Canto do Peão
Solito
(Edilberto Teixeira, Ênio Medeiros)
Como é larga a madrugada...
Como é larga a madrugada,
Quando eu me largo a cantar
Se eu bebo um trago de lua,
Meu canto imita o luar.
Se vai pro céu alumiando
A sanga, o córrego e a restinga,
Pra ver num pé de amarillo,
Se encher de lua a caçimba.
Meu canto de peão solito
Na noite pampa flutua
Cavalgando acolherado
Co’a luz difusa da lua.
Meu canto sai no infinito
Apascentando as ovelhas,
Trazendo o embornal da noite
Cheio de lua e de estrelas
Como é larga a madrugada,
Quando eu me largo a cantar
Se eu bebo um trago de lua,
Meu canto imita o luar.
Meu canto é um potro selvagem
Que abre a porteira e se vai...
Depois se apaga no abismo
Como uma estrela que cai.
Quando a lua fura a quincha
De algum rancho de capim,
Quer saber, alcoviteira,
Se a china chora por mim.
Quando a lua me abandona
Como um rancho sem ninguém
Meu canto chora o laçaço
Da luz da aurora que vem.