Cadastre seu e-mail e receba as atualizações do Blog:

Mostrando postagens com marcador José Claudio Machado. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador José Claudio Machado. Mostrar todas as postagens

O ÚLTIMO DIA DO VELHO CHIRÚ

 

TÍTULO

O ÚLTIMO DIA DO VELHO CHIRÚ

COMPOSITORES

LETRA

ANTONIO CARLOS MACHADO

MÚSICA

ÊNIO RODRIGUES

INTÉRPRETE

JOSÉ CLÁUDIO MACHADO

RITMO

TOADA/GALOPA

CD/LP

01ª MOENDA DA CANÇÃO

FESTIVAL

01ª MOENDA DA CANÇÃO

MÚSICOS

Ênio Rodrigues: Violão

José Cláudio Monteiro: Bandoneon

De Santana: Percussão

Pedro Verf: Baixo

 

PREMIAÇÃO

3º LUGAR


O ÚLTIMO DIA DO VELHO CHIRÚ
(Antonio Carlos Machado, Ênio Rodrigues)

Rumbeando caminhos na pampa infinita
Voltou-se pra dentro de si num momento
Viu coisas que o tempo já tinha esquecido
E vieram bem vivas no seu pensamento

Viu garças voando na velha barranca
Manchando de branco o azul deste céu
Viu chuva e garoa, viu Lua e boeira
Viu Sol no nascente como um fogaréu

Viu potros baguais e éguas madrinhas
Viu tropas na estrada no rumo da morte
Viu gente com fome, viu peão explorado
Viu gente na tava brincando com a sorte

Viu mate sorvido por gente sofrida
Viu piás repartindo migalhas de pão
Sentiu a tristeza da mãe campesina
Ao ver o seu filho sem nada na mão

Viu china lindaça rolando na cama
O nu mais bonito que tem na lembrança
Viu bailes de rancho ao som da cordeona
E estouros de ferros depois da lambança

Sentiu tanta coisa no mesmo relance
Que o velho chiru nem mesmo entendeu
Picou o seu fumo, babou bem a palha
Puchou a fumaça tragou e morreu

PEÃO VELHO

Título
PEÃO VELHO
Compositores
LETRA
ALVARO BARBOSA CARDOSO
MÚSICA
JOSÉ CLAUDIO MACHADO
Intérprete
OS TAPES
JOSÉ CLAUDIO MACHADO
Ritmo

CD/LP
2ª CALIFÓRNIA DA CANÇÃO NATIVA – OS TAPES
GAÚCHO – JOSÉ CLAUDIO MACHADO
ACERVO GAÚCHO – JOSÉ CLAUDIO MACHADO
RECORDANDO A QUERÊNCIA – JOSÉ CLAUDIO MACHADO
Festival
2ª CALIFÓRNIA DA CANÇÃO NATIVA
Declamador

Amadrinhador

Premiações


PEÃO VELHO
(Alvaro Barbosa Cardoso, José Cláudio Machado)

Madrugada me encontra sentado
Olhar quebrado, na espreita do sol
Deita no campo, no desencanto do ser nada
Tempo foi gasto no quebrar geada
Tanger a tropa, correr estrada
Prá acabar em nada

Riquezas, conforto, mão calejada
Passou como o vento
Apenas o tempo ficou prá contar
O sonho perdido do piá calça curta
Que o corpo cansado mantém cá por dentro
Corre, corre minuano, assobia o meu lamento
Corre, corre minuano, assobia o meu lamento




Zamba Por Vos

Zamba Por Vos
(Alfredo Zitarrosa)

Yo no canto por vos;
Te canta la zamba.
Y dice al cantar:
No te puedo olvidar;
No te puedo olvidar.

Yo no canto por vos;
Te canta la zamba.
Y cantando así
Canta para mí,
Canta para mí.

Zambita cantá:
No la esperes más.
Tenés que pensar que si no volvió,
Es porque ya te olvidó.
Perfumá esa flor,
Que se marchitó,
Que se marchitó.

Yo tuve un amor,
Lo dejé esperando.
Y, cuando volví,
No lo conocí,
No lo conocí.

Dijo que tal vez,
Me estuviera amando.
Me miró y se fue:
Sin decir por qué;
Sin decir por qué.
Zambita canta...


Intérpretes: Luiz Marenco, José Claudio Machado, Alfredo Zitarrosa


Defumando Ausências

Defumando Ausências
(Telmo de Lima Freitas)

Busquei o teu riso claro,
Chamei por teu nome mil vezes em vão,
E muitos invernos ao pé do borralho,
Defumei ausências no fogo de chão

Gritei pela madrugada,
Lá fora nem rastro de alguém pra escutar
Um dia uma estrela correu na janela,
Me dando notícias que ias chegar

Passei vassoura na sala do rancho,
Enxaguei a cuia pra te esperar
E quando viestes pra baixo do poncho,
Mil sonhos antigos comecei cantar

E desde essa feita não me reconheço,
Nem sei se mereço amar e sorrir
Mi'as pilchas de gala são os teus carinhos
Que abrem caminhos pra eu prosseguir

Busquei o teu riso claro,
Chamei por teu nome mil vezes em vão,
E muitos invernos ao pé do borralho,
Defumei ausências no fogo de chão

Gritei pela madrugada,
Lá fora nem rastro de alguém pra escutar
Um dia uma estrela correu na janela,
Me dando notícias que ias chegar

Passei vassoura na sala do rancho,
Enxaguei a cuia pra te esperar
E quando viestes pra baixo do poncho,
Mil sonhos antigos comecei cantar

E desde essa feita não me reconheço,
Nem sei se mereço amar e sorrir
Mi'as pilchas de gala são os teus carinhos
Que abrem caminhos pra eu prosseguir


Intérprete: José Claudio Machado, Marinês Siqueira, Telmo de Lima Freitas


Motivos de Campo


Motivos de Campo
(João Fontoura, Gujo Teixeira, Marcello Caminha)

Um relincho de potro,
Um berro de touro e um cantar de galo
O ringir de um arreio,
O acôo de um cusco e o tombo de um pealo

Um aboio de tropa,
Um murmúrio de sanga, um tinir de argola
O Minuano nas quincha,
Um ringir de cancela e um arrastar de espora

Uma tropa estendida, uma pega de potro
Um prosear no galpão
Um ronco de mate, e um rufar de patas
Que hace tambores no couro do chão

Um pontear de guitarra, um floreio de gaita
Um cantar de fronteira
Um gateado de tiro, um chapéu bem tapeado
Um adeus na porteira

Esse é o pago que trago é o rio grande antigo
Pois meu verso garante essas coisas que digo
São motivos de campo que carrego comigo



Chasque Pra Dom Munhoz


Chasque Pra Dom Munhoz
(Gaspar Machado, Airton Pimentel)

Amigo Élbio Munhoz meu chasque não tem floreio
Eu uso bombacha larga e um chapéu de um metro e meio
Botas de garrão de potro laço, pealo e gineteio
E me sustento pachola na serventia do arreio

Por voltas que a vida faz para açoitar um cristão
Ando cortado dos trocos freio e pelego na mão
Sem um cavalo de lei pra visitar meu rincão
O nosso caiboaté é grande e guardo no coração

A tia Maria me disse que tua tropilha é de lei
E o José Rodrigues ramos confirmou quando eu pensei
Em te pedir um cavalo nesses versos que eu criei
Pra cantar em São Gabriel querência que eu sempre amei

Entrega pro tio Adil lá na costa do lajeado
E diz pra Anilde e a Silvinha que eu chegarei afogado
Num borrachão de saudade do tamanho do meu pago
E a negra Juci que espere com chimarrão bem cevado

Dom Élbio guarde consigo que um dia arranco do peito
E pago esta obrigação que me deixa satisfeito
E o pelo é da tua conta baio ou rosilho eu aceito
Que o velho Moacir Cabral me fez assim por direito

De Como Cantar Um Flete


De Como Cantar Um Flete
(Lucio Yanel , Gaspar Machado)

Nesta folga domingueira
Trancei um buçal de estouro
Pra amanunsiar a meu modo
Esta beleza de mouro

Lonqueando tentos cantava
Minha própria confidência
Pra fazer deste cavalo
O melhor desta querência

Um bocal de tamanduá
Lombilho, cincha e carona
E aquele entono de quebra
Pra levantar a sia dona

Quem doma sabe o valor
De um flete manso e ordeiro
Valente e doce de boca
Para um aparte campeiro

Pelo fiador do buçal
E ao meu santo protetor
Este cavalo de lei
É a alma do domador

O valor de sua raça
Semeará aos quatro ventos
Co'a força do seu estado
A bate cola dos tentos

E o Rio Grande que de longe
Vem montado neste embalo
Será grato a vida inteira
Às patas deste cavalo

Picaço Velho


Picaço Velho
(José Mendes)

Um dia eu saí a camperear sozinho no meu picaço velho de estimação
Ele saiu relinchando como adivinhar que não voltava mais para seu galpão
O meu picaço velho era um cavalo que foi bem ensinado e muito mansinho
Quando eu tinha preguiça de buscar o gado o meu picaço velho trazia sozinho

Sai à galopito pela estrada afora e meu picaço velho ia remoendo o freio
Eu sai com o destino de ir na invernada só para ver meu gado e dar sal no rodeio
Depois que eu dei o sal eu vi um boi brazino e sempre boi brazino bem valente é
Apartei ele do gado  desatei meu laço arrochei o meu picaço só pra ver o tropel

Lacei esse brazino lá na beira do mato e esta estória triste até o animais sentem
O meu picaço velho se perdeu no valo e eu abri a perna a sai lá na frente
E este boi brazino quando me avistou abaixou a cabeça e fez um pegada
Tirei o corpo fora ele passou por mim, olhei para trás e dei uma risada

E foi nesta rodada que meu pingo amigo ficou estendido na terra vermelha
Mas joguei meu doze braças e argola tiniu peguei as duas guampas e defendi as orelha
E quando estirou o laço desse boi brazino ele virou de ponta nem pro mato foi
O meu picaço velho que quebrou o pescoço e morreu gemendo e olhando pro boi

Pedro Guará

Pedro Guará
(Cláudio Boeira Garcia, José Cláudio Machado)

Num lamento, chegou o Minuano
Anunciando o último inverno
O orvalho chorou nas campinas
E o céu enlutou as estrelas

Pedro Guará, sentindo mais forte
Cheiro da terra, o vento do sul
Entrava no rancho, no calor do braseiro
Mateava na espera do tempo chegar.

Pedro Guará, viveu aragano
Campereando manhãs distantes
E passando plantava alegria
O riso ficava quando partia.

Pedro Guará, partiu sem rastro
Fruto maduro na volta pra terra
Rasgando um riso, seu último gesto
Sumiu da serra, não vai mais cantar.

Milonga Abaixo De Mau Tempo

Milonga Abaixo De Mau Tempo
(Mauro Moraes)

Coisa esquisita a gadaria toda,
Penando a dor do mango com o focinho n'água
O campo alagado nos obriga a reza,
No ofício de quem leva, pra enlutar as mágoas...

O olhar triste do gado atravessando o rio,
A baba dos cansados afogando a volta,
A manhã de quem berra num capão de mato,
E o brado de quem cerca repontando a tropa...

Agarre amigo o laço,
Enquanto o boi tá vivo,
A enchente anda danada molestando o pasto,
Ao passo que descampa a pampa dos "mirréis"
E a bóia que se come, retrucando o tempo
Aparta no rodeio a solidão local
Pealando mal e mal o que a razão quiser...

Amada!
Me deu saudade,
Me fala que a égua tá prenha,
Que o porco tá gordo,
Que o baio anda solto,
E que toda a cuscada lá em casa comeu!

Coisa mais sem sorte este peste medonha,
Curando os mais bichados deu febre no gado,
Não fosse a chuvarada se metendo a besta,
Traria mil cabeças com a benção do pago...

Dei falta da santinha limpando os peçuelos,
E do terço de tento nas preces sinuelas,
Logo em seguidinha é semana santa,
Vou cego pra barranca e só depois vou vê-la!

Agarre amigo o laço,
Enquanto o boi tá vivo,
A enchente anda danada molestando o pasto,
Ao passo que descampa a pampa dos "mirréis"
E a bóia que se come, retrucando o tempo
Aparta no rodeio a solidão local
Pealando mal e mal o que a razão quiser...

Amada!
Me deu saudade,
Me fala que a égua tá prenha,
Que o porco tá gordo,
Que o baio anda solto,
E que toda a cuscada lá em casa comeu!

Amada!



Cantar Galponeiro

Cantar Galponeiro
(Oacy Rosenhaim, Nilo Bairros de Brum)

Meu verso é rio de águas claras
Correndo para o remanso
É igual a um potro manso
De andar garboso e faceiro
Faz tempo que é meu parceiro
Pois é meu verso que acalma
As penas da minha alma
Nas horas de desespero

O meu cantar galponeiro
Traz a marca da querência
E a prova de uma existência
Cevada no mate amargo
E quem aceita o encargo
De campeiro cantador
Sabe que é fiador
Da memória do seu pago

Quem não renega as origens
É cerno de corunilha
Plantado numa coxilha
Palanque por vocação
Esta xucra devoção
Expressa através do verso
Participa do universo
Sem desgarrar do seu chão

O meu cantar galponeiro
Traz a marca da querência
E a prova de uma existência
Cevada no mate amargo
E quem aceita o encargo
De campeiro cantador
Sabe que é fiador
Da memória do seu pago

Meu verso carrega o timbre
Do sentimento nativo
E cada rima é um estrivo
Onde se afirma a consciência
E nessa busca de essência
Meu canto é quase sagrado
Porque projeta um legado
Além da minha existência

O meu cantar galponeiro
Traz a marca da querência
E a prova de uma existência
Cevada no mate amargo
E quem aceita o encargo
De campeiro cantador
Sabe que é fiador
Da memória do seu pago

Batendo Casco

Batendo Casco
(Mauro Moraes)

Num trote fronteiro de atirar o freio,
Vou topando o vento, só por desaforo
De ganhar a vida num gateado oveiro,
Louco de faceiro, junto dos cachorros

Pelo campo-fora, pelas campereadas,
Apresilho os olhos num florear lindaço
De arrastar pro toso as ovelha-mestra,
E tudo que não presta de arredor do rancho

Me pilcho bem lindo, tipo pro namoro
Cabresteando as rugas deste amor bagual
Que ao cambiar das léguas, vai boleando a perna
Pra Santana Velha do Rio Uruguai

De sovéu bem curto, vamo meu cavalo,
Amagando pealos nesse mundaréu
Atorando as chircas numa manga d'água,
Amadrinhando a mágoa sem tirá o chapéu

Semo um do outro sem rasgá baxeiro,
Adelgaçando o pelo neste manancial
Aparando as crinas, do pescoço a orelha,
De uma égua prenha sem passa o bucal

Me pilcho bem lindo, tipo pro namoro
Cabresteando as rugas deste amor bagual
Que ao cambiar das léguas, vai boleando a perna
Pra Santana Velha do Rio Uruguai

Do Rio Uruguai, do Rio Uruguai, do Rio Uruguai

Alambrador

Alambrador
(Valdo Nóbrega, Lucio Yanel)

Ergue a pau o alambrador
E os buracos vão brotando
E os moirões se enfileirando
Que nem soldados pra guerra.

Um socado de capricho
Pra que ninguém se desgoste
Por grosso que seja o poste,
Não lhe deixa sobrar terra.

Gira a pua sai fumaça
Num moirão de guajuvira
E o alambrado se estira
Tal qual um pinho afinado.

O serrote marca os trastes
Já vem o atilho depressa
Se enroscando na promessa
De viver sempre abraçado.

Rabicho e morto de angico
Pra que o cinronaço agüente
Amordaça, gruda os dentes
Espicha firme o arame.

A chave enrodilha a ponta
Como quem guarda um segredo
Quando escapa e dá nos dedos
Alamaula, dor infame!

À noite á beira da carpa
Ao ver a estrela cadente
Três pedidos, num repente
Faz depressa antes que apague.

E a cada alambrado firme
Tenha outro pela frente
E um piazito sorridente
Para ensinar-lhe o que sabe.

Rabicho e morto de angico
Pra que o cinronaço agüente
Amordaça, gruda os dentes
Espicha firme o arame.

A chave enrodilha a ponta
Como quem guarda um segredo
Quando escapa e dá nos dedos
Alamaula, dor infame!





Gracias Luis

Potro Sem Dono

Potro Sem Dono
(Paulo Portela Fagundes)

A sede de liberdade
Rebenta a soga do potro
Que parte em busca do pago
E num galope dispara
Rasgando a coxilha ao meio
Mordendo o vento na cara.

Bebe horizonte nos olhos,
Empurra a terra pra trás
Já vai bem longe a figura,
Mostra um caminho tenaz
Da humanidade sofrida
Que luta em busca da paz

Vai potro sem dono.
Vai livre como eu.

Se a morte lhe faz negaça,
Joga na vida com a sorte
Desprezo da própria morte,
Não se prende a preconceitos
Nem mata a sede com farsas,
Leva um destino no peito.

Na seiva das madrugadas
Vai florescendo a canção
Aquece o fogo de chão,
Enxuga o pranto de ausência,
Esta guitarra campeira,
Velho clarim da querência.

Vai potro sem dono.
Vai livre como eu.

Poncho Molhado

Poncho Molhado
(José Hilário Retamozo, Ewerton Ferreira)

Poncho molhado, olhar na tropa
E no horizonte
Vai o tropeiro, devagar, estrada a fora
A chuva encharca, está chovendo desde ontonte
Dói dentro d'alma, esta demora

Irmão do gado, ele se sente nesta hora
E o seu destino, também vai, neste reponte
Igual a tropa nesse tranco, estrada afora
Sempre encharcado de horizonte

A tropa segue, devagar, mugindo tonta
Talvez pressinta que seu fim
É o matadouro
E o tropeiro, entristecido, se dá conta
O boi é bicho, mais tem alma sob o couro
O boi é bicho, mais tem alma sob o couro...

A Boa Vista Do Peão De Tropa

A Boa Vista Do Peão De Tropa
(Mauro Moraes)

Nos rincões da minha querência, arrabaleira conforme a vontade
Me serve um mate, pampa minha, nesta vidinha que me destes
Antes que embeste a novilhada, prá o mundo alheio das porteiras
Saúdo a poeira destas crinas, que me arrocinam sujeitando

E da garupa do cavalo, faço um regalo à ventania
Que na poesia destas léguas, tomo por rédeas e conselhos
Chamo no freio a coisa braba, o tempo é feio, mas que importa
Quando se engorda na invernada, não falta nada
Prá quem baba de focinho levantado e mais curioso

A fim de ir, a estância do passo, na direção de casa, costeando o arvoredo
O meu desespero porfia co'a tropa, fazendo o que gosta ao sul de mim mesmo
E todo o bem que havia maneado ao destino, divide caminho com a rês que amadrinha
O rio que eu não via, mimando de sede, a minha saudade

Na função dos meus afazeres, rememorados conforme a manada
Vou ressabiando afeito a fadiga, nas horas mingas de sossego
Talvez melhore durante a sesteada, sou por demais igual a campanha
Tamanha a alma de horizonte, ali defronte os cinamomos

Já não habita a teimosia, atropelando o meu rodeio
Quando me agüento no forcejo, pra erguer no laço os caídos
Não me lastimo, nem receio, vou pelo meio do sinuelo
Tocando manso os mais ariscos, só pelo vício de por quartos
Cuidar do gado, rondando o baio, que amanuceio

A fim de ir, a estância do passo, na direção de casa, costeando o arvoredo
O meu desespero porfia co'a tropa, fazendo o que gosta ao sul de mim mesmo
E todo o bem que havia maneado ao destino, divide caminho com a rês que amadrinha
O rio que eu não via, mimando de sede, a minha saudade





Juntando Os Gravetos

Juntando Os Gravetos
(Mauro Moraes)

Eu tenho muito, dessa mania de querer escrever de fazer de tudo um pouco
E sempre dedilho a palavra de alma lavada juntando este tempo louco
Se a trova anda em desova é porque o violão dilacera quem lê
E a porta logo escancara com os olhos em brasa pagando pra vê

Na distância de quem espera à léguas ando tocando o cavalo
Um baio bem encilhado, e às vezes topo com o gado, lambendo o sal no rodeio

Ando à procura de alguém que me de um aparte também é verdade
E ainda tiro o chapéu, olhando firme pro céu, queimando a carne
E desde cedo me vejo em conflito comigo, levando cada baita pealo,
Coisas de pampa e fronteira, campo e campeiro, tomando mate

Tristeza vou pôr uma beca, sair campo a fora, prosear com a querência
Juntando os gravetos saber como anda as ovelhas
E algumas porqueiras que eu gosto de ter

Lá em casa na hora do rango, a cuscada late, bate-cola
O cheiro da bóia é bom, saudade me passa o pão e o leite dos guachos
No pátio a solidão varre o cisco, o coração sabe disso e se esparrama nos galhos
Logo o violão mete bronca e antes que a vida responda, que mal tem um agarro

Tristeza vou pôr uma beca, sair campo a fora, prosear com a querência
Juntando os gravetos saber como anda as ovelhas
E algumas porqueiras que eu gosto de ter

Na Paz Do Galpão

Na Paz do Galpão
(Gujo Teixeira, Marcello Caminha)

A tarde cai, eu camboneio um mate
Junto ao braseiro do fogo de chão
O pai-de-fogo, puro cerne de branquilho
Queimando aos poucos na paz de um galpão

O mesmo inverno coloreando o poente
Final de lida, refazendo o dia
Lá no potreiro meu baio pastando
No cinamomo um barreiro em cantoria

Por certo a tarde em outros ranchos da campanha
Por serem humildes tenham a paz que tenho aqui
Pois só quem traz sua querência dentro d'alma
Sabe guardar toda esta paz dentro de si

Encosto a cuia junto ao pé do pai-de-fogo
Chia a cambona repontando o coração
Nas horas mansas que a guitarra faz ponteio
Numa milonga pra espantar a solidão

É lento o tempo na paz de um galpão
Ainda mais quando a saudade bate
A soledade vou matando aos poucos
Na parceria da guitarra e do mate

Então a noite se acomoda nos pelegos
Povoando os sonhos de ilusão e calma
Toda essa paz é um bichará pro inverno
Faz bem pro corpo e acalenta a alma

Por certo a tarde em outros ranchos da campanha
Por serem humildes tenham a paz que tenho aqui
Pois só quem traz sua querência dentro d'alma
Sabe guardar toda esta paz dentro de si

Encosto a cuia junto ao pé do pai-de-fogo
Chia a cambona repontando o coração
Nas horas mansas que a guitarra faz ponteio
Numa milonga pra espantar a solidão

Canto Do Entardecer

Canto Do Entardecer
(Telmo de Lima Freitas)

A rolinha canta no dorso do galho
Saudando o orvalho que à tardinha cai
Ao longe as garças de plumagens brancas
Enfeitam barrancas no rio Uruguai

Logo escurece, se ouve a cigarra
Mesmo sem guitarra se põe a cantar
Quero-quero grita seu canto charrua
Saludando a lua que está por chegar

E o sabiá responde num tom requintado
Mesmo apaixonado cantando distrai
Ao longe as garças de plumagens brancas
Enfeitam barrancas no rio Uruguai

Xucro Ofício

Xucro Ofício
(Anomar Danúbio Vieira, Zulmar Benitez)

Nem bem clareia e já me encontro chimarreando
Ao pé do fogo que aquenta as madrugadas
Daqui um pouquito o sol desponta no horizonte
To desde ontonte com as idéias engarrafadas

Pra o parapeito do galpão arrasto as garras
Buçal na mão vou tiflando pra mangueira
Meio sestrosa me cuidando a matungada
Vem da invernada e fica flor de caborteira

Mas que me importa pois me levantei aluado
Cano virado das minhas botas garroneiras
Toda segunda tem bagual de lombo inchado
Adivinhando que passei de borracheira

Junto as argolas do cinchão no osso do peito
Procuro um jeito busco a volta e me enforquilho
Depois que monto e atiro o caixão pra trás
Só Deus com um gancho pra me sacar do lombilho

Me dá vontade de prender o buçal na cara
Deste picaço que esqueceu como se forma
Mas eu garanto que embaixo dos meus arreios
Conhece o freio e aprende a respeita as normas

Prego no grito e tacho os ferros na paleta
De boca aberta o queixo roxo vem de garra
Lida baguala que em muitos mete medo
Meu xucro oficio que por vicio fiz de farra