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JOÃO SEM MEDO


TÍTULO
JOÃO SEM MEDO
COMPOSITORES
LETRA
KENELMO ALVES
MÚSICA
FRANCISCO ALVES
INTÉRPRETE
ORISTELA ALVES
OS URUCHÊS
RITMO
CD/LP
07ª CALIFÓRNIA DA CANÇÃO NATIVA
FESTIVAL
07ª CALIFÓRNIA DA CANÇÃO NATIVA
DECLAMADOR
AMADRINHADOR
PREMIAÇÕES


JOÃO SEM MEDO
(Kenelmo Alves, Francisco Alves)

Olha o bicho
Tá me espiando
Olha o bicho que tá me espiando
De traz do umbu

Se ele é boi, e não é zebu
Será o tal de Boi Tatá?
Salta fogo dos seus olhos
Salta chispas do focinho
Vou chegando de mansinho
Pra ele não me atropela

Olha o bicho
Tá me espiando
Olha o bicho que tá me espiando
De traz do umbu

Vou chegando mais pra perto
E esse fogo não se paga
Já não sei se estou bem certo
Pela cruz da minha adaga
Já cacei um lobisomem
Lacei mula sem cabeça
Se eu não pego o bicho some
Antes que o sol apareça

Olha o bicho
Tá me espiando
Olha o bicho que tá me espiando
De traz do umbu
Do couro da cobra grande
Fiz um laço bem trançado
Pra laçar o boi de fogo
Lá do umbu amaldiçoado
Não tenho medo do diabo
Nem dos chifres retorcidos
Da carne faço guisado
Dos ossos faço fervido



Conselhos

Conselhos
(Marco Aurélio Vasconcellos, Knelmo Alves)

Filho, sou teu pai, sou teu amigo,
Por isso escuta o que eu digo,
Minha experiência é quem fala.

Melhor aprende o que cala,
E ouve com atenção.
Este destino de peão,
Não te vou deixar de herança,
Porque me sobra esperança,
De ver-te um dia patrão.

Filho, meu velho também foi peão,
E acostumou-se ao patrão, politiqueiro e caudilho,
Por sinal, pai de um filho que à força se fez doutor.

E eu na solidão do meu rancho,
Só aprendi a fazer garranchos
Prá votar neste senhor.

Filho, agora é chegada a hora,
De saires campo afora,
Rumo a estância do saber

Que este teu velho peão pobre,
Há muito que junta os cobres,
Pra te mandar aprender.

Anda, vai e doma a leitura,
Te amansa em literatura,
E prende no laço a ciência,
Que ao longo de tua ausência,
Hei de rezar ao Senhor,
Prá que voltes à querência,
Um verdadeiro doutor.


Novos Tempos

Novos Tempos
(Kenelmo Amado Alves, Francisco Scherer)

Levanta, caudilho, do sono da campa
Defende teus filhos, ameaçam a pampa

Na garupa da moto de seu companheiro
Que fuma fuminhos, mas não de palheiro
Uma gata mui louca, chicletes de bola estoura na boca
Dizendo palavras da gíria mais tola

Chapéus de vaqueiro ou caubóis do Tio Sam
No mais puro estilo de heróis bang-bang
Aos roncos da moto qual um terremoto
Cruzando a querência eu juro que vi
É a morte rondando aqui

Levanta, caudilho, das brumas do tempo
Reúne teus filhos num fogo de chão
Dá-lhes a cuia, estende tua mão
Que sorvam a seiva de um bom chimarrão

Um traguito de canha, aquela da boa
Que tinhas na guampa durante as batalhas
Que piquem o fumo, que escolham a palha 
Que pitem crioulo, se o caso é fumar

Levanta, guerreiro, que o novo inimigo
Traz o mesmo perigo das lutas primeiras
Desperta teu povo, ensina tua gente a não se entregar
Levanta, caudilho, com tua bandeira
Que a onda estrangeira nos quer afogar



Joao Chagas Leite E Os Uruches - Novos Tempos by Guascaletras

Galopada


Galopada
(Knelmo Alves, Francisco Alves)

Debrucei-me na janela
Noite linda enluarada
Na brisa o perfume dela
A distância não é nada

Não é nada essa distância
Essa distância não é nada
Mas por que toda essa ânsia
De chegar antes que a estrada

Madrugada vai-te embora
Deixa que o dia apareça
P’ra eu sair estrada fora
Antes que ela me esqueça
Vou saindo estrada afora
Minha alma desespera

Upa, Upa, meu cavalo que a saudade não espera
Upa, upa, meu cavalo que a saudade não espera

Nas patas do meu cavalo
Corre louca uma saudade
Na pampa, verde esperança
Trança minha felicidade

Madrugada vai-te embora
Deixa que o dia apareça
P’ra eu sair estrada fora
Antes que ela me esqueça
Vou saindo estrada fora
Minha alma desespera

Upa, Upa, meu cavalo que a saudade não espera
Upa, upa, meu cavalo que a saudade não espera



Penas


Penas
(Francisco Alves, Kenelmo Alves)

Uma estampa da pampa vai desaparecer
Não tem liberdade e não pode correr
Não pode correr, não pode correr....
A máquina e o homem cortaram distâncias
E léguas de estância não existem mais
Não existem mais, não existem mais.

Inhandu tuas penas, são penas que chegam
Nas tardes amenas as lembranças de um piá
Que apenas queria nas correrias
Roubar-te uma pena pra poder brincar.

Nas grandes cidades vi festa... vi plumas
Enfeitando a vaidade e alegria fugaz
Na loucura da festa luz e esplendor
Na tristeza das penas um grito de dor.

O avestruz do meu pago vai desaparecer
São penas que trago e nada posso fazer
A falta de espaço encurtou o seu passo
E sem liberdade não pode viver.





O Mangrulho

O Mangrulho
(Knelmo Alves, Marco Aurélio Vasconcellos)

No distante passado
As lutas da posse
Raizes da raça
Que aqui ficaria

Um rancho perdido
E solito no pampa
E atento mangrulho
Bombeando distâncias

Mangrulho, mirante
Cuidou desta terra
De assaltos cobiças
E sanhas de guerra
E sanhas de guerra

O que era do dono
Com o dono ficou
E o velho mangrulho
No tempo passou

A cobiça estrangeira
Porém nunca passa
Eu a vejo tentando
Dobrar esta raça

Mas cavando raízes
Me emponcho de orgulho
Pois em cada gaúcho
Eu vejo um mangrulho

Último Grito

Último Grito
(Kenelmo Amado Alves)

Cutucou suas esporas
Na paleta do Minuano
E galopou pelo tempo
Na cancha reta dos anos.
E dando rédeas ao flete
Deu um grito no más:
Biribibiujuju...e o tempo ficou pra trás.
Biribibiujuju...agora já não se escuta.
Biribibiujuju...perdeu a força da luta.

Lá vai pelo tempo vencido,
Dobrado, esquecido, o Velho Xirú
E nos alambrados o vento
Lhe grita zombando biribibiujuju...

Agora, no fim do caminho,
No sono do vinho,
Jogado no chão,
Adormece na beira da estrada,
Não pede pousada
Pois sabe do “não”.
E ainda o perseguem nos sonhos
Os uivos medonhos do vento a gritar:
Biribibiujuju... Biribibiujuju... Biribibiujuju...

Recuerdos da 28

Recuerdos da 28
(Knelmo Alves, Francisco Alves)

De vez em quando, quando boto a mão nos cobre,
Não existe china pobre nem garçom de cara feia,
Eu sou de longe onde chove não goteia
Não tenho medo de potro, nem macho que compadreia.

Boleio a perna e vou direto pro retoço,
Quanto mais quente alvoroço
Muito mais me sinto afoito.
E o chinaredo que de muito me conhece
Sabe que pedindo desce meu facão na 28.

Remancheio no boteco ali nos trilhos
Enquanto no bebedouro mato a sede do tordilho,
Ouço o mugido, o barulho da cordeona
E a velha porca retoçando no salão,
Quem nunca falta é um índio curto e grosso
De apelido de pescoço, da rabona o querendão.

Entro na sala no meio da confusão
Entro meio atarantado que nem cusco em procissão
Quase sempre chego assim meio com sede,
Quebro o meu chapéu na testa
De beijar santo em parede.

E num relance se eu não vejo alguém de farda eu grito:
- Me serve um liso daquela que matou o guarda.

Guardo o trabuco empanturrado de bala, meu facão,
Chapéu e pala e com licença vou dançar,
Nesses fandango levo a guaica recheada
Danço com a melhor china, que me importa de pagar,
O meu cavalo eu deixo atado num palanque
E só não quero que ele manque
Quando terminar a farra.

A milicada sempre vem fora de hora,
Mas eu saio porta a fora só quero ver quem me agarra.
Desde piazito a polícia não espero
Se estoura rebordoza me tapo de quero-quero,
Desde piazito a polícia eu não espero
Se estoura a rebordoza me tapo de quero-quero.

Entro na sala no meio da confusão
Entro meio atarantado que nem cusco em procissão
Quase sempre chego assim meio com sede,
Quebro o meu chapéu na testa
De beijar santo em parede.
E num relance se eu não vejo alguém de farda eu grito:
- Me serve um liso daquela que matou o guarda.