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MEU CAVALO FEIO

Título
MEU CAVALO FEIO
Compositores
LETRA
TÚLIO SOUZA
CRISTIANO MEDEIROS
MÚSICA
ADRIANO MEDEIROS
Intérprete
ARMANDO MAICÁ
Ritmo
RANCHEIRA
CD/LP
4º CANTO SEM FRONTEIRA
Festival
4º CANTO SEM FRONTEIRA
Declamador

Amadrinhador

Premiações


MEU CAVALO FEIO
(Túlio Souza, Cristiano Medeiros, Adriano Medeiros)

Roubaram meu cavalo Feio
Procuro um meio de reencontrá-lo
Roubaram meu cavalo Feio
Tenho os arreios e nenhum cavalo

O Feio é meio “lazão”
Tem lombo cilhão e um braga na anca
Sargo, bico de gavião
Um “taio” na mão e uma pata branca

A vida fuçando no lixo
É coisa de bicho, mas dá alguns “cobre”
E o Feio ajudava no ofício
Tirando o serviço do lombo do pobre

Roubaram meu cavalo Feio
Eu sou changueiro, por isso é que peço
Devolvam meu cavalo Feio
Que este índio véio se ajeita c’o resto

Me resta a cocheira tapera
A mesa vazia e nada pra montar
Me restam as noites e os dias
Campeado latinhas pras conta pagar

Roubaram meu cavalo Feio
E não tenho meio de reencontra-lo
Devolvam meu cavalo Feio
A vida é triste sem o meu cavalo.


No Silêncio Das Taperas

No Silêncio Das Taperas
(Cristiano Medeiros, Adriano Medeiros)
                                                                              Amadrinhador: Benhur da Costa

O passado nos mostra concordâncias,
O poeta estava certo e eu não sabia...
“Os avós eram de carne e osso”.*
Hoje retorno ao meu antigo e bom
Tabernáculo de boa existência
Que guardou toda a genealogia
Daquilo que foi a minha maior
E mais nobre referencia humana.

Mais do que uma simples paisagem,
Alumbra os sentimentos e os ressábios
Que hoje sim, sabem os motivos...
De estar, incólume ante o pórtico,
Acho até que, sempre me acompanhou,
Ou ficou ali ensejando o meu retorno
Desde o dia que sai para vagar a esmo,
Na garantia de uma volta a querência.

Quem forçar as retinas da mirada,
Assim como eu posso fazer agora,
Poderá ver os movimentos concisos.
Mas, mirem bem para contemplar tudo.
Da mesma forma que estou a enxergar
E me parece, sim que tudo retorna!
Não como antes com vidas e cores
Mas, com o valor dos sentimentos.

A varanda ainda busca tardes calmas,
Há uma ausência presente, mateando sólita,
E a alma de uma antiga existência está
Enraizada na estampa dos meus avós.
Essas casas velhas e os seus mistérios,
Imunes ao tempo, jamais viram taperas.
Histórias passadas, cabedais de anseios,
Na memória gasta de antigas lembranças.

O medo se esconde pelas estruturas,
No rangido triste das portas gastas.
Na noite escura, por vezes, vaga o silêncio,
Junto às paredes nas molduras mortas.
A janela geme no sopro de algum vento,
Que chega de manso pra brincar no jardim.
Onde o ontem deixou eternos momentos,
Pra colher saudades, que tenho em mim.

Essas casas velhas que vestem passados
Avultam-se para guardar segredos tantos,
E são novos mistérios, sob velhos telhados
Em uma quietude tão cheia de medos.
As paredes qual fortim são timbradas
Não por cores ou cal caiada pelas mãos,
Mas por insígnias de honrarias e gestos,
Rudes e ao mesmo tempo nobres.

Os meus pés repisam antigas pegadas
Que adentravam pela sala e seguiam.
No assoalho quase não ficaram marcas,
Um caminho já meio desfeito em rumos,
Que mesmo o mais profundo dos anos
Não desmente o andar sóbrio e austero
Daqueles que por ali deixaram o toc-toc
De um taco de botas muito campeira.

O corredor era a artéria vital de ligação,
Onde pelas manhãs o aroma furtivo
Do pão caseiro recorria sem medo,
Vinha nos avisar que já estava disposto
Junto à mesa farta com o café de chaleira
E tantos doces no feitio de minha avó,
Feitos todos no velho fogão a lenha
Que nunca deixou morrer seu lume.

Os postigos davam vaza para o vento
Que vinha de longe, trazer um assovio,
Era um misto de assombro e sofreguidão.
Eu sempre perguntava de onde ele vinha?
Mas a casa, ela nunca se preocupava,
Por certo achava até bom receber a visita
Que chegava amadrinhada por invernias
Que acampavam lá no campo largo.

O pátio grande era um sem fim a parte
Onde eu me entregava para a brincadeira,
A figueira de fronte ao casarão nos dava
A sombra da tarde para o descanso do verão.
O pomar então, era a morada de corruíras,
Canários e bem-te-vis que faziam a festa.
E os sonidos das cantorias eram cheios
De resplendor e gloria entre frutas maduras.

O guaxo novinho andava sempre por ali,
Era uma simpatia alimentar os animais,
Assim como nós, eram cuidados pelo avô,
Sempre com zelo e um sorriso franco.
As galinhas ciscando pelo terreiro,
O cusco ovelheiro latindo lá no fundão
Como a dizer que chegava alguém
Pelos domingos de churrasco e marcação.

Quase não me lembro do sótão, sóbrio,
Calado, quase ausente na minha vivencia.
Mas, ele sabia das minhas cismas e medos,
Nas noites largas mandava os fantasmas.
Porém, eu dormia antes e não sabia de nada,
Afinal o quarto era protegido pela benção
Que sempre ganhava logo depois de orar
Para meu anjo da guarda, santo protetor.

Quando a chuva era uma constante
O nosso lugar era de fronte a lareira
A espera de mais um bolinho ou então
Outras histórias que a vovó contava.
Aquela do Boitatá e mais a outra
Do tropeiro que se perdeu no cerro
E recebeu a ajuda do Blau Nunes
Que por lá ficou na furna encantada.

Foram tantas histórias contadas por ali,
Outras tantas ainda por dizer ou lembrar,
Mas eu não deixei nunca de reviver
O que foi o meu mundo de diversão.
Um dia, quando eu me dei por conta,
Ao fustigar meus antigos pensamentos
Tentei atiçar o fogo das relembranças
Mas eram brasas, vivas, porém diminutas.

O mundo seguiu as andanças da vida
Meus avós partiram do mundo real
A querência se tornou ausente de mim
E ali dentro dela ficou alguma coisa.
Como que pedindo vaza na cancha
Sem ao menos olhar para trás, me fui...
Esperando nunca confrontar o de antes,
E não sei mais o que foi feito do tempo.

Mas sei sim o que foi feito de mim.
Recebi marcas e sogaços da saudade
Qual o redomão que nega o estrivo.
Daquela velha tapera disposta ao léu
Ficaram alguns restolhos de paredes.
Mas eu tenho certeza de uma coisa
As lembranças, estas não morrem nunca,
Pois sempre as levo junto comigo!

* Fragmento do poema Canto aos Avós de Apparicio Silva Rillo


Declamadora: Thayná Soares Rabaioli

Naquele Rancho


Naquele Rancho
(Adriano Medeiros)                                           Amadrinhador: Luis Carlos Camejo Cardoso
   
Ali naquele rancho...
Dizem que morava um louco!
Não sei... nunca me incomodou.

Pois, sabe que?
Em tudo que é vila
De fundo de campo
Ou de cidade.
Sempre tem alguém
Que ao povo incomoda,
A gurizada faz algazarra, fala...
Distorce os comentários.

Morava em uma humilde tapera
Um arranchado, quase na beira do rio Uruguai;
Não sei se tinha mãe se teve pai...
Viveu desde cedo sozinho
Trabalhando nas estâncias de Uruguaiana.

Sempre foi meio rude... meio grosso...
Criado na lida!
E por ser teatino e meio gaudério
E, sabe-se lá como?
Aprendeu a ler e um pouco a escrever.

E desde então:
Lidou, leu, trabalhou
Lidava com a pena como quem mexe na espada,
A segunda!
Aprendeu na guerra
Foi comandante e teve muita destreza e malícia
Para usá-la.
Atirava um laço e mexia nas palavras
Com uma sabedoria de mestre.
Sempre soube “entreter” a gauchada
Com causos, contos e lendas.
Citava Blau Nunes nos campos do Jarau
Martin Fierro na pampa cisplatina
Bentos e tantos outros...

Sempre gostou da lida e da poesia
Um dia cansou da lida
E desde então se encerrou
Em sua sesmaria de campo.
Que se resumia numa humilde morada
Num pequeno rancho.
Chamavam-lhe de louco,
Pois nas noites de lua cheia
Acostumado às rondas
Ele rondava as estrelas!

Encilhava os versos
Fazia as rimas
E aprumava a melodia
Em uma viola surrada
Com seis cordas tesas de tristeza.

Bueno, como chamar de louco
Um homem, que viveu e trabalhou tanto
Só por ele conversar com o vento
Enxergar o nada um pouco mais adiante
Pois eu não compreendo
Era um homem decente.
Muitas tardes de passada
Para ir a um baile de vila ou de ramada
Recebia o convite,
E já no más eu apeava do pingo
E tomava um chimarrão
Ele contava uns causos, conversas de galpão
...ríamos, charlavamos.
-E, eu já vou indo
Que é tarde e vem chuva.

Morou sempre lá.
Ele gostava do recanto... um galpão,
Abaixo da janela havia uma gamela
Onde ele lavava o rosto
E também os pensamentos!
Tinha também umas cordas penduradas
Um laço atirado num canto
Um relho e um cusco amigo
Sempre lhe chuleando os gestos
Diante da soleira da porta,
Naqueles restos de arreios
Por certo, estavam seus sofrimentos
E por que lhe chamar de louco
Se ele tentava escapar de tudo isso
Através das rimas
Que tirava do pensamento.

De dia, ele juntava gravetos,
Cuidava das galinhas,
Tomava um trago,
Esperando um arrebol
Beirando o pôr-do-sol
Ele se recolhia,
Dormia pensando nas gineteadas
E nos cimbronaços da vida.

Viveu troteando solito
Às vezes nas campereadas
Conversando com seu flete
Por isso lhe veio nas idéias
Prosear com as madrugadas.
O povo?
O povo não defendia nem atacava
As crianças achavam engraçado
Como um vivente podia ficar
Tanto tempo ali parado
Em frente ao rancho...
Falando e falando
E falando sozinho;
Mas pra que explicação
Então que explicassem!
Porque o redemoinho
Porque o vento... e o vôo dos passarinhos.

Cortou muitas madrugadas
Até que um dia cansou de falar sozinho,
E pensou:
-Hoje, eu faço um fogo de chão
E queira ou não queira
O meu coração vai virar braseiro.
Vou rever os companheiros de patacoadas!
Vou emalar o poncho da vida...
Vou embora e me enfurnar na madrugada.

Quero matear com aquele sorriso aberto
Vestir-me de luz, daqueles fogões campeiros.
DECIDI...
Vou me embora para o céu,
Fazer poesias para SÃO PEDRO.



Declamador: Solon Alves

A Vingança de Honório Flores

A Vingança de Honório Flores
(Cristiano Medeiros, Gaspar Martins, Adriano Medeiros)
                                                                                                  Amadrinhador: Claudio Silveira

Na meia-tarde, abafada...
Correu a notícia no povoado!
Manoel Flores é morto...

Entre zunidos e “gambetazos” de balas,
Assim, ficou estendido um corpo inerte,
Desfazendo histórias e um lume nas retinas,
No último suspiro, de uma vida gaúcha.

Este é o fim do peleador!
Resmungava algum ladino no bolicho,
Entre cochichos e sussurros,
Correu o anúncio em todo o vilarejo.

Honório Flores cria do rincão das três bocas,
Batizado pelas águas do Uruguai.
Irmão do Manoel Flores que foi morto.
Em busca de vingança Honório vai...

Depois da cruz posta e da reza de corpo presente,
Ajeitou a sua adaga “tinideira”,
E de carona na cintura ia também o seu “bisna” quarenta e quatro.

Encilhou um baio-cabos-negros.
Dando de rédeas, foi atrás da sua cruzada.

Há quem diga que Manoel fora morto,
Pelo guitarreiro João Mendes...
- Que era daqueles que não fugia de peleia -

E tudo se deu... Segundo corria na boca miúda,
Por dívida de carpeta ou carreirada,
E, a “caça” de Mendes, foi Honório!

Seguindo para o lado do poente,
Mandando patas assim no más...
Sabia que seu caminho não tinha volta,
Querendo sangue em troca de sangue,
Deixando só a poeira pra trás.

Foi na caída da noite que se encontraram,
Bem no passo do Butuí;
Honório e o tal João ali se condenaram.

Cada qual sacou suas diferentes armas,
Um se acomodou em uma cova de touro,
O outro de pronto nas barrancas,
Com gritos de desacato, iniciou o confronto,
E, de balas, os Angicos empanturraram.

De longe quem via pensava,
Que estrelas estavam caindo.
Mas, eram centauros gaúchos,
Peleando, entre balas zunindo.

Dom Honório Corrêa Flores,
Fora atirador em “35” na revolução.

Com ciência e convicção
De honrar o nome de família,
Respondia as balas de João,
Com os tiros do seu “Nagão”.

Sem munição!
Já suados e ensangüentados...
De peito aberto se atracaram.

Palmearam as adagas...
Campo á fora só se ouvia o estouro,
Entre golpes e tronchaços, de faíscas foram cobertos.

Dois touros que não se entregam,
Gigantes nesta luta abarbarada,
Não se cansaram de pelear de adaga,
No ferro branco eram combatentes.

Um batia e o outro ia se defendendo,
Na contra-volta desta refrega.

E, neste embate, a lua via tudo apavorada,
A noite escura, neste duelo foi conivente.

Cansados e sem força no braço,
Iam se estudando e tomando fôlego
Para mais uma volteada.

Mas, não sabiam que seus destinos estavam traçados,
A morte por mal intencionada armou sua teia.

Em um capricho do acaso,
Foi à meia-noite que acontecera.

Nuvens negras se aproximam...

É temporal!

Entre as adagas se esparramou um raio,

Ponteado morreu Mendes e Honório é imortal. 


Declamador: Neiton Bitencourt Peruffo

Negro Tronqueira

Negro Tronqueira
(Severino Moreira, Cristiano Viégas Medeiros, Volmir Coelho)

Rancho barreado, negro velho
Um perro por companheiro
Um radiozito caturritiando
Os versos de um pulpero.

É uma imagem de campo
Que o tempo não apagou
Que tantos olhos viram
E a alma triste gravou.

Mãe preta na janela
Como a espera do retrato
E alguém beba a saudade
Na consistência do fato.

La dentro o fogo manso,
Feijão preto galopeando,
Se a alforria não chegou,
O retrato fica mostrando.

Será um João Barreiro,
Que fez rancho para si
Ou será algum “Chopin”
Que o acaso botou ali.

Na pele a cor do barro,
Que sustenta o “cupiar”,
No garrão, raiz de salso,
Entranhado no lugar.

É a estampa do Rio Grande
Pelos grilhões do passado,
Que prendem numa grota
A ilusão dos alforriados...

Indefinido porém
O rancho e a sua gente,
Na arte feita do barro
E a pobreza do vivente.


Intérprete: Volmir Coelho

Da Porteira Pra Dentro

Da Porteira Pra Dentro
(Severino Moreira, Cristiano Medeiros, Volmir Coelho)

Meu coração um aporreado
“Meio tocado pelo vento”,
E quando lembra da linda,
“Patrona” do pensamento,
Que quando bati na marca
Ficou da porteira pra dentro.

Não quero cantar tristezas
Nem recordar a partida,
Tua imagem ainda persiste,
E a saudade me convida
Pois da porteira pra dentro
Que palanqueei minha vida.

Meu coração é a porteira.
Tem dentro um bem querer...
Um semblante terno de amor,
Vertente de paz e saber,
Sangra quando me aparto
Se abre quando te vê,

Estrada longa esta
Que me leva de roldão
A porteira entre aberta,
Por onde verte a canção
E bebe o sal da lagrima
Que te sangra o coração...

E ao trote deste sonho,
Que sabe onde ela está,
Tenho ânsias de carinho.
E essa gana de voltar,
Levando o calor do teu abraço,
Pois o coração já está lá.