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Mostrando postagens com marcador Neiton Bittencourt Perufo. Mostrar todas as postagens
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A Vingança de Honório Flores

A Vingança de Honório Flores
(Cristiano Medeiros, Gaspar Martins, Adriano Medeiros)
                                                                                                  Amadrinhador: Claudio Silveira

Na meia-tarde, abafada...
Correu a notícia no povoado!
Manoel Flores é morto...

Entre zunidos e “gambetazos” de balas,
Assim, ficou estendido um corpo inerte,
Desfazendo histórias e um lume nas retinas,
No último suspiro, de uma vida gaúcha.

Este é o fim do peleador!
Resmungava algum ladino no bolicho,
Entre cochichos e sussurros,
Correu o anúncio em todo o vilarejo.

Honório Flores cria do rincão das três bocas,
Batizado pelas águas do Uruguai.
Irmão do Manoel Flores que foi morto.
Em busca de vingança Honório vai...

Depois da cruz posta e da reza de corpo presente,
Ajeitou a sua adaga “tinideira”,
E de carona na cintura ia também o seu “bisna” quarenta e quatro.

Encilhou um baio-cabos-negros.
Dando de rédeas, foi atrás da sua cruzada.

Há quem diga que Manoel fora morto,
Pelo guitarreiro João Mendes...
- Que era daqueles que não fugia de peleia -

E tudo se deu... Segundo corria na boca miúda,
Por dívida de carpeta ou carreirada,
E, a “caça” de Mendes, foi Honório!

Seguindo para o lado do poente,
Mandando patas assim no más...
Sabia que seu caminho não tinha volta,
Querendo sangue em troca de sangue,
Deixando só a poeira pra trás.

Foi na caída da noite que se encontraram,
Bem no passo do Butuí;
Honório e o tal João ali se condenaram.

Cada qual sacou suas diferentes armas,
Um se acomodou em uma cova de touro,
O outro de pronto nas barrancas,
Com gritos de desacato, iniciou o confronto,
E, de balas, os Angicos empanturraram.

De longe quem via pensava,
Que estrelas estavam caindo.
Mas, eram centauros gaúchos,
Peleando, entre balas zunindo.

Dom Honório Corrêa Flores,
Fora atirador em “35” na revolução.

Com ciência e convicção
De honrar o nome de família,
Respondia as balas de João,
Com os tiros do seu “Nagão”.

Sem munição!
Já suados e ensangüentados...
De peito aberto se atracaram.

Palmearam as adagas...
Campo á fora só se ouvia o estouro,
Entre golpes e tronchaços, de faíscas foram cobertos.

Dois touros que não se entregam,
Gigantes nesta luta abarbarada,
Não se cansaram de pelear de adaga,
No ferro branco eram combatentes.

Um batia e o outro ia se defendendo,
Na contra-volta desta refrega.

E, neste embate, a lua via tudo apavorada,
A noite escura, neste duelo foi conivente.

Cansados e sem força no braço,
Iam se estudando e tomando fôlego
Para mais uma volteada.

Mas, não sabiam que seus destinos estavam traçados,
A morte por mal intencionada armou sua teia.

Em um capricho do acaso,
Foi à meia-noite que acontecera.

Nuvens negras se aproximam...

É temporal!

Entre as adagas se esparramou um raio,

Ponteado morreu Mendes e Honório é imortal. 


Declamador: Neiton Bitencourt Peruffo

Barro E Fé

Barro E Fé
(Matheus Costa)                                        Amadrinhador: Clênio Bibiano

Tenho a fé e tenho o barro
Alguns palmos sobre o chão,
Uma cruz por paradeiro
E o destino de “Barreiro"
Fez do rancho um coração.

Tenho a fé e tenho o barro
De que mais precisaria?
Se tenho sonhares plenos
E meu mundo bem pequeno
É de tão grande valhia.

Tenho a fé e tenho o barro
Nada mais posso pedir...
Embora o algo que busco
Tenha voado de susto
Sem aviso de partir.

Tenho a fé e tenho o barro
Pra cuidar toda amplidão,
Um vazio de metro e tanto
Relembrando o mesmo canto
Que me fez ser solidão.

Tenho a fé e tenho o barro
Desejar mais é pecado?
Pra um cantador sem guitarra
Que em melodia se agarra
No próprio bico afiado.

Tenho a fé e tenho o barro
Mas quisera cantar mais,
E nesta tremenda luta
Saber se ela me escuta
E sonha cantos iguais.

Tenho a fé e tenho o barro
Tudo aqui ao meu redor,
Mas por falta de carinho
Me tocou viver sozinho
- Dos males, será o menor?

Tenho a fé e tenho o barro
E um par de asas abertas,
Que ruflam, como escondendo
Alguém que canta sofrendo
Por uma mirada incerta.

Tenho a fé por protetora
Pra o barro não ir ao chão,
Pois meu único pertence
É este rancho que vence
Chuva e sol pelo rincão.

Tenho a fé e tenho o barro
O rancho não sucumbiu...
Mas tremeu junto comigo
Quando não deu mais abrigo
Pra “Barreira” que partiu.

Tenho a fé e tenho o barro
Onde ainda canto baixinho,
Pensando nas horas vagas
Se aquela "linda emplumada"
Tem achego em outro ninho.

Tenho a fé e tenho o barro
Vez por outra, milongueiro..
Assim espanto as tristezas
Assoviando as mágoas presas
Pra algum ranchito lindeiro.

Tenho a fé e tenho o barro
Bem de “fronte” ao corredor,
E mesmo tendo este tanto
Peno a ausência do encanto
Que levou de tiro o amor.

Tenho o barro na morada
Quinchada pela ilusão,
E quando a chuva ela escora
Até parece que chora
Por meu destino de “João”.

Tenho a fé junto do peito
Amargo por este pranto...
- Cicatriz que a vida ensina
Quando fecha, vira rima
Pra dar razão à outro canto!


Intérprete: Neiton Bittencourt Perufo