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Mostrando postagens com marcador Edilberto Teixeira. Mostrar todas as postagens
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Na Sombra Do Cinamomo

Na Sombra Do Cinamomo
(Edilberto Teixeira, Carlos Leal)

Na sombra de um cinamomo
Olhando longe a coxilha,
Meus versos voam pra longe
Nas asas da redondilha.

A cuia, porongo quente,
Parece me acarinhar,
A grama verde me chama,
Vontade de me deitar!

Forro o capim com os pelegos
Pra poder me espreguiçar
Enquanto sorvo o amargo
De um verso rimado em ar.

Campeando o mote pra o verso
Me paro então a cismar,
E as rimas pobres se cansam
E morrem faltando o ar.

Minha alma está de lombeira
E o corpo meio esquisito,
Por mais que eu pense e repense
Não acho um verso bonito.

Sigo olhando as coxilhas
Maneado pelo aconchego
De um verso meio entrevado
Judiando a lã dos pelegos.

Na sombra de um cinamomo
Me espreguiçando com a rima,
O meu verso morreu de tédio
Nas tranças daquela china.


Lua Chirua

Lua Chirua
(Edilberto Teixeira, Ênio Medeiros)

A lua é uma gata angorá                                                            
Que pisa manso o telhado,
E a geada no descampado
Que ainda não levantou,
É um velo de lã merina,
É um seio branco de china
Que nem o sol não tocou;

A lua é prenda que foge
Do rancho do firmamento
E, engarupado no vento,
Vai alumiar a querência
Nos olhos negros da prenda
A lua cheia é uma oferenda
De paz, amor e de ausência

Esta lua é uma chirua
Que maltrata o meu sossego
Quando abre a pampa nua
Vem dormir nos meus pelegos.

A lua guia o gaudério
Como um celeste candeeiro
Quando ele vai, de escoteiro,
Abrindo atalho e caminho.
E atravessando o perau,
Meia noite, ouve o urutau
Chamando a fêmea pra o ninho.
  
E a lua cá do potrero,
Quando linda vai passando,
Faz minh'alma ir-se cantando
Na amplidão do seu luar
E este azul se azul não fosse,
Seria rima água-doce
De uma canção de ninar.

Esta lua é uma chirua
Que maltrata o meu sossego
Quando abre a pampa nua
Vem dormir nos meus pelegos.


Sinal Certo

Sinal Certo
(Edilberto Teixeira, Matheus Leal, Carlos Leal)

Maçarico voa em bando
Nuvens d’água repontando,
Quero-quero avisa seca
Na lagoa se ajuntando.

Se a seriema águas a baixo
Sai correndo, vai chover.
Se, ao contrário, águas acima
Grande seca vai se ver.

João-de-barro bate palmas
Com a barreira pra cantar.
Êta, bicho mentiroso,
Quer bom dia anunciar!

Quando o burro se bolqueia,
Frente às casas, vai chover.
Saracura, quando canta,
Mesma coisa quer dizer.

Se o cavalo está suando
Sem se ter desaguachado,
“Vai chover de canivete”
Lá pras bandas do cercado.


De Estrela A Estrela

De Estrela A Estrela
(Edilberto Teixeira, César Oliveira)

Quando a boieira linda aponta
De manhã no alto da telha
Pai-de-fogo acende a ponta
Com as faíscas dessa estrela

Seu clarão acorda os galos
Chia o bico da chaleira
Une os bois, toca os cavalos
Bota as vacas na mangueira

Na garupa traz a aurora
E as cantigas pra o terreiro
Lá no cerro imita a espora
No garrão do peão campeiro

Sempre a boieira traz o dia
Meia légua antes do sol
E à tardinha é a estrela guia
Que anuncia o arrebol

Relógio do campo
Ela acorda o peão
E o galo abre o canto
Ao enxergar seu clarão

Relógio do campo
Alumia o galpão
E lá no imenso vazio
Ela acende o pavio
Pra dizer que horas são

Quando o sol ébrio de sombras
Lá se vai manco do encontro
Dita Vênus, sai das lombas
Ver se o mate já está pronto

Mesma estrela vespertina
Vai com os bois beber na sanga
Lambe o sal dentro da tina
E vem dormir junto da canga

Com esta boieira viajada
O João-do-Campo se assemelha
Porque sempre a sua jornada
Vai de uma estrela a outra estrela

Madrugada e arrebol
Marcam assim a lida campeira
Muito mais que sol a sol
Vai da boieira a outra boieira


Flor De Corticeira

Flor De Corticeira
(Edilberto Teixeira, Lídio Vieira)

Linda flor matreira é da corticeira
Que nasceu na beira de um pequeno rio
Ela se estiola quando a padiola
Quebra a ventarola sob um sol de estio

Entre pedra e areia ela corcoveia
Se borboleteia pelo riacho a fora
Cheia de tristeza pela correnteza
A flor indefesa lá se vai embora

Ai, ai, ai, a flor que cai como a ilusão se vai
Ai, ai, ai, a mocidade vai pra não voltar jamais

A flor descansa da ligeira dança
Quando a onda mansa chega na barranca
Fica ali brincando se saracoteando
E se mascarando com a espuma branca

Com sua charanga maviosa sanga
Vai na caipiranga carregando a flor
E a flor se aflige que nem prenda virgem
Procurando a origem dos seus ais de amor

Foi o amor que eu tinha como a marrequinha
Que caiu levinha desta corticeira
E a flor da idade e a felicidade
Que nos dá saudade pela vez primeira


Flor De Porongo

Flor de Porongo
(Edilberto Teixeira, Carlos Leal, Matheus Leal)

Moreninha cor de cuia
Que inspira um verso bonito
Curtida pelo infinito
Prazer de um beijo roubado.
Sabor de um mate lavado
Com vício doce da rima...
Cuia de casca morena
Tua essência verde é um poema,
Feitio de um corpo de china.

Porongo, flor de morena,
Parceira do peão solito
Mateando, bem despacito,
Na sombra de um cinamomo.
Desassombrando o abandono
Da tarde linda e gaviona,
Que se vai com o movimento
Do sopro manso do vento
Que imita o chiar da cambona.

Chininha, cuia morena,
Da cor do sol regalito,
Meu verso é um pássaro aflito
Que vem pousar na tua sombra.
Cada vez que eu beijo a bomba
Bebo a paz das horas quietas
Que dormem e acordam em teu bojo,
Roncando o mate do apojo
Da rima de outros poetas.

Moreninha cor de cuia
Cacimba que eu bebo aflito
Quando eu me sinto solito
Sem pátria e sem endereço.
Beijando a bomba eu me aqueço
Porque o mate é um lenitivo.
E, enquanto o beijo não cessa,
Eu bebo a sanga e a promessa
De mais um mate pra o estribo.

Moreninha cor de cuia
Que cabe dentro o infinito,
Com um sentimento esquisito
Te aperto com as duas mãos,
Porque o sabor temporão
Que tens na boca e amargo.
Tua bomba tem os lábios quentes
E a china o aroma envolvente
Desta saudade que eu trago.

Chininha, cuia morena,
Da cor do sol regalito,
Meu verso é um pássaro aflito
Que vem pousar na tua sombra.
Cada vez que eu beijo a bomba
Bebo a paz das horas quietas
Que dormem e acordam em teu bojo,
Roncando o mate do apojo
Da rima de outros poetas.


Coplas de Andarengo

Coplas de Andarengo
(Edilberto Teixeira, César Oliveira)

Oigate saudade braba
Que nem mutuca picaça
Diz o andarengo que passa
Olhando longe a querência
Com os olhos cheios de ausência
No corredor vai passando
É como um pássaro perdido
Que chora meio em gemido
E que geme meio chorando

Segue ali cantando os versos
Que lembram a velha canção
A pátria do coração
É o lar, é o rancho da gente
Morada do amor presente
Que o tempo vai enraizando
Mas este é um verso esquecido
Que chora meio em gemido
E que geme meio chorando

E ali se vai ao tranquito
Seguindo o rumo dos ventos
Mascando os seus pensamentos
Judiados com a ventania
E esta amarga nostalgia
Aos poucos, lhe vai matando
Seu verso é um negro fugido
Que chora meio em gemido
E que geme meio chorando

Assim se vai o andarengo
Nas curvas da encruzilhada
Sofrendo a dor da aguilhada
De um sentimento aragano
E este gelado Minuano
Seu poncho vai perfurando
É assim um piá entanguido
Que chora meio em gemido
E que geme meio chorando

Às vezes quando é alta a noite
Foge o seu sono matreiro
E ao versejar costumeiro
Faz versos de redondilha
Sua alma assim de vigília
Se vai rezando e rimando
Seu terço é um canto perdido
Que chora meio em gemido
E que geme meio chorando

Recostado assim na noite
Vai terceando a hora que passa
Ouvindo a música lindaça
Do vento lá nas macegas
E a solidão lhe carrega
Noite a fora, noite andando
É um poeta andarangueando
Que chora meio em gemido
E que geme meio chorando


Chuva De Verão

Chuva De Verão
(Edilberto Teixeira, Juliano Moreno)

Fechou o tempo e, de repente,
Veio uma chuva temporona
E o vento, assoprando quente,
Tapou de cinza e cambona.

Foram os cerros se tapando
Sumindo com um pala branco,
Longe o céu trovejando
E a chuva lavando o campo.

A imprevista molhaceira,
Com um cheiro de coisa morta,
Chorou logo nas goteiras
E entrou de baixo da porta.

Tapada com o chuvisqueiro
A natureza está rindo,
‘’A chuva é como o dinheiro’’
Que lá do céu vai caindo.

Os pingos d’água, fininhos,
Parecem os olhos de um gato
Tremelicando os copinhos
Nas lagoinhas do pátio.

Pra botar o peito n’água
O peão se tapa com a xerga,
Cuidando as pontas de adaga
De um raio cortando a cerca.

Mermando os pingos na calha,
O peão adianta o serviço
E apara uns maços de palha
Pra negociar no bolicho.

Depois que a chuva se abranda
Se transformando em garoa,
Espera o sol na varanda
Com um chimarrão de erva boa.

E o sol retorna com essa
Campeira observação:
A vida passa de pressa
Como uma chuva de verão.

Chimarrão De Gosto Amargo

Chimarrão De Gosto Amargo
(Edilberto Teixeira, César Oliveira)

Bebo sorvos amargos do teu trago,
E me adoças a boca chimarrão.

És amargo e caliente como o beijo,
Da china que deixou no meu rancho!

Na bomba emocional dos teus lábios,
Houve um final de combate.

Apertei-a como a cuia entre as mãos,
Então bebi, o meu último mate!

E vi logo no tição dos teus olhos,
Uma cambona derramar-se em lágrimas.

Senti então meu coração em soluços,
Quando ela sumiu-se na curva, da estrada.

Então, bem chimarrão tu soluças,
Quando a água termina.

Por isso eu bebo a amargura em teu trago,
E me adoças a boca chimarrão!



Flor do Aguapé

Flor do Aguapé
(Edilberto Teixeira, Enio Medeiros)

Encima do espelho d’água,
Com as raízes se enredando
O aguapé fica boiando,
Onde a sanga não dá pé
Num tapete verde-oliva,
Como orquídea azul nativa
Nasce a for do aguapé.

Aguapé filtro das águas,
Remansosas que são turvas
Vem mostrar depois das chuvas
Os pesqueiros junto à flor.
Quando é noite o vento é calmo
As traíras mais de palmo,
Cai no anzol do pescador.

Aguapé flor do meu pago
Com feitio de alga marinha
Flor azul da beira d’água
Trampolim das marrequinhas.

Com as gavinas flutuantes
Faz a taipa contra o vento,
E só muda acampamento
Quando o temporal deságua
O aguapé na água flutua
Pra esconder da luz da lua,
Os encantos da mãe d’água.

No verão lá no meu pago,
Quando é tempo de pitanga
Se uma prenda olhando a sanga,
Do aguapé quer ter a flor.
Logo o peão apaixonado,
No lagoão se põe a nado
E traz na mão pro seu amor.



Flor De Aguapé - João Quintana Vieira e Grupo Parceria by guascaletras

Canto do Peão Solito


Canto do Peão Solito
(Edilberto Teixeira, Ênio Medeiros)

Como é larga a madrugada...

Como é larga a madrugada,
Quando eu me largo a cantar
Se eu bebo um trago de lua,
Meu canto imita o luar.

Se vai pro céu alumiando
A sanga, o córrego e a restinga,
Pra ver num pé de amarillo,
Se encher de lua a caçimba.

Meu canto de peão solito
Na noite pampa flutua
Cavalgando acolherado
Co’a luz difusa da lua.

Meu canto sai no infinito
Apascentando as ovelhas,
Trazendo o embornal da noite
Cheio de lua e de estrelas

Como é larga a madrugada,
Quando eu me largo a cantar
Se eu bebo um trago de lua,
Meu canto imita o luar.

Meu canto é um potro selvagem
Que abre a porteira e se vai...
Depois se apaga no abismo
Como uma estrela que cai.

Quando a lua fura a quincha
De algum rancho de capim,
Quer saber, alcoviteira,
Se a china chora por mim.

Quando a lua me abandona
Como um rancho sem ninguém
Meu canto chora o laçaço
Da luz da aurora que vem.


Flor De Cinamomo

Flor De Cinamomo
(André Teixeira, Edilberto Teixeira)

Quando o vento galopeia
Pelo campo e, como um potro,
Deixa o peão de chapéu torto
Lagarteando na soleira,
Suas flores saem rolando
E vão, sem rumo, se enredando
Nos cavacos da lenheira!

E a copa dos cinamomos
Que da estância é a ante-sala,
A gingar, se despetala
Dos seus pássaros cantores.
Sua galharia se arrufa
Com o moleque lufa-lufa
Do chuvisqueiro das flores.

Linda flor de cinamomo
Que tem pétalas de espora
Sai rolando pátio a fora
Campeando o que não perdeu.
A vassoura é quem te espera,
Faz de conta, a primavera
No meu peito não morreu.

Pelo intenso movimento
De sua linda floração
São levadas pelo vento
Como uma chuva de verão.

Com o tapete de estrelinhas
Todo o chão fica azulado
Como um céu que foi pintado
Libado pelas abelhas.
Lindo é ver o peão caseiro
A dançar pelo terreiro
Varrendo o cisco de estrelas.

Cavalinho De Pau

Cavalinho De Pau
(Edilberto Teixeira, César Oliveira)

Meu cavalinho de pau
Crioulo da fantasia
Tinha a cola que não crescia
E a boca sem comer pasto
Tinha o lombo meio cião
E o pescoço de gavião
E uma rachadura no casco.

Tinha raça de taquara
Cruzada com carafá
Delgado como um virá
E um pêlo bem pangaré
Parente da cobra verde
Com seu galope de rente
Ia escrevendo com o pé.

Brincando de faz de conta
Lhe ensinei a velhacar
Dar coices e escramuçar
Com jeito de um redomão
Só nunca pude frastá-lo
Sofrenado meu cavalo
Fincava a cola no chão.

Com a cola dele pra o céu
Apontava estrela guia
Um olho na pontaria
Mirava pra os pica-paus
Pauleava as caranguejeiras
E as gatas namoradeiras
Que me aturdiam aos miaus.

Batia os galhos das árvores
Derrubava frutas no chão
No ombro foi mosquetão
Espada para o meu cinto
No seu galope macio
Nas longas tardes de frio
Tropeei ninhadas de pinto.

Corri carreiras de a pé
Medi fundura de poço
Fiz raias pra jogar osso
E guiada pros bois a pipa
Fiz flechas pros meus caminhos
Furei o fundo dos ninhos
E o bando das caturritas.

Um dia jogando talho
Outro piá espadachim
Paulada não foi pra mim
E às brincas, perdi o jogo
Quebrou-se o meu cavalinho
No outro dia bem cedinho
Virou gravetos pro fogo.