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Duelo De Adagas

Duelo De Adagas
(Luiz de Martino Coronel, Ewerton Ferreira)

Eram dois irmãos calados
- Um tropeça e outro cai -
O queixo duro da mãe,
O mesmo silêncio do pai.

As fainas do dia-a-dia
Carregavam ombro a ombro.
E tão bem se entendiam
Como o vulto e sua sombra.

Apostavam no mesmo baio,
Mateavam horas a fio.
No mundo não há quem explique
As razões do desafio.

Lutaram por sesmaria
Ou por afago de fêmea?
Ou quem sabe o braço afoito
Ou mesmo a boca blasfema?

Beberam jarras de ódio,
Comeram rações de avareza.
A ambição e a ganância
Sentaram na mesma mesa.

Poncho atado um no outro
E as adagas de um bom corte.
Enlaçados pelo ódio.
Abraçados pela morte.

Duas vertentes de sangue
Se encontram logo em seguida.
Nem mesmo a morte separa
Os rumos daquelas vidas.

Poncho Molhado

Poncho Molhado
(José Hilário Retamozo, Ewerton Ferreira)

Poncho molhado, olhar na tropa
E no horizonte
Vai o tropeiro, devagar, estrada a fora
A chuva encharca, está chovendo desde ontonte
Dói dentro d'alma, esta demora

Irmão do gado, ele se sente nesta hora
E o seu destino, também vai, neste reponte
Igual a tropa nesse tranco, estrada afora
Sempre encharcado de horizonte

A tropa segue, devagar, mugindo tonta
Talvez pressinta que seu fim
É o matadouro
E o tropeiro, entristecido, se dá conta
O boi é bicho, mais tem alma sob o couro
O boi é bicho, mais tem alma sob o couro...

Veterano

Veterano
(Antônio Ferreira, Ewerton Ferreira)

Está findando meu tempo,
A tarde encerra mais cedo,
Meu mundo ficou pequeno
E eu sou menor do que penso.

O bagual tá mais ligeiro,
O braço fraqueja às vezes
Demoro mais do que quero
Mas alço a perna sem medo.

Encilho o cavalo manso,
Mas boto o laço nos tentos,
Se força falta no braço,
Na coragem me sustento.

Se lembra o tempo de quebra
A vida volta prá traz
Sou bagual que não se entrega,
Assim no mais.

Nas manhãs de primavera
Quando vou parar rodeio,
Sou menino de alma leve
Voando sobre o pelego.

Cavalo do meu potreiro
Mete a cabeça no freio.
Encilho no parapeito,
Mas não ato nem maneio.

Se desencilho o pelego
Cai no banco onde me sento,
Água quente de erva buena,
Para matear em silêncio.

Se lembra o tempo de quebra
A vida volta prá traz
Sou bagual que não se entrega,
Assim no mais.

Neste fogo onde me aquento,
Remôo as coisas que penso,
Repasso o que tenho feito,
Para ver o que mereço.

Quando chegar meu inverno,
Que me vem branqueando o cerro,
Vai me encontrar venta-aberta
De coração estreleiro.

Mui carregado dos sonhos,
Que habitam o meu peito
E que irão morar comigo
No meu novo paradeiro.

Se lembra o tempo de quebra
A vida volta prá traz
Sou bagual que não se entrega,
Assim no mais.