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Mostrando postagens com marcador Humberto Zanatta. Mostrar todas as postagens
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Felisberta

Felisberta
(Humberto Zanatta, Delci Taborda)

Felisberta
Deixa a tua janela aberta pra eu “podê chegá”,
Pois se a gente não se achega,
Não consegue “namorá”!
E se a gente não namora...
Como pode se “casá”?

Felisberta bem esperta flor mimosa do rincão
De tranquito rebolado, mais charmosa que pavão
Tem um pé de passarinho e tem rios de carinho
Transbordando o coração

Felisberta o teu jeito o jeito simples de tua gente
Dessa gente sem amor dos senhores e mandantes
Quantos há que querem tudo num rompante topetudo
Na sua pose de arrogante

O sorriso que saltita dos seus lábios fruta e mel
Tem a graça solta e leve de um beija-flor feliz
E o gosto aveludado do fruto bem cobiçado
Do pomar que tanto quis

Felisberta me desperta desde os tempos de guri
Quando então eu só sonhava
Com teus vales com teus montes
Feito homem busco ainda na paixão inquieta e linda
No aconchego da tua fonte



FELISBERTA - Delci Taborda by guascaletras

Minuano

Minuano
(Humberto Zanatta, Luiz Carlos Borges)

É um vento xucro que tem nome, tem história
Sua canção sobe a coxilha e se consome
Quem não conhece este vento meio gente
Jeito de índio, Minuano é teu nome

Chega de longe no seu tranco conhecido
Como um irmão que veio o outro visitar
E se entrevera nas rodadas galponeiras
Soprando o fogo pra chaleira esquentar

Fala de paz, fala de guerra, lembra o amor
Conta a verdade, pois mentir não aprendeu
A sua voz tem os lamentos do Rio Grande
E a viva marca de um povo que não morreu

Encilho o pingo despacito e, noite adentro,
Saio assobiando, cavalgando pensativo
Sinto no peito a força rude desse vento
Saudando o índio minuano em mim cativo

Olhando o céu, as estrelas e o pampa
Na estampa linda que se perde na distância
Tenho vontade de reunir todos os índios
Em um rodeio de irmãos na mesma estância

Vento de paz, vento de guerras e de amor
Conta verdades a teu povo que é o meu
Canta o Rio Grande e o gaúcho te dirá
Que o bravo índio Minuano não morreu

É um vento xucro que tem nome, tem história
Sua canção sobe a coxilha e se consome
Quem não conhece este vento meio gente
Jeito de índio, Minuano é teu nome



MINUANO - Luiz Carlos Borges by Guascaletras

Cria Enjeitada

Cria Enjeitada
(Humberto Gabbi Zanatta, João Chagas Leite)

Não tenho pressa e nem penso em ter mais pressa
Vou no meu tranco como boi na verga vai
Este meu jeito meio rude falquejado
Herdei da vida e um pouco de meu pai

Trago lembranças das grandes matarias
Das águas puras e das sangas sossegadas
Dos vales férteis, das serras e dos campos
Da natureza que era ainda respeitada

E sinto cheiro de terra após a chuva
De tantas flores perfumando sem cobrar
Do pão de forno, do apojo e da canjica
Da pitanga, da tuna e do araçá

E há em mim uma saudade latejando
Vozes de pássaros pedindo pra cantar
Gritos de bichos, sementes pequeninas
À espera de que possam germinar

Hoje a ambição fez pousada à minha volta
Plantou desertos em sementes traiçoeiras
Cria enjeitada do progresso que importamos
Batendo palmas à ganâncias estrangeiras

Só temos pressa e mais pressa pra ter pressa
Receita louca que inventamos pra morrer
De neuroses, de calmantes, pesticidas
Matando a vida que está doida pra viver

E sinto cheiro de terra após a chuva
De tantas flores perfumando sem cobrar
Do pão de forno, do apojo e da canjica
Da pitanga, da tuna e do araçá

E há em mim uma saudade latejando
Vozes de pássaros pedindo pra cantar
Gritos de bichos, sementes pequeninas
À espera de que possam germinar

Só temos pressa e mais pressa pra ter pressa
Receita louca que inventamos pra morrer
De neuroses, de calmantes, pesticidas
Matando a vida que está doida pra viver
Pra viver ...


João Chagas Leite e Grupo Horizonte - Cria Enjeitada by Guascaletras

Lições Da Terra

Lições Da Terra
(Humberto Zanatta, Ribamar Machado)

Por esta verga rotineira em que caminhas
Como boi manso ponteando a lavração
Vira e revira no silêncio do arado
A nova terra para outra plantação.

Neste teu rosto existem rugas que são vergas
E pelas veias do teu corpo correm rios
Os grossos dedos de tuas mãos são como adagas
Cortando a terra e as tranqueiras com seus fios.

Pequeno agricultor, tu és o grande
Plantador da nova roça que sonhamos
Do calo de tuas mãos há de brotar
O fruto da justiça que buscamos.

Tem muita gente que é mais àrida que a terra
Quando te explora, te expulsa e te maltrata
A terra bruta, como homem não se entrega
E vai um dia se vingar de quem a mata.

Quanto se aprende olhando claro em nossa volta
Semente frágil se transforma em linda fruta
Neste entrevero de homens, plantas e de bichos
Brota a certeza de que a vida é sempre luta.

Léguas De Solidão

Léguas De Solidão
(Humberto Zanatta, Luiz Carlos Borges)

Em andanças por caminhos
Fez sua vida carreteando
O próprio destino de peão.
Cruzou sanga, cruzou mar,
Pedra e pó encurtando
Distâncias ganhou o pão

Traçando estradas
Nos atalhos primitivos
No horizonte do bem longe andejou
Como cobra
Se estendendo nas coxilhas
Novas querências o seu rastro demarcou

Transportou com segurança
Os mantimentos
Para o comércio dos bolichos
Nas estradas

Carreteou cargas de lã
De sal e charque
E a própria história
No ajoujo da boiada

Nas pousadas foi plantando
Vilarejos no ofício
Da campeira geografia
Pelo pago teve amores
Que marcaram qual o canto
Da carreta que rangia

Rasgou o pampa
Em léguas de solidão
E da carreta fez trincheira e fez morada
Fez da lua, do cachorro e dos avios
Companheiros incansáveis das jornadas

Do roda roda do tempo vão sumindo
A junta mansa e a carreta velho trastes
Porém a fibra do remoto carreteiro
Não há tempo ou pedregulho que desgaste

Não Podemo Se Entregá Pros Home

Não Podemo Se Entregá Pros Home
(Humberto Zanatta, Francisco Alves, Francisco Scherer)

O Gaúcho desde piá vai aprendendo
A ser valente, não ter medo, ter coragem
Em manotaços dos tempos e em bochinchos
Retempera e moldura a sua imagem

Não podemos se entregar pros home
De jeito nenhum amigo e companheiro
Não tá morto quem luta e quem peleia
Pois lutar é a marca do campeiro

Com lanças, cavalo e no peitaço
Foi implantada a fronteira deste chão
Toscas cruzes solitárias nas coxilhas
A relembrar a valentia de tanto irmão

E apesar dos bons cavalos e dos arreios
De façanhas, garruchas, carreiradas
A lo largo o tempo foi passando
Plantando novo rumo em suas pousadas

Não podemos se entregar pros home
De jeito nenhum amigo e companheiro
Não tá morto quem luta e quem peleia
Pois lutar é a marca do campeiro
 
Vieram cercas, porteiras, aramados
Veio o trator com seu ronco matraqueiro
E no tranco sem fim da evolução
Transformou a paisagem dos potreiros

E ao contemplar o agora dos seus campos
O lugar onde seu porte ainda fulgura
O velho taura dá de rédeas no seu eu
E esporeia o futuro com bravura

Não podemos se entregar pros home
De jeito nenhum amigo e companheiro
Não tá morto quem luta e quem peleia
Pois lutar é a marca do campeiro

Tropa de Osso

Tropa de Osso
(Humberto Gabbi Zanatta)

De vez em quando no horizonte do passado
Surge uma nuvem de lembranças andarilhas
Vai repontando para dentro do meu peito
A minha infância com seus ossos em tropilha.

Tinha mangueira com banheiro bem cuidado
Tinha piquetes e um campo onde invernava
A minha tropa era de puro pedigree
Toda de ossos descarnados que campeava.

Gado de osso que foi parte do meu mundo
Carro de lomba e trator de corticeira
O meu bodoque e um banho no açude
Foram na infância minha vida verdadeira.

Tropa de osso quem não teve quando piá
Ou não foi piá ou não viveu como nós outros
Como era lindo a gurizada se entretendo
Com os ossitos que eram bois, ovelhas, potros.

Noutras andanças toco as reses dos meus sonhos
Por um estreito corredor feito esperança
Algumas vezes sou tropeiro, outras sou tropa
Mas sempre guardo os bois de osso na lembrança.

América Latina

América Latina
(Francisco Alves, Humberto Zanatta)

Talvez um dia, não existam aramados
E nem cancelas, nos limites da fronteira
Talvez um dia milhões de vozes se erguerão
Numa só voz, desde o mar as cordilheiras

A mão do índio, explorado, aniquilado
Do Camponês, mãos calejadas, e sem terra
Do peão rude que humilde anda changueando
E dos jovens, que sem saber morrem nas guerras

América Latina, Latina América
Amada América, de sangue e suor

Talvez um dia o gemido das masmorras
E o suor dos operários e mineiros
Vão se unir à voz dos fracos e oprimidos
E as cicatrizes de tantos guerrilheiros
Talvez um dia o silêncio dos covardes
Nos desperte da inconsciência deste sono
E o grito do Sepé na voz do povo
Vai nos lembrar, que esta terra ainda tem dono

América Latina, Latina América
Amada América, de sangue e suor

E as sesmarias, de campos e riquezas
Que se concentram nas mãos de pouca gente
Serão lavradas pelo arado da justiça
De norte a sul, no Latino Continente

América Latina, Latina América
Amada América, de sangue e suor