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Mostrando postagens com marcador Danilo Kuhn. Mostrar todas as postagens
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De Pampa Y De Mar

De Pampa Y De Mar
(Cleia Dröse, Danilo Kuhn)

Ya fue mar esta pampa inmensa…
La pampa un día fue mar…
Por esto todavía conserva 
Las olas verdes del mar…

Si tienes dudas de esto
Mira el verde a brillar
En la pampa de los gauchos
Las cumbres te pueden contar.

El mar a todo unía…
No había frontera en el mar…
¿Porque hoy los hombres insisten
En las fronteras marcar?

No sé porque las fronteras
A los pueblos intentan alejar…
Si el mar un día unió,
Los pueblos se pueden hermanar…

El corazón que late en mi pecho,
Late igual que el tuyo allá:                        
Somos hechos del mismo barro,
De tierra pampeana y agua del mar.

El mar a todo unía…
No había frontera en el mar…
¿Porque hoy los hombres insisten
En las fronteras marcar?


De Flor Em Flor

De Flor Em Flor
(Adão Quevedo, Danilo Kuhn)

Pequenino beija-flor
Na vidraça da janela,
Trouxe um recado de amor
Doce feito os beijos dela.

Em resposta mando outro
Em plumas, ventos e céu,
Diga a ela o quanto sofro
Sem os seus lábios de mel.

Beija-flor, leva ligeiro
Um chasque pro meu amor.
Deus te fez mensageiro
Pra voar de flor em flor.

A distância é quase nada
Se a alma for vizinha.
Meus olhos rondam e estrada,
Saudade é erva daninha.

Pra que viver tão sozinho,
Trancado na solidão?
Diga para o meu benzinho:
- A vida anda sem razão.

Beija-flor, leva ligeiro
Um chasque pro meu amor.
Deus te fez mensageiro
Pra voar de flor em flor.


Amanhecer De Milonga

Amanhecer De Milonga
(Danilo Kuhn)

A milonga, em sua aurora,
Abre as cortinas da noite;
Vislumbra a pampa, lá fora,
Da janela do horizonte.

A milonga amanhece
Tão sonora e luzidia...
Como se fosse uma prece
Abençoa as sesmarias.

Milonga do amanhecer,
Traz, pra alma, claridade.
O sol que nasce na pampa
Chega na hora do mate.

A milonga, já desperta,
Num instante se faz dia;
É quero-quero em alerta
No topo de uma coxilha.

A milonga, em plenitude,
É o dia que se prolonga.
Há, no espelho do açude,
Distraída, uma milonga...

Milonga do amanhecer,
Traz, pra alma, claridade.
O sol que nasce na pampa
Chega na hora do mate.


Do Imigrante Em Versos

Do Imigrante Em Versos
(Danilo Kuhn)

Os braços fortes regendo a lavoura,
Agora a enxada é a sua batuta.
Música da terra, nova labuta.
Sementes notadas na partitura...

A clave de sol forte contra a fronte
E labor desde os clarins da alvorada.
Enquanto a plantação é orquestrada,
O passado renasce no horizonte...

Foi maestro de voz e de instrumento,
Compositor de silêncio e de som,
Mas a vida também muda de tom...
Impõe ao imigrante outro sustento.

Alegre nunca fora sua música...
Ânsia de vislumbrar mundo melhor.
Febres sonoras de amargo sabor
Em valsas, polcas, chotes ou mazurcas.

Tampouco agora haveria de ser...
Embora sua lavoura gere vida,
Jamais calarão as vozes feridas
Que soam coral da alma do ser.

Expulso de sua terra natal
Pelas mãos graves da fome e da guerra,
A cada golpe de enxada na terra
Relembra trincheiras de sangue e sal.

Nada tão dissonante quanto a guerra...!
A obra polifônica infernal.
Não há luta justa, livre de mal,
Quando vidas inocentes encerra.

E o imigrante que sabe do mundo
Seus temores e suas esperanças,
Com sua música ainda criança,
Garatujas melódicas profundas...

Mas mesmo com tanto e todo o talento
Deixou a sinfonia inacabada...
Trocou sua batuta pela enxada
Quando a sorte lançou a pauta ao vento.

E, maestro ainda ante o universo,
Faz música da terra germinar
Com tanto ardor que amanhã haverá
Que se contar do imigrante, em versos.

Vento Água Areia E Pedra

Vento Água Areia E Pedra
(Danilo Kuhn)

Vento, água, areia e pedra
Nas margens da solidão.
Há tanto pranto contido
Dentro do meu coração.

Vento leva a dor embora,
Fome a esperar o pão.
A linha do horizonte
Corre na palma da mão.

Rede, lagoa ferida,
Barco sem ter direção.
Vai a vida contra o tempo
Navegando sem razão.

Vento, água, areia e pedra
Nas margens da solidão.
Há tanto pranto contido
Dentro do meu coração.

Vida passa, pé-de-vento,
Clima ao avesso no chão.
O homem sem sentimento
Água turva, inundação.

Coração feito de pedra
O tempo não perdoa, não.
Quem planta sonhos no vento
Colhe só desilusão.

Vento, água, areia e pedra
Nas margens da solidão.
Há tanto pranto contido
Dentro do meu coração.


Romance Em Estiagem

Romance Em Estiagem
(Danilo Kuhn)

A vida, cá na campanha,
Andava meio sisuda.
Coração feito cacimba
Esperando água da chuva.

Um dia encilhei o pingo
Que restara desta seca
E me fui bebendo estrada
Entre nuvens de poeira.

Perdido, entre a paisagem,
Um par de olhos castanhos...
Chuvarada na campanha!
– Foi-se embora a estiagem –.

Na porteira da fazenda
O meu peito descobriu
Que o olhar daquela prenda
Era de inundar estio.

Coração foi na corrente
Das corredeiras do rio...
O amor se fez enchente
Neste peito tão vazio.

No entanto, tamanho encanto
Num instante se desfez
E o rio tornou-se pranto...
– De tristeza, me afoguei –.

A prenda de olhos castanhos
Não me deu seu coração
E eu, aos poucos, fui secando...
– Vi meus olhos rasos d´água –.

Me fui voltando “pras casa”,
A galope, no meu pingo
Que o sol forte da campanha
Já levou em seu estio...

Inda lembro da fazenda,
Das corredeiras do rio
E do olhar daquela prenda
Que era de inundar estio.

Hoje vago nas paragens
Remoendo a solidão
De um romance em estiagem
Que secou meu coração.


Romance De Pampa E Sol

Romance De Pampa E Sol
(Danilo Kuhn)                          Amadrinhador: Danilo Kuhn

Despacito, o sol desnudava à pampa
Com carícias mansas e luzidias
Que pouco a pouco se tornavam amplas,
Lhe trazendo matizes de alegria,
Iluminando os campos deste amor
Quando noite se transformava em dia.

O sol que suspirava em seu rubor
Que à paixão denunciava a cada afago
Aos poucos revelava a pampa em flor,
E a noite fria com seu poncho amargo
Ia dando lugar à pampa desnuda,
Plena de todos os amores do pago.

À luz do amor, o iluminado muda
Sua tez que agora resplandece, brilha,
Quando antes era opaca e sisuda
Como as flores, que na noite das trilhas
Se ocultam da visão do caminhante,
Mas que ao sol, lhe acenam das coxilhas.

Assim, a pampa, em pele verdejante,
Exalava dos poros seu perfume
Enquanto o sol, mais e mais radiante,
Estendia à sua amada tal lume
Que, ao esmaecerem, as demais plagas
Deste romance sentiam ciúme.

E o sol percorria as planuras largas,
Se mirava vaidoso nos açudes,
Roubava beijos da água das sangas,
E a pampa encantava aos homens mais rudes,
Versejando amor em suave canção
Soprada ao vento, que no céu se funde:

Terra e céu, pampa e sol, agora são,
Ao terno amanhecer que se faz dia,
Um só ser, unido pela paixão;
E o romance ao longo das horas ia,
E o casal apaixonado se amava,
Despercebido que o tempo esvaía...

Mas, na medida em que o tempo passava
– Se ia sorrateiro, sem alarde –,
O romance ao final se aproximava,
Porque enquanto o sol de amores arde,
Esquece que seu fogo depois apaga
Com o frio que impõe o cair da tarde.

O mesmo vento que o amor propagava,
Agora sopra avesso a tal romance,
Contentando a inveja das demais plagas;
E a pampa de luz, do amor que amanhece,
Desposada pelo amante do céu,
Se recolhe escura quando anoitece...

A noite torna a vesti-la, em negro véu,
Cobrindo a vastidão ora ensolarada
Que agora, abatida, o lume perdeu;
O sol gaudério pega o rumo da estrada,
Deixando pra trás a diurna amante
– Em lágrimas de estrelas derramada –.

Sangrado, o amor anuncia o poente
De um romance que fora ardente outrora,
Descendo melancólico o horizonte.
Mas este rubor que se vê agora,
Do amor fora atestado no amanhecer
E prenuncia que amanhã a aurora

Fará, talvez, o romance renascer
Quando o lume do sol lumiar a pampa
E à sua pele carícias tecer,
Percorrendo a geografia do campo,
Sussurrando brisas ao pé do ouvido
Enquanto aos poucos o dia se acampa.

E de terra e céu o amor desmedido,
Que morre e renasce a cada arrebol,
Assim, jamais quedará em olvido,
Pois a cada nova manhã no sul
Reacenderá a chama do amor
Num novo romance entre a pampa e o sol!

A Flauta Da Vida

A Flauta Da Vida
(Adão Quevedo, Danilo Kuhn)

Sabiá não cantou mais,
Feito eu, sente tua falta,
Ficaram tristes as manhãs,
Não se ouve a sua flauta.

Até mesmo o bem-te-vi
Que encantava a tua chegada,
Voou pra longe daqui
Pra cantar noutra morada.

João-de-barro, meu vizinho,
Perdido da companheira,
Deixou o rancho sozinho,
Foi morar noutra porteira...

Beija-flor, por desamor,
Nunca mais fez outro ninho,
Nem foi mais de flor em flor,
Ferido a ponta de espinho.

Os quero-queros, posteiros,
De tanto te querer bem,
Foram pra outros potreiros
Pra não querer mais ninguém. 

Tudo em volta entristeceu
Depois da tua partida,
O pago emudeceu...
Calou-se o canto da vida!


A Voz da América do Sul

A Voz da América do Sul
(Danilo Kuhn)

Calou-se a voz da América do Sul,
Levou com ela a dor do nosso adeus.
Nas asas de um condor, no céu azul,
Sua alma, clara, foi morar com Deus.

Nos ranchos, toscos, se acenderam velas
E de silêncio revestiu-se a pampa.
O aço perde o fio, se destempera,
Mas a palavra, é espada de quem canta.

A América ouvia a sua voz,
Como se fosse o som de nossas almas.
Um rio não morre ao encontrar a foz,
São só suas águas que se alargam, calmas.

Eu só peço a Deus, em nome dos pobres,
Nós somos filhos do mesmo abandono.
A terra abriga humildes casebres
E nos casebres, se abrigam os sonhos.

Em cada verga, em cada semente,
Na esperança, cega, do semeador,
Em cada sanga, dormindo silente...
Tu viverás, nos aguapés em flor.

A América ouvia a sua voz,
Como se fosse o som de nossas almas.
Um rio não morre ao encontrar a foz,
São só suas águas que se alargam, calmas.


Milonga em Mi


Milonga em Mi
(Marcelo D’Ávila, Danilo Kuhn)

Milonga em Mi
Que me assombra,
Me tira o sono
E desponta
Nos foles
Da minha cordeona.

Milonga em Mi
Que me ronda,
Me rouba o entono
E destoa
De acordes
De outras milongas.

Milonga em Mi –
Mil milongas
Que fogem
E correm soltas
Em tantas noites
Sem conta.

Milonga em Mi
Que me tomba,
Me ergue de novo
E me doma
Com jeito
De redomona.

Milonga em Mi,
Minha sombra,
Meu contraponto
Que aponta
Meu norte
Nestas milongas.