)

Levando o vento no peito
Pelo pampa um dia andei
Alargando os horizontes
Que eu mesmo redesenhei,
E os mapas que risquei,
A lança e ponta de adaga
Estão nas folhas dos livros
Que a memória não apaga.

Um dia deixei o campo
Porque o campo me deixou,
No pasto perdi o rastro
Que o vento norte apagou.
Morador dos corredores
Deixei pra trás horizontes,
Herdei a fome das vilas
E a quincha nua das pontes.

Um dia volto à querência
Para cortar sesmarias
E um novo canto da terra
Cantarei nas pulperias;
Desgarrados, bóias-frias,
Encontrarão nova trilha
E os direitos sonegados
Virão à sobre-partilha.



Enviada por Liane