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Mostrando postagens com marcador João Ari Ferreira. Mostrar todas as postagens
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Filhos Do Ibicuí

Filhos Do Ibicuí
(João Ari Ferreira, Delci Taborda)

De pau-a-pique e capim às margens do Ibicuí
Ergueu-se aldeia antiga da Redução Guarani
A crença nos Inacianos rebanhos e plantações
Firmaram por essas plagas
Os esteios das missões

O gado xucro extraviado fez surgir o lusitano
Para tornar estancieiro o puro chão campechano
E das margens do Ibicui madeiras de puro cerno
Trombaram pra ser trincheiras
Contra os rigores do inverno

Da nascente ao Uruguai
Às margens do Ibicuí
Revelam em suas areias
Os meus rastros de guri

Entre esperas e pesqueiros
A beira dos sarandis
Veranista ou pescador
Somos filhos do Ibicui.

Douraram os arrozais
Nas várzeas verdes e planas,
Quando o rio abriu os braços
Saciando a sede das plantas

A trama insana das redes
Foi trucidando cardumes,
Feito a flor que feneceu
Bem antes de ser perfume.



FILHOS DO IBICUI - Delci Taborda by guascaletras

A Encomenda


A Encomenda
(João Ari Ferreira, Piero Ereno, Sabani Felipe de Souza)

A tecelã em seu tear bem compassado
Tecia sonhos pelas noites de serão
A lã macia em densos fios enrodilhada
Trançava as horas pra abrandar a solidão

Findando a esquila o serviço aumentava
Chergões de garras bicharás de pura lã
Mas o cansaço jamais faria amargar
Os sonhos doces da menina tecelã

Até que um dia o amor soprou as brasas
Pra aquecer aquelas noites de invernia
Quando chegou de muito longe um rude moço
Trazendo em bolsas os suores de uma esquila
A encomenda de um pala dos bem gaúchos
Fez a mocita desatar – se num sorriso
Num breve mate o enlace da paixão
Acalentou nos corações um sonho lindo

Ficaram garras e velos bem separados
Feito os olhares na hora da despedida
Depois o moço seguiu rumo à fazenda
Deixando nela uma paixão adormecida

Passou o tempo aprontou – se a encomenda
Findou – se a espera na chegada do amado
Que além de um pala feito de lã e ternura
Levou a moça na garupa do gateado

Ao Pé Da Serra

Ao Pé Da Serra
(João Ari Ferreira, Nilton Ferreira)

Tenho uma casinha simples junto ao pé da serra
Onde eu e a felicidade moramos por lá
Tenho uma viola parceira que se faz companheira nas noites de luar
E uma varanda em florada, cantando pra amada e pra gente do lugar

Chora viola, chora que o meu coração
Abraçou a emoção que acabou de chegar
Pela fresta deste rancho
Um facho de lua abençoa o cantar

Quando rompe a luz do dia vem a sinfonia
Da natureza com sua beleza em tom matinal
Há um murmúrio de rio no fundo do terreiro
Onde um galo faceiro faz seu recitar
A paz que tem neste lugar
Não tem hora marcada pra se manifestar

Chora viola, chora que o meu coração
Abraçou a emoção que acabou de chegar
Pela fenda dos postigos
Um raio de sol vem me despertar

Bem ao jeitinho do rancho meu poema é singelo
Mas de palavra em palavra toca o coração
Enquanto a luz da paixão clareia a morada,
Um verso pra amada logo vira canção
A paz que tem neste lugar
Não tem hora marcada pra se manifestar

Chora viola, chora que o meu coração
Abraçou a emoção que acabou de chegar
Pelos palcos e varandas
Nos sobram motivos pra gente cantar

Conterrâneos

Conterrâneos
(João Ari Ferreira, Sabani Felipe de Souza)

Depois de ausente tanto tempo longe
Vou te rever minha querência antiga
Saudade grande me apertando o passo
Pra trocar abraços com essa gente amiga

Quando repiso teu torrão vermelho
Cortando rumo entre ervais e sojas
Me volta imagens dos avós de ontem
Esteios firmes da palmeira nova

Da erva buena carreteada longe
Do gado alçado pelas sesmarias
Criou raízes lá de Linha Velha
Pra Santo Antônio apadrinhar um dia

Ficou no pátio da infância humilde
Uma sombra eterna para os Guaranis
Por que a alma de quem foi embora
Naquela hora se plantou aqui

As matarias de ipês e grapias
As araucárias sempre vigilantes
Atrás ficaram no horizonte vasto
E o tempo largo os tornou distantes

Vozes e roncos prenunciando safras
E o pulsar de um só, e o ritmão do fundo
Sinfonia agrária que o progresso mescla
Ao som das águas nos lajeados rubros

Guardei comigo cada imagem tua
O azul das gralhas e o verde dos galhos
A seiva do mate o fio do biscaio
E as águas dos olhos pra volta ao borralho

Ficou no pátio da infância humilde
Uma sombra eterna para os Guaranis
Por que a alma de quem foi embora
Naquela hora se plantou aqui