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Tropeiros Das Calçadas

Tropeiros Das Calçadas
(Jorge Oliboni, Dionísio Costa, Juliano Borges)

Os andantes que vagueiam sem destino
Visitando as lixeiras da cidade
São cativos e forçados inquilinos
Das calçadas onde pisa a humanidade
Sem guarida e com sonhos tão escassos
Pra uma noite mal dormida em papelão
Com a fome emparceirando cada passo
Vão tropeando um plantel de solidão

É mentira que somos todos iguais
Se cada vida tem diferente valor
E da gula do poder de quem tem mais
As migalhas também são restos de amor
Os tropeiros das calçadas esquecidos
Que campeiam por um resto de comida
Sem ter rumo, na incerteza oprimidos
São adotados pelas lixeiras da vida

Com olhares de quem passa, mais gelados
Que a frieza das calçadas para o sono
Como restos, pelo mundo rejeitados
São marcados com a marca do abandono
São alheios aos regentes das verdades
Que inventam soluções pra o egoísmo
Vivem longe de pretensas entidades
Dos que pregam a igualdade e o civismo



Intérprete: Cris Hoffmann

Aos Meus Amigos

Aos Meus Amigos
(Dionísio Costa, Oscar Soares)

Nas andanças desta vida, eu jamais andei sozinho
Porque tenho em meu caminho, os amigos de verdade
Sei que quando estou distante, me carregam na lembrança
E me trazem confiança, num abraço de saudade
A tristeza é passageira, quando a gente tem amigo
E é por isso que eu bendigo, a sincera parceria
Pois a pura amizade, é um divino sentimento
Que espanta o sofrimento e festeja a alegria

Eu agradeço sinceramente aos meus amigos
Que estão sempre comigo me trazendo inspiração
Porque sozinho hoje eu pouco seria
E certamente não teria a paz em meu coração

Um amigo de verdade, é o maior bem da terra
E se acaso a gente erra, nem faz conta e nos perdoa
Quem é feliz tem amigo, vive em paz e tudo bem
E aquele que não tem, então não é boa pessoa
A distância não importa, se a amizade é verdadeira
Permanece a vida inteira e é de graça; não tem preço
Nos momentos mais felizes ou nas horas de amargura
Na escassez ou na fartura, meus amigos não esqueço


Garoto Esperto

Garoto Esperto
(Dionísio Costa, Pedro Neves)

Aquele garoto de cabeça baixa
Com o frio da algema, comungando o medo
Já conhece as dores da vida madrasta
De sonhos quebrados ainda bem cedo
É só mais um caso nas mãos da justiça
Entre tantos outros que vêm e que vão
É só um garoto que se acha esperto
De olhos vendados na televisão

A escola da rua ditou o destino
Com pequenas falhas, marcou a presença
Vai continuar estudando forçado
E aprender sozinho somar a sentença
Achava que o mundo era brincadeira
E o crime só um meio de ganhar o pão
Brincou de bandido com seus amiguinhos
Com droga nas veias e arma na mão

Quem será o carrasco dessa vida torta
Ou a mão que leva pra o caminho certo?
Quem será agora, o herói do garoto
Ou o próximo alvo do garoto esperto?



Garoto esperto - Pedro Neves by Eliandro Luz

À Luz De Candeeiro


À Luz De Candeeiro
(Dionísio Costa)

Um éco de gaita cruzou pelo campo
Quebrando o silêncio da noite calada
E como o luzeiro de algum pirilampo
A lua clareava o rumo da estrada
De longe se ouvia o som do rio grande
Embalando a alma do povo campeiro
Que passa a semana grudado na lida
E de vez em quando engarupa a vida
Num baile gaúcho à luz de candeeiro

Assim é o Rio Grande dos bailes campeiros
Com gaita, cantiga, namoro e peleia
Feitiço que chega de olhares matreiros
Com a labareda que a sala clareia
Porque o candeeiro que revela o baile
Jamais enfraquece e não se apaga o lume
Pois ele é o luzeiro da raça nativa
E em nossa alma é uma chama viva
Mantendo a essência dos nossos costumes

Na voz do gaiteiro, inventando vanera
E a gaita enfeitando o quadro mais lindo
O ar ganhou vida de campo e mangueira
No cheiro de terra da poeira subindo
E quando a noite se foi despacito
Arrastando o dia por várzea e potreiro
Me fui estradeando e mui satisfeito
Levando uma baita saudade no peito
Do baile gaúcho à luz de candeeiro



À LUZ DE CANDIEIRO - GRUPO LUZ DE CANDIEIRO by dionisioccosta

Serrana De Vacaria


Serrana De Vacaria
(Dionísio Costa, João Carlos Amaral Portella, Eliandro Luz)

Vou ter que virar a erva, solito escutando a prosa
De uma goteira teimosa, junto ao fogo onde me aqueço
Já tô de pé mas no entanto, vou sair só daqui à pouco
Que o tempo mudou de sôco, virando o mundo do avesso
Passei a noite mateando, pois o meu sono não veio
E eu fiquei sentando arreio, no flete do pensamento
Andejei pela lembrança, de um velho sonho desfeito
Que no rancho do meu peito, não desfez o acampamento

Se não fosse o tempo louco, que chegou co’a madrugada
Eu já estaria na estrada, bem a antes de “clareá” o dia
Mas logo depois da chuva, deixo pra trás minha terra
Pra visitar lá na serra, a serrana de Vacaria

Ela tem cabelos negros e um sorriso encantador
Como se fosse uma flor, que brotou entre os pinheiros
Beleza que só se encontra, nesta serrana querência
Na singeleza de hortênsias, no caminho dos tropeiros
A chuvarada de agora e essa noite mal dormida
Me fizeram ver que a vida, é mais que viver sonhando
Vou transformar meu destino, num temporal de alegria
Serrana de Vacaria, me espere que eu tô chegando

Uma Prosa De Pai Amigo

Uma Prosa De Pai Amigo
(Dionísio Costa, Pedro Neves)

Chegou a hora meus filhos, da gente usar de franqueza
Deixar de lado a aspereza dessa nossa convivência
E se emponchar de paciência para uma prosa de amigo
Sei que me acham antigo, porém isso não me abala
Porque o bom Deus nos iguala e o sangue nos emparelha
E quando um pai aconselha, é o sentimento que fala

Para falar com os meus eu não preciso rodeio
Em precisa larga não creio, por isso sou curto e grosso
Eu tambem já fui um moço, rebelde com os meus pais
Mas não me esqueço jamais quantas vezes eu chorei
Frente aos tombos que levei e concluí, vida afora
Perdidas foram as horas em que não lhes escutei

Não quero que vocês passem por tudo que eu já passei
O mundo é outro, bem sei, mas uma coisa não muda
Quem tem um pai que lhe ajuda tem mais cancha pela frente
Não se torna um indigente, encara a perda sem medo
E aprende, ainda bem cedo, curando as próprias mazelas
Que a vida não é novela, nem o mundo é de brinquedo

Eu não tenho a pretenção que sejam o meu retrato
Eu sei que, às vezes, sou chato e não sou dono da verdade
Porém, a realidade de um pai que tem muito amor
Me obriga a ser portator de atos que não convêm
E embora eu sofra também, não dá pra ficar calado
Assistindo um passo errado de quem a gente quer bem

Muitos pais que eu conheço se esquecem do compromisso
Com seus filhos são omissos e depois, depois sofrem na desgraça
De ver virar em fumaça o futuro imaginado
Mesmo que eu seja quadrado, escutem tudo que eu digo
Que, além de pai, sou um amigo, tenho experiência de vida
E, nas ganhas e perdidas, vocês podem contar comigo

Por fim, espero que sejam filhos, amigos de fato
Que este pai antigoe chato só quer o bem de vocês
E se é pouco o que já fez, foi sempre de coração
Não esqueçam que a razão é o que derruba os espertos
E podem ficar certos, se estiverem precisando
O pai estará esperando, sempre de braços abertos

A Morte do Andante


A Morte do Andante
(Dionísio Costa, Andrius Cruz)

Um cusco impaciente lambendo seu rosto
Ao ver contragosto o amigo no chão
Um leito de trapos que agora é mortalha
Em meio a migalhas sobre um papelão

Dormindo ao relento no forte do inverno
O sono eterno então lhe abateu
Não teve a graça de ver mais um dia
Sozinho vivia sozinho morreu

Será que é verdade que somos iguais
Os mesmos mortais conforme se pensa
Será que vivemos o que é aparente
E a vida da gente não tem diferença

Será que a vida daquele andarilho
Por ter menos brilho não tinha valor
Será que só basta rezar ajoelhado
E dormir descansado em nome do amor

Que história teria aquele andante
Que há poucos instantes tombou na avenida
Quem são seus parentes e onde estão agora
No amargo da hora que se esvai uma vida

Dormiu sem ter sonho e aceitou calado
O abraço gelado que a morte lhe trouxe
Nem vela e nem choro nessa despedida
Mas era uma vida do jeito que fosse

Nos Braços Da Fandangueira

Nos Braços Da Fandangueira
(Dionísio Costa)

De bombacha e crina baixa, eu vou sacudir a graxa
Na lida niguém me acha, que hoje eu me vou prá folia
Tem festança, trago e dança e a saudade não se amansa
Vou gineteando a esperança, de ver aquela guria
Mês passado no povoado, no entrevêro d’um bailado
Com olhar embodocado, fez proméssa de namôro
E na hora de ir embora, foi espichando a demora
Vendo eu cutucar a espora, sorriu engolindo o chôro

Na vanera bem campeira, vou fazer subir a poeira
Nos braços da fandangueira, quero amanhecer bailando
Nem cachaça, nem fumaça, hoje vício não me abraça
Que essa vida lógo passa e eu não vou ficar sobrando

Não receio ‘zóio’ feio, fui criado nos 'arreio'
E bagual que eu “dô’ um passeio, vira um pingo de patrão
Não é prósa, é pavorósa, minha vida é perigósa
Mas a lida mais custósa, é taurear a solidão
Por isso que me enfeitiço, com aquele olhar mestiço
Que à muito tempo eu cobiço, pra iluminar minha estrada
Firmo o passo no compasso, prá deixar de ser escásso
Um sorriso e um abraço, no fim de cada jornada

No Trancão De Uma Vanera

No Trancão De Uma Vanera
(Dionísio Costa)

Sou meio à tôa, criado assim tipo bicho
E tô querendo um cambicho, pra me ajudar ser feliz
Tenho de tudo, mesmo sendo muito moço
Mas por ser um índio grosso, nenhuma aínda me quis
Da tal beleza, eu sou bem desprevenido
Não sou exibido, e caminho ao trotezito
Mas quando ronca uma cordeona fandangueira
No trancão de uma vanera, não tem ninguém mais bonito

Tóca vanera, gaiteiro pode 'tocá'
Que eu vim aqui pra 'dançá', no trancão a noite inteira
Tóca que eu danço, ninguém pediu pra 'pará'
Que eu vou pra lá e pra cá, no trancão de uma vanera

Quando o conjunto, no coreto se 'aperfila'
O chinedo já faz fila, pra poder bailar comigo
Mas se o assunto, for namoro ninguém vem
Dizem que até danço bem, mas só me querem pra amigo
Eu levo a vida, à berro, mango e pataço
E o tempo é  escasso, pra poder viver farreando
Mas se a pinguancha, for dessas bem 'dançadeira'
No trancão de uma vanera, eu me esgualepo dançando

Pra Campear Namôro

Pra Campear Namôro
(Dionísio Costa)

Logo mais, tem surungo campeiro
Bem à moda antiga, pra ‘chacoaiá’ o couro
E eu me aprumo num trago de cânha
Taureando a vergonha, pra ‘campeá’ namôro
Ajojado no som da cordeona
Chuliando uma china, vou me ‘entreverá’
Me palpita, que hoje me esparramo
Da primeira marca, até o dia ‘clareá’
Lá de fora vem gente à cavalo
De à pé e de carróça, com sêde de festa
Quem não dança escóra a parede
Batendo garrão, só bombeando na frésta
O gaiteiro, é de cima da serra
E só isto já basta pra saber que é bom
Arrodeando, pra tudo que é lado
Quero amanhecer desmanchando batom

Sou da lida braba, de bérro e patáço
Mas pra ‘namorá’, só preciso vanera
Entre uma e outra, bebo uma gelada
E me atraco de novo, à ‘campeá’ quem me queira

Já faz tempo que venho tenteando
Um romance gaúcho pra me ‘acomodá’
Caprichando na prósa e no tranco
Que eu corro o rísco de me ‘encambichá’
Desgarrada das bem 'dançadeira'
Se campeia achêgo, comigo se arruma
Sou teimoso e bebo algum trago
Mas não amanheço, beijando guanchuma
Vou juntar a primeira que passa
E qualquer compasso que viér hoje danço
Não mandei reforçar minha sola
Pra ficar nos cantos com cara de ‘tanço’
Muito embora em bochincho cuiúdo
Não seja um costume engolir desafôro
Nesse baile não quero peleia
Só tô preparado, pra ‘campeá’ namoro

Brinquedo Perigoso

Brinquedo Perigoso
(Dionísio Costa, Oscar Soares)

Vem cá meu filho e senta aqui junto comigo
Teu pai amigo é quem no mundo mais te ama
Vou te mostrar que existe mais de uma verdade
Pra liberdade, que tu tanto me reclama
Quem não entende e não escuta os seus pais
Padece mais e com a vida se revolta
Fica perdido já com a primeira queda
E envereda por um caminho sem volta

Ao teu redor terá todo tipo de gente
Que certamente não trarão só coisa boa
Saiba escutar teu coração e a consciência
Pois aparência nem sempre mostra a pessoa
Não quero ver meu filho amado só por farra
Cair nas garras de um conceito enganoso
Tu tem direito de viver tua mocidade
Mas liberdade, é um brinquedo perigoso

Eu sei que longe tu terá dificuldade
Pois a saudade, queima feito ferro em brasa
Pode seguir teu sonho moço e bater asas
Mas minha casa será sempre a tua casa
A vida ensina quem quer caminhar em frente
Seja paciente, não tenha medo de errar
Vá com cuidado e não esqueça um segundo
Que o maior amor do mundo, tu vai deixar neste lar

Escolha um rumo, mas respeite as diferenças
Pois pela crença somente Deus é perfeito
Encare a vida e tenha os pais por teu espelho
Não vá de joelhos pedir o que é teu direito
Tu pode ter muitos amigos, mas no entanto
Ninguém é santo e nem todo mundo é sincero
Mesmo que as vezes não entenda o que tu diz
Te ver feliz é o que na vida eu mais quero

Negaciando Na Vanera

Negaciando Na Vanera
(Dionísio Costa, Bonitinho)

Negaciando “de carancho”, num sorriso me desmancho
E lá no oitão do rancho, deixei atado o matungo
Marcando a vanera grossa, suando de fazer poça
Num trancão de ir pra roça, tô grudado no surungo
Trago a china pelo “punho”, pela volta eu “redemunho”
E o frio do mês de junho, tá bem longe do meu pé
Tenho a estampa meio tôsca, mas não sou de comer mosca
Pois a situação é “ôsca”, pra quem vive sem “muié”

Mas oiga-le-tê porqueira, que marca “véia” campeira
Negaciando na vanera, eu esqueço o que não presta
Sei que no baile e na lida, sempre tem ganha e perdida
Mas não quero ver a vida, “bombeando” por uma fresta

A morena quer assunto, pelo jeito quer ir junto
E o gaiteiro do conjunto, já “botô” o “zóio” nela
Mas eu tô de bota nova, na vanera dou uma sóva
E com essa “pinguancha” nova, eu que “chacoáio” as “canela”
Nos braços dessa exibida, hoje tô de bem co’a vida
De “gadeia” repartida, venho trançando o pescoço
Mas mesmo arriscando o couro, não engulo desaforo
E se é pra mim o namôro, ninguém vai me “tirá” o osso

Não É Bem Assim

Não É Bem Assim
(Dionísio Costa, Gildinho)

Eu nem canto tanto, porém me garanto
Porque tem uns quantos, que cantam mais feio
Escrevo poesia e verso em quantia
E a pirataria me atóra no meio
Não que eu queira briga, mas é bom que eu diga
Viver da cantiga não é bem assim
Pra encher as 'lata' dos 'pila' ando às 'cata'
Mas sóbra pirata pra 'arrancá' meu rim

É que eu sou peitudo, tendo pouco estudo
Não tenho canudo não sou bacharel
Mas invento um eito de verso bem feito
E se tiver defeito nem vai pro papel
Qualquer um se anima no lombo da rima
Mas 'ficá' lá em cima não é bem assim
Se a idéia é pouca então fecha a boca
Pois madeira ôca só engorda cupim

Se désse dinheiro 'escutá' o berreiro
De algum fuxiqueiro eu já tava rico
Quem faz alarido por mim tá esquecido
Porque o meu ouvido nunca foi 'piníco'
E essa mulherada que tá na ‘tenteada’
Pra viver encostada não é bem assim
Dispenso arreganho senão eu apanho
E o pouco que eu ganho mal dá só pra mim

Se alguém por despeito do que eu tenho feito
Sempre que dá um jeito me tranca o caminho
É falsa amizade não tem qualidade
Nem capacidade de pensar sozinho
Conversa e laçasso não me encurta o passo
Pois 'fazê' o que eu faço não é bem assim
Quem vive com classe não esconde a face
Mas tem quem já nasce pra comer capim

Se a cobra rasteja então que assim seja
E deus que proteja quem me dá uma mão
Quem de mim não gosta já sabe a resposta
Que o Dionísio Costa não ‘fróxa’ o garrão

Na Boca Da Cobra

Na Boca Da Cobra
(Dionísio Costa, José Claro)

Eu tô arranchado com uma coisa á tôa
Uma certa pessoa que só me atrapalha
Tem o mau costume de viver na porta
Co’a língua que corta piór que navalha
Só pra bater beiço que ela sai da tóca
Faz cada fofóca que até me arrepía
Falou pra vizinha que eu não sou tão macho
Que eu sou um borracho já sem serventía

De noite me abraça e diz que me ama
Suspira e me chama de doce de ‘abóbra’
De dia pra ela não passo de um tôngo
E eu sou um 'camundôngo' na boca da cobra

Falou pro compadre que ela me sustenta
E já não aguenta viver com um jaguara
Que só não me larga pois não quer meu fim
Por pena de mim é que não se separa
Eu que pago a conta do vestido novo
E nem ‘fritá’ um ovo a dondóca é capaz
Tem que ter paciência e um saco de ouro
Pra ‘ouví’ os ‘desafôro que a bruxa faz

Meu vizinho brabo, casou co’a Sofia
E agora ‘sis dia’ seu filho nasceu
Ela fez lambança pela redondeza
Que tinha certeza que o piá era meu
Piór que o piazinho é o meu focinho
Quase que o vizinho, me deu um sóva
Se eu não deixar dela ninguém mais me ajuda
E essa linguaruda me manda pra cóva

Minha Paixão

Minha Paixão
(Dionísio Costa)

Você não tem mistério
Nem leva muito a sério, as nossas diferenças
É doce e decidida
E assim na minha vida, marcou sua presença
Meu anjo mais amigo
Que sempre está comigo, em tudo o que eu faço
Mudou o meu destino
Me fez o seu menino, na paz do seu abraço

Você quebrou o gelo, da minha vida vazia
Me fez até esquecer
Os maus momentos, que eu já vivi um dia
Você iluminou o meu caminho e acordou meu coração
Razão da minha saudade
Que me traz felicidade, você é minha paixão

Loco De Pressa

Loco De Pressa
(Dionísio Costa)

Uma cordeona aberta na vanera
Chamando a gauchada pra bailar
Uma cantiga reta e bem campeira
No lombo de um verso à corcovear
O chinaredo arísco sarandeando
Amoitando cambichos no olhar
Na sala a polvadeira levantando
E eu 'loco' de préssa pra chegar

Já ouço a cordeona, num tranco monarca
Lá vem outra marca e vou perder mais essa
Um fandango desses, não dá de toceira
E pra dançar vanera, eu tô 'lôco' de préssa

Tem dia que o destino é mesmo ingrato
Nem tudo sai do jeito que se quer
Meu pingo corcoveou se foi ao mato
Campeei mas não achei meu pangaré
Troteando a passo largo eu tô chegando
Não vivo sem vanera e sem 'muié'
Quem saiu bem montado tá bailando
E eu 'lôco de préssa tô de a pé

Nasceu Um Gaúcho

Nasceu Um Gaúcho
(Dionísio Costa, Pedro Neves)

Um chôro na madrugada, ecoou pela canhada
Acordando a criação
Veio do rancho do fundo, e dando 'buenas' pra o mundo
Se espalhou pelo rincão
Sorriu a família inteira e o vento na cumieira
Com seu canto acalentou
Aquela vida modesta e os galos fizeram festa
Pra o piazinho que chegou

Já nasceu afortunado, pelo amor amparado
Tendo pai e mãe do lado e o carinho dos avós
Veio sadío de bom pórte, há de ser um gurí forte
Pois nem todos têm a sorte, de não se criarem sós

Nasceu um Gaúcho e o chôro criança
Renova a esperança, de um tempo melhor
A vida se fez, de um amor maduro
E a fé no futuro, é muito maior

O pai sonhando acordado, já enxerga o piá criado
Sendo seu melhor amigo
A mãe reza e agradece, pedindo a deus numa prece
Que o proteja do perigo
Trouxe alegria pra os pais e o semblante de ancestrais
Que com ele vai crescer
Pouco importa não ter luxo, pois quando nasce um Gáucho
É o rio grande a renascer

Chora gauchinho, chora, que o dia não demora
E a alegria desta hora, jamais será esquecida
Na incerteza de esperar, como custou pra chegar
Deixa o piazinho chorar, é assim que começa a vida

Engasgado Na Pistóla

Engasgado Na Pistóla
(Dionísio Costa)

Ô ‘muié’ não me incomóda, que eu tô com os ‘bófe’ azedo
Amanheci no chinedo e a cachaça me fez mal
Tô co’a cabeça arrodeando e os ‘garrão’ que é puro inchúme
Pela falta de costume , de ‘retossá’ sem buçal
Depois que ‘ajuntei’ contigo, que é coisa pra mais de ano
Eu não tinha sacado os ‘pano’, pra o ‘mulherío' que é da lida
Mas já que faz um bom tempo, que eu te procuro e não acho
Pra o meu desejo de macho, me obriguei ‘campeá’ guarida

Quando eu chego da lida, não me dá mais atenção
E nas minhas ‘percisão’, tu deixou de me ‘atendê’
Vai até tarde da noite, assaltando a geladeira
Se entupindo de besteira, de à cavalo na ‘tevê’
Devido à tua frescura, me desfalquei de alguns ‘pila’
E me enfurnei lá na vila, pra me ‘esfregá’ e ‘batê’ cóla
Cheguei lá ‘loco’ de fome, com o ‘zóio’ maior que o bucho
Pronto pra ‘estorá’ uns ‘cartucho’ engasgado na pistóla

Caprichando nos ‘amasso’, não dei bola pra o respeito
Bailei de tudo que é jeito, num entrevero de couro
Empinei uma gelada, fui apartando o chinedo
Reculutei o praguedo e me atraquei no namoro
Botei em dia os ‘assunto’, daquilo que a gente gosta
Tinha umas quantas ‘disposta’, à me ‘agradá’ e me ‘serví’
Larguei duma e peguei outra, fui repassando as ‘guria’
Esfolei até uma ‘tia’, mas sempre pensando em ti

Ganhei um monte de agrado, paguei e fui atendido
E já que tô bem servido, o gasto nem considero
Gastei tudo o que eu podia, nos ‘trôco’ fiz um estrago
Mas em casa eu também pago e tu não faz o que eu quero
Acho que fiz muito bem, pois não judiei do teu couro
Depois de ouvir desaforo, destrato à torto e direito
Em vez de ‘ficá’ reinando, vá já me ‘fazê’ uma cânja
Só não me venha com gânja, que hoje eu já tô satisfeito

A Te Procurar

A Te Procurar
(Dionísio Costa)

Feito um louco andarilho
Buscando ansioso o que nunca foi meu
Já andei por aí
Procurando teu rastro em escuros caminhos
Me perdi pelo mundo
Tentando encontrar, meu olhar se perdeu
E em meio à estranhos
À te procurar me sentí mais sozinho
Fui buscar tão distante
Quem já fez morada no meu coração
E por rebeldia
Afastou-se em silêncio sem nem um adeus
Igual a neblina
Se vai quando o sol chega beijando o chão
Saiu de mansinho
Deixando um vazio entre os braços meus

Será que é verdade
Que a felicidade é só passageira
E a desilusão
Faz parte da vida de quem muito ama
Ou será a saudade
Nossa confidente, fiel companheira
E o que era cinza
Queima como brasa e reascende a chama

A Dom Gildinho Monarca

A Dom Gildinho Monarca
(Dionísio Costa, Mário Nenê)

Quando abre a gaita e engarupa a cantoria
Essa magia faz o mundo mais feliz
Com seus acórdes enche o pampa de poesia
Com alegria vai plantando essa raiz
Esteio forte de cérne que não se vérga
E não se entrega vai aguentando o tirão
Firmando o taco na cultura que preserva
Fazendo história nos fandangos de galpão

Abre a gaita Dom Gildinho, grande gaiteiro monarca
Mostra ao povo em cada marca, tua estampa galponeira
Levando além da fronteira, pra espalhar nos continentes
A melodia imponente, da nossa gente campeira

A tua alegria já é marca registrada
Na longa estrada dos monarcas fandangueando
Com teu sorriso alumiando as madrugadas
A gauchada nem nóta o tempo passando
Taura campeiro de altivez bem gauchesca
Cria da cêpa que brotou pelas coxilhas
Vai ostentando este rio grande junto ao peito
Que é onde bate teu coração farroupilha

O teu alicerce de campeiro foi formado
Pelo legado do atavismo deste chão
Herança xucra rebuscada no passado
Que mantém viva a cultura e a tradição
Por isso quando abre a gaita companheiro
O mundo inteiro te escuta com afago
Pois vai levando nesta sína de gaiteiro
As melodias fandangueiras do meu pago