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Chinelo de Couro

Chinelo de Couro
(Maria Ester Vidal)  Amadrinhador: Miguel Brasil

Este chinelo de couro
Postado à beira da cama,
Silencia muitos passos,
Deixa cheiro e muitos rastros
E fica de ancoradouro!

O seu arrastar no assoalho,
Como fosse nas manhãs,
Ornamentadas de orvalho,
Reacendendo algum borralho
Para o mate de todo o clã!

Ouve-se o canto do galo,
O cacarejar de galinhas,
O relinchar de um cavalo...
E o chinelo já surrado,
Entre eles todos caminha!

Às vezes se distancia...
Está à beira do açude
Limpando caminhos rudes
E colhendo ervas daninhas!

Às vezes serve pra o laço,
Pra o bem de toda a piazada
Que brinca, mas pra fazer arte,
Sobra sempre algum espaço!

No alto, um chapéu surrado,
No meio, um porongo pequeno...
No outro extremo, parado,
Este chinelo que falo
Marcando grama e sereno!

São detalhes! São bobagens!
Falar de um couro moldado
Que só se tem por bagagem
Correndo pra todo o lado!

Ah! Mas um chinelo de couro
Na mala que vem ou vai...
Não tem aí nenhum tesouro...
– É verdade, é só um pedaço de couro,
Que se gasta... Arrebenta... E vai!

...Mas quando fica parado
Aos pés da cama do pai,
Silencioso... Forte... Usado, É um cálice para as lembranças,
Embala o sono; bebe-se com entono,
Lições ao canto do galo!

E assim... Respondam por mim...
-É só um chinelo velho que na mala vem ou vai?

Não! Não! É um chinelo de “ouro”
Que deixa o assoalho e a lida
Dá limite a si e à vida
E da lembrança não sai!

E então... Parado... Quieto...
Postado aos pés desta cama
Enfeitando o chão que habita,
Lembra ancestrais que se ama...
Faz esta casa bonita!

E só quem teve ao seu lado
Um pai sensível, inquieto
Com coisas que a alma inflama
E que via nos detalhes, entalhes do que era belo,
Pode atribuir a um chinelo,
A paternidade infinita!



CHINELO DE COURO de Maria ESter Vidal interpretação de Sergio Guedes by Maria Ester Vidal