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Mostrando postagens com marcador Mateus Lampert. Mostrar todas as postagens
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Que Saudade Que Dá

Que Saudade Que Dá
(Jader Leal, Mateus Mampert)

Ah, que saudade que dá,
De lá da fronteira, que saudade que dá
Livramento e Rivera, fronteira da paz,
Que saudade que dá!

Ah, que saudade que dá,
De uma potra matreira, esperando cerrar
A armada do laço, pra ver o manotaço,
De trás das orelhas.

Ah, que saudade que dá,
De uma tosa de ovelha, uma penca parelha
Me oitavar num galpão, remendando um redião
Deixar que o dia se estenda...

Ah, que saudade que dá,
Da prosa galponeira, um radinho na AM tocando vaneira,
De um mate cevado à moda lá da fronteira.

Ah, que saudade que dá,
De lá da fronteira, que saudade que dá
Livramento e Rivera, fronteira da paz,
Que saudade que dá!

Ah, que saudade que dá,
De um rodeio parado, ovelheiro do lado,
Pra saltar botando
Quando um sapucay passar o recado.

Ah, que saudade que dá,
Do gado retovando, um aparte de campo
E a minha zaina alçada, escarceando na aguada,
Voltar “prás casa” ao tranco.

Ah, que saudade que dá,
Do cheiro da minha terra, um murmúrio de mato
Quando um touro berra
Das coisas do pago... Lá do Passo das Pedras!!!!

Num Silvido Proseio Meu Mundo

Num Silvido Proseio Meu Mundo
(Jader Leal, Mateus Lampert)

Num fundo de campo
Um posto da estância
Silêncio e distância
São partes de mim
Sou como o vento
Vivendo a meu tempo
Verões e invernos encontram-me assim

No tropel das manhãs
Já de mate lavado
Alço a perna no basto
E procuro o meu eu
Recorrendo invernadas
Não preciso palavras
Num assovio a alma proseia com Deus

Se encilho meus potros
Prá sovar as garras
A ânsia dispara
E amadrinha o galope
Assim num silvido
Proseio com o bicho
Voltando “pras casa”
Ao compasso de um trote

Assim é meu mundo
Sem ter solidão
Rancho e galpão
Do jeito que eu quis
Potrada prá encilha
É grande a tropilha
Na paz do campo que me faz feliz

À beira de um fogo
Repenso a vida
Sou parte da lida
E assim vou levando
Campo e eu somos um
Num silvido comum
A solidão tem um preço que pago cantando

Lua De Estio

Lua De Estio
(Jader Leal, Rafael Zinho, Cleiton Santos, Mateus Lampert)

A sede do tempo secou as cacimbas
E os olhos da sanga só choram um fio
O campo minguando sabe que a seca
Se agranda no outono na lua de estio

As invernadas perdendo o viço
Novilhas no milho que não pendoou
A graxa das tropas perdeu-se na busca
Da velha barragem que o tempo secou

Negaram-se as chuvas que o março trazia
E a terra sentida, negou-se também
A mão campeira perde a serventia
A espera da lua no quarto que vem

O balde de lata rompendo silêncios
Só bebe esperanças num poço vazio
A pipa retoma o ofício carreiro
Quebrando o vidro do espelho do rio

A seca se agranda... É lua de estio

No campo judiado, um quadro sem vida
Retrata a dor a que o céu nos condena
Olhares garoam em preces mudas
E sofrem com o campo a dor dessas penas

O sol vai sumindo fica o campo em brasa
Os homens e os bichos e estes rancherios,
Parecem chorar, sonhando vertentes
Ao olhar silente da lua de estio

Depois Dos Mates

Depois Dos Mates
(Jader Leal, Mateus Lampert)

Sorvo no silêncio dos meus mates
Um aroma de campo e de galpão
A estrada se apequena pouco a pouco
Tenho meu mundo na palma da mão

Lavo a erva pura folha castelhana
Requento a água já fria na cambona
Encilho o mate como quem encilha um sonho
Ligo o rádio e ouço um toque de cordeona

Depois dos mates a alma se “aliviana”
Das distâncias que por sina são malevas
Depois do mates sou a cambona vazia
Que derramou suas saudades sobre a erva

Outro dia já me encontra mateando
Junto à cuia cevo sonhos de esperança
Lembro o mate ao pé do fogo com meu pai
Nas manhãs claras de inverno na estância

Troco alpargatas por sapato e calça reta
E saio manso do meu rancho na cidade
Sigo em frente construindo meu caminho
Deixo as lembranças recostadas no meu mate

De Estrada E Tropa

De Estrada E Tropa
(Jader Leal, Mateus Lampert)

Tropeei pela canhadas, do Carcávio ao Pedregal
Enquanto a flor do pajonal desabrochava na invernada
Avistei a lua prateada, trazendo luz à escuridão
Como o lume do lampião refletido na minha adaga

E o baeta colorada, pronto para ser sinuelo
Costeado pelo cincerro no trote da minha bragada
Uma morena enfeitiçada vem pra ser meu pesadelo
E motivos de atropelos nos rumos desta tropeada

Tropeiros, homens campesinos, que levam a vida na estampa
Tentando semear na pampa um pouco dos seus destinos
Quando se vão ao passo, com a tropa encordoada
Deixam a pampa marcada de cascos e sonhos perdidos

A estrada se vai à lo largo, e o dia passa com pressa
A vida fica às avessas nas patas de um cavalo
Quem sabe o corredor reserve algo depois da curva
Pra clarear a visão turva de um tropeiro ponteador

A chuva senta a poeira de léguas de estrada dura
E o meu aba larga se apruma com o vento que guasqueia
A fumaça se enleia, enquanto a tropa descansa
Essa sina é a herança dos vaqueanos da fronteira.

Assim Tranqueia A Vida

Assim Tranqueia A Vida
(Jader Leal, Rodrigo Barreto, Mateus Lampert)

Foi olhando corda crua que entendi a função.
De que vale a presilha se não tiver o botão?
De que vale o amor, se não vier do coração?

Por ser um homem dos bastos trago a querência comigo.
De nada vale o loro se não tiver o estribo.
De nada vale um abraço se não vier de um amigo.

Assim tranqueia a vida, e deste jeito me agrada.
Por isto acolhero o sonho ao mesmo sonho da amada.
De renascer esperança num rancho de alma barreada.

Pela destreza da mão sai um trançado de estouro.
De nada vale o guasqueiro se não tiver um bom couro.
De nada vale um preparo sem os encontros do mouro.

O tempo mostra aos poucos que todo mundo é igual.
De que vale o cabresto, se não tiver o buçal?
De que vale o bem, se for menor do que o mal?

Água No Lombo

Água No Lombo
(Jader Leal, Mateus Lampert)

Finda a manhã de sol quente no janeiro
E o ovelheiro busca a sombra do galpão
Vem assoliado de um aparte de rodeio
Enquanto apeio e desencilho o redomão

Tiro dos queixo o bocal de couro cru
E o basto Paysandu molda o cavalete
Quem sabe hoje se apequene a estiada
Numa chuva anunciada lá pras bandas do Alegrete

Água no lombo da cavalhada da encilha
O rádio de pilha no compasso da chamarra
Imagem linda, mais um dia de verão
E no oitão os guaxos fazem algazarra

Água no lombo e a cavalhada na soga
O peão afoga o calor num gol de canha
Que contra o mate vai fazendo um costado
Assim me agrado dessa vida de campanha

Meia tarde vem chegando a recolhida
De pronto a lida chama prá invernada
Revisar uns boi, tá pintando o carrapato
E o mulato tirá uns pulo na gateada

Boi cruzado de zebu com polhango
Tala de mango prá um refugo caborteiro
Volta tranqueada e o capataz vai ao trote
Juntar um lote de borregos no potreiro

Água no lombo busco a volta e tiro o freio
E o tempo feio se arma num vento norte
Junto os pelego que deixei estaqueado
Pois sei o lado de onde vem a chuva forte

Água no lombo mais um dia que se acaba
Tapeio a aba do sombreiro prá o horizonte
Tá com jeito de que amanhece chovendo
Seria bom ta prometendo a dois ontonte