Cadastre seu e-mail e receba as atualizações do Blog:

Mostrando postagens com marcador Jader Leal. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Jader Leal. Mostrar todas as postagens

Que Saudade Que Dá

Que Saudade Que Dá
(Jader Leal, Mateus Mampert)

Ah, que saudade que dá,
De lá da fronteira, que saudade que dá
Livramento e Rivera, fronteira da paz,
Que saudade que dá!

Ah, que saudade que dá,
De uma potra matreira, esperando cerrar
A armada do laço, pra ver o manotaço,
De trás das orelhas.

Ah, que saudade que dá,
De uma tosa de ovelha, uma penca parelha
Me oitavar num galpão, remendando um redião
Deixar que o dia se estenda...

Ah, que saudade que dá,
Da prosa galponeira, um radinho na AM tocando vaneira,
De um mate cevado à moda lá da fronteira.

Ah, que saudade que dá,
De lá da fronteira, que saudade que dá
Livramento e Rivera, fronteira da paz,
Que saudade que dá!

Ah, que saudade que dá,
De um rodeio parado, ovelheiro do lado,
Pra saltar botando
Quando um sapucay passar o recado.

Ah, que saudade que dá,
Do gado retovando, um aparte de campo
E a minha zaina alçada, escarceando na aguada,
Voltar “prás casa” ao tranco.

Ah, que saudade que dá,
Do cheiro da minha terra, um murmúrio de mato
Quando um touro berra
Das coisas do pago... Lá do Passo das Pedras!!!!

Pela Volta Das Casas

Pela Volta Das Casas
(Jader Leal, Gilmar Batista)

Quando a saudade abre suas asas
Me vejo um menino ao redor das casas
Florescendo o arvoredo, perfume bueno no ar
A cacimba cheia, junto às taquareiras
O barreiro canta sua sinfonia,
Anunciando o dia, para a companheira

Tinha confiança, na minha tordilha
Que foi bem domada, só pra minha encilha
A invernada grande, o passo do fundo
Roendo as barrancas, segue o seu destino...
Vou seguindo o rastro, que deixei no pasto,
E revivo o tempo quando era menino

A figueira grande, o açude ao lado
Descarnar moirões, pra o novo alambrado
O varal de roupas, o jardim da casa
Gado no rodeio, berro de terneiros
Regeira torcida, pra calar na orelha
E arrastar madeira, pra amansar tambeiros

Hoje meu mate, me trouxe a infância
E eu me vi menino, no galpão da estância
As vacas de leite, vindo pra mangueira
O monte de lenha, e as estrebarias
O mate cevado, cambona chiando
Os guaxos berrando, ao clarear o dia

A vida no campo, faz parte de mim,
Pois me viu nascer, e há de ver meu fim
Um dia eu volto, pra soprar as brasas
Montado num flete, ao vento sulino
Revendo o destino, e então eu me sinta
Outra vez um menino, na volta das casas

Num Silvido Proseio Meu Mundo

Num Silvido Proseio Meu Mundo
(Jader Leal, Mateus Lampert)

Num fundo de campo
Um posto da estância
Silêncio e distância
São partes de mim
Sou como o vento
Vivendo a meu tempo
Verões e invernos encontram-me assim

No tropel das manhãs
Já de mate lavado
Alço a perna no basto
E procuro o meu eu
Recorrendo invernadas
Não preciso palavras
Num assovio a alma proseia com Deus

Se encilho meus potros
Prá sovar as garras
A ânsia dispara
E amadrinha o galope
Assim num silvido
Proseio com o bicho
Voltando “pras casa”
Ao compasso de um trote

Assim é meu mundo
Sem ter solidão
Rancho e galpão
Do jeito que eu quis
Potrada prá encilha
É grande a tropilha
Na paz do campo que me faz feliz

À beira de um fogo
Repenso a vida
Sou parte da lida
E assim vou levando
Campo e eu somos um
Num silvido comum
A solidão tem um preço que pago cantando

Lua De Estio

Lua De Estio
(Jader Leal, Rafael Zinho, Cleiton Santos, Mateus Lampert)

A sede do tempo secou as cacimbas
E os olhos da sanga só choram um fio
O campo minguando sabe que a seca
Se agranda no outono na lua de estio

As invernadas perdendo o viço
Novilhas no milho que não pendoou
A graxa das tropas perdeu-se na busca
Da velha barragem que o tempo secou

Negaram-se as chuvas que o março trazia
E a terra sentida, negou-se também
A mão campeira perde a serventia
A espera da lua no quarto que vem

O balde de lata rompendo silêncios
Só bebe esperanças num poço vazio
A pipa retoma o ofício carreiro
Quebrando o vidro do espelho do rio

A seca se agranda... É lua de estio

No campo judiado, um quadro sem vida
Retrata a dor a que o céu nos condena
Olhares garoam em preces mudas
E sofrem com o campo a dor dessas penas

O sol vai sumindo fica o campo em brasa
Os homens e os bichos e estes rancherios,
Parecem chorar, sonhando vertentes
Ao olhar silente da lua de estio

Hace Tiempo

Hace Tiempo
(Jader Leal)

Hace tiempo que as manhãs lá da estância
Não me encontram na “Invernada d’Ocalito”
Juntando o gado pra repassar no rodeio
Quando encilhava e ia ao tranco do zainito

Hace tiempo que os tentos do meu laço
Não cerram nas aspas de uma novilha
E um redomão não se arrasta “veiaquiando”
Pra eu forcejar num pelado de coxilha

Hace tempo, mas ainda sou o mesmo
Que a madrugada encontrava no galpão
Com olhos claros de lua e de sereno...
Hace tempo e não olvido meu rincão”

Hace tiempo que o lombo do cavalete
É morada do meu basto Paysandú
E as esporas são enfeites na parede
Com o bocal que ressecou o couro cru...

Hace tempo que aquele cusco amigo
Costeava o pingo no seu posto de escolta
E era o mesmo que alvorotava encilha
Fiel parceiro, no tranco de ida e volta

Depois Dos Mates

Depois Dos Mates
(Jader Leal, Mateus Lampert)

Sorvo no silêncio dos meus mates
Um aroma de campo e de galpão
A estrada se apequena pouco a pouco
Tenho meu mundo na palma da mão

Lavo a erva pura folha castelhana
Requento a água já fria na cambona
Encilho o mate como quem encilha um sonho
Ligo o rádio e ouço um toque de cordeona

Depois dos mates a alma se “aliviana”
Das distâncias que por sina são malevas
Depois do mates sou a cambona vazia
Que derramou suas saudades sobre a erva

Outro dia já me encontra mateando
Junto à cuia cevo sonhos de esperança
Lembro o mate ao pé do fogo com meu pai
Nas manhãs claras de inverno na estância

Troco alpargatas por sapato e calça reta
E saio manso do meu rancho na cidade
Sigo em frente construindo meu caminho
Deixo as lembranças recostadas no meu mate

De Estrada E Tropa

De Estrada E Tropa
(Jader Leal, Mateus Lampert)

Tropeei pela canhadas, do Carcávio ao Pedregal
Enquanto a flor do pajonal desabrochava na invernada
Avistei a lua prateada, trazendo luz à escuridão
Como o lume do lampião refletido na minha adaga

E o baeta colorada, pronto para ser sinuelo
Costeado pelo cincerro no trote da minha bragada
Uma morena enfeitiçada vem pra ser meu pesadelo
E motivos de atropelos nos rumos desta tropeada

Tropeiros, homens campesinos, que levam a vida na estampa
Tentando semear na pampa um pouco dos seus destinos
Quando se vão ao passo, com a tropa encordoada
Deixam a pampa marcada de cascos e sonhos perdidos

A estrada se vai à lo largo, e o dia passa com pressa
A vida fica às avessas nas patas de um cavalo
Quem sabe o corredor reserve algo depois da curva
Pra clarear a visão turva de um tropeiro ponteador

A chuva senta a poeira de léguas de estrada dura
E o meu aba larga se apruma com o vento que guasqueia
A fumaça se enleia, enquanto a tropa descansa
Essa sina é a herança dos vaqueanos da fronteira.

Com Mossa Na Cola

Com Mossa Na Cola
(Eduardo Soares, Fabricio Harden)

Cruzou um peão de campo, na frente das casas
Pingando as abas do velho chapéu
O poncho da lida abriga em seu rancho
Campeiro e arreios das manhas do céu

Não se livra encilha, por mais tempo feio
Naqueles potreiros que têm parição
Se achega o setembro, vem pasto e terneiros
Pra o ano inteiro crescer parição

E hoje a estâncias precisam em seu campos
Rodeios de cria com mossa na cola
Já inseminados gerando um terneiro e desmamando outro
Pra não ser esmola

Quem vive no campo e conhece o serviço
Tem por compromisso a lida que encerra
Pois campos povoados, cumprindo sua sina
Garantem sustento e a posse da terra.

Se os campos gaúchos, campanha e fronteira
Tomarem a dianteira com sua produção
Serão mais tranqüilos os finais de tarde
Pra o mate dos buenos junto do galpão

Então nas estâncias, os homens da encilha
Irão pra coxilha pararem rodeio
Mas de um gado Bueno que ao longo do tempo
Garanta o sustento da paz como esteio

Bem Gaúcho Deu Pra Ver

Bem Gaúcho Deu Pra Ver
(Gujo Teixeira, Érlon Péricles, Ângelo Franco)

Que taura bem entonado aquele que vem na estrada
Vem numa pose de chefe, embora não mande nada
Vem faceiro escramuçando uma rosilha bragada
Que não come o ano inteiro, mas em setembro é amilhada

Os “arreio” do pachola, até se param “engraçado”
É um xergão de carda grossa, mas pequeno e desfiado
Pra sentar bem a carona, de couro seco empenado
Vai um basto duas “cabeça” da marca “Lombo Pisado”

Um loro de cada de cada pêlo, por supuesto remendado
Estribos de dois tamanho, um liso e um “trabaiado”
Sem se falar dos “pelego”, tingido e já punilhado
E a cincha no osso do peito, com uns 8 fio remendado

E assim se vai pela estrada, pachola abanando os “trapo”
Se sentindo um farroupilha, muito mais do que um farrapo
Com a mesma fibra de antes que a História mostra o porque
Embora meio estropiado, bem gaúcho, deu pra ver

Bem gaúcho, deu pra ver, assim se vai pela estrada pilchado no próprio ser

Vai num bocó nos “arreio”, Creolin e umas “bolacha”
No outro pra contrapeso, meio litro de cachaça
Nos tento duro e sem sova um laço de 12 braça
Remalhado “quaje” todo e há mais de ano não laça

Os “apero” corda chata são de feitio caprichado
Da marca do velho Guiba, por ele mesmo emprestado
Da pilcha nem se comenta, é uma bombacha amarela
E umas espora bem grande pra conversar com a barbela

Chapéu desabado e torto, um lenço azul, desbotado
Por sobre a camisa branca, com nome de um deputado
Faca de prata e revólver abraçados na guaiaca
Com 120 moedas que valem mais do que a faca

Assim Tranqueia A Vida

Assim Tranqueia A Vida
(Jader Leal, Rodrigo Barreto, Mateus Lampert)

Foi olhando corda crua que entendi a função.
De que vale a presilha se não tiver o botão?
De que vale o amor, se não vier do coração?

Por ser um homem dos bastos trago a querência comigo.
De nada vale o loro se não tiver o estribo.
De nada vale um abraço se não vier de um amigo.

Assim tranqueia a vida, e deste jeito me agrada.
Por isto acolhero o sonho ao mesmo sonho da amada.
De renascer esperança num rancho de alma barreada.

Pela destreza da mão sai um trançado de estouro.
De nada vale o guasqueiro se não tiver um bom couro.
De nada vale um preparo sem os encontros do mouro.

O tempo mostra aos poucos que todo mundo é igual.
De que vale o cabresto, se não tiver o buçal?
De que vale o bem, se for menor do que o mal?

Água No Lombo

Água No Lombo
(Jader Leal, Mateus Lampert)

Finda a manhã de sol quente no janeiro
E o ovelheiro busca a sombra do galpão
Vem assoliado de um aparte de rodeio
Enquanto apeio e desencilho o redomão

Tiro dos queixo o bocal de couro cru
E o basto Paysandu molda o cavalete
Quem sabe hoje se apequene a estiada
Numa chuva anunciada lá pras bandas do Alegrete

Água no lombo da cavalhada da encilha
O rádio de pilha no compasso da chamarra
Imagem linda, mais um dia de verão
E no oitão os guaxos fazem algazarra

Água no lombo e a cavalhada na soga
O peão afoga o calor num gol de canha
Que contra o mate vai fazendo um costado
Assim me agrado dessa vida de campanha

Meia tarde vem chegando a recolhida
De pronto a lida chama prá invernada
Revisar uns boi, tá pintando o carrapato
E o mulato tirá uns pulo na gateada

Boi cruzado de zebu com polhango
Tala de mango prá um refugo caborteiro
Volta tranqueada e o capataz vai ao trote
Juntar um lote de borregos no potreiro

Água no lombo busco a volta e tiro o freio
E o tempo feio se arma num vento norte
Junto os pelego que deixei estaqueado
Pois sei o lado de onde vem a chuva forte

Água no lombo mais um dia que se acaba
Tapeio a aba do sombreiro prá o horizonte
Tá com jeito de que amanhece chovendo
Seria bom ta prometendo a dois ontonte