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Madrugadas De Agosto


Madrugadas De Agosto
(Severino Moreira, João Bosco Ayala)

“Imagens de um inverno brabo aos olhos de um guri acostumado a quebrar geada na sola do pé.”

Que geada velha lobuna
É de renguear a cuscada
De rachar teto de vaca
E amontoar a porcada
Criar natas de gelo
No espelho das aguadas.

Encorujar pinto guaxo,
Numa lampana de frio
Fazer o vento sumir
Sem deixar um assobiu
Levantar a bruma branca
Pelos caminhos do rio.

O mato dormir chorando
Alumiando o folharedo
Pelego branco estendido
Na extensão do varzedo
Que o piazito campeiro
Nem sente a ponta dos dedos.

Cobrir o pelo da quincha
E os flecos de picumã
Manojo de pasto seco,
Na sombra do tarumã
Emenda a geada de hoje
Noutra que vem amanhã.

São madrugadas de agosto
Neste pago estremecido,
A fome rondando tropas,
No pastiçal ressequido
Saudades de primavera,
De pasto e campo florido.

A Querência É Residente


A Querência É Residente
(Vaine Darde, João Bosco Ayala)

Não penses que a querância te abandona
No momento em que te ausentas
A querência te acompanha
E vestida de saudade,
Na distância se apresenta

Pois sempre quando a gente vive fora
O coração não se acostuma
Nem percebe que por dentro
Quanto mais o tempo passa
A querência se avoluma

Onde somos passageiros,
A querência é residente
A querência é a existência
Do pampa dentro da gente

A querência muito mais que geografia
É sentimento crescente
A gente se ausenta dela
Porém percebe que ela
Fica morando na gente.

Toda vez que alguém se vai
Pra fazer itinerário
A querência se expande
E onde quer que se ande
Ela impõe seu território.

Tropa Morta


Tropa Morta
(Volmir Coelho, João Bosco Ayala, Everson Maré)

Segue o corpo desta tropa
Findando a vida na estrada
O berro é o triste lamento
Indo ao fim da jornada
Peão e tropa um só destino
Findar no sal das charqueadas

Na ponta a “morte” chamando
Por conhecer o caminho
Num grito de venha...venha...
Pra o corpo que aos pouquinhos
A cada marcha encurta a vida aqui na culatra
Seguindo o rastro vai indo

Tropa morta pelo tempo
Conduzida ao matador
Somos iguais nesta estrada
Que o tempo fará o fiador...

Ficara somente o rastro
Desta tropa que passou
Até mesmo um mal costeado
Que duma ronda furou
Venho na “corda” berrando...
...e berrando se “quedou”.

Tropa morta no caminho
Segue lenta ao destino
Sem saber pra onde vai
Tropeiro e tropa um só rumo
De ir sem voltar jamais...

Canto Ao Pastoreio

Canto Ao Pastoreio
(Eliezer Tadeu Dias De Sousa, João Bosco Ayala)

Boleio a perna num verso...
Do verso faço uma prece...
A inspiração transparece
Num simbronaço de luz
Que este negrinho traduz
A devoção da minha raça,
Que vive pedindo graças,
Como a um segundo Jesus...

E, como tantos, pedi
E também fui atendido,
Achei os sonhos perdidos,
De adelgaçados anseios...
E agora que sento arreios,
No lombo desses rosilhos,
É graças a ti, que encilho,
Negrinho do Pastoreio...!

Escreves por linhas tortas,
De forma certa e parelha...
E segue batendo orelha
Com tantos santos sangrudos...
Canonizados, fachudos
No pedestal das igrejas,
Mas tu tens campo e carqueja
E o Rio Grande acima de tudo...!

Te quarteou outro moreno,
Entre o tempo e a distância,
Também crioulo de estância,
Mesma alma em transparência...
Mesma cor na descendência
E o mesmo gosto por potros,
Encarnados um no outro
Pra sinuelar a querência...

Vos agradeço, parceiros,
Por esta graça alcançada,
Me deste céu e estradas,
E rumos a percorrer...
Pingos de lida e lazer,
Meus troféus de casco e crina,
O bem maior da campina
Que um Gaúcho pode ter!

Escreves por linhas tortas,
De forma certa e parelha...
E segue batendo orelha
Com tantos santos sangrudos...
Canonizados, fachudos
No pedestal das igrejas,
Mas tu tens campo e carqueja
E o Rio Grande acima de tudo...!