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Estâncias da Fronteira


Estâncias da Fronteira
(Anomar Danúbio Vieira, Marcello Caminha)

Guardiãs de pátria, memorial dos ancestrais
Onde trevais nascem junto ao pasto verde
Sangas correndo, açudes e mananciais
Pra o ano inteiro o gadario matar a sede

Grotas canhadas e o poncho do macegal
Para o rebanho se abrigar nas invernias
Varzedo grande pra o retoço da potrada
Mostrar o viço e o valor das sesmarias

Sombras fechadas de imponentes paraísos
Onde ressojam pingos de lombo lavado
Que após a lida até parecem esculturas
Moldando a frente do galpão, templo sagrado

Pras madrugadas, mate gordo bem cevado
Canto de galo que acordou pedindo vasa
Cheiro de flores, açucena, maçanilha
E um costilhar de novilha pingando graxa nas brasas

Pra os queixos crus, os bocais dos domadores
Freios de mola pra escramuçar bem domados
E pra os turunos ressabiados de porteira
O doze braças, mangueirão dos descampados

Pra os chuvisqueiros galopeados de Minuano
Um campomar castelhano e o aba larga desabado
Pra o sol a pino dos mormaços de janeiro
Um palita avestruzeiro e o bilontra bem tapeado

Sombras fechadas de imponentes paraísos
Onde ressojam pingos de lombo lavado
Que após a lida até parecem esculturas
Moldando a frente do galpão, templo sagrado

Pras madrugadas, mate gordo bem cevado
Canto de galo que acordou pedindo vasa
Cheiro de flores, açucena, maçanilha
E um costilhar de novilha pingando graxa nas brasas

Pras nazarenas, garrão forte ... égua aporreada
Pras paleteadas o cepilhado de coxilha
Pra o progresso do Rio Grande estas estâncias
Mescla palácio com mangrulho farroupilha




Bandeira do Rio Grande


Bandeira do Rio Grande
(Elton Saldanha, Anomar Danúbio Vieira)

Como quem reza pra um santo
Na devoção campo afora
Apresilho a minha coragem
Com a correia das espora
São Pedro que guarde os louco
Por que hoje eu meto uma tora
Faltam dez prá daqui a pouco
E o baile começa agora

Veiaca que esconde o toso
Batendo garra comigo
Mostro a marca da querência
Que eu sou do Rio Grande antigo
Eu não refugo bolada
Porque eu gosto do perigo
Tu vai entrar nesse baile
Porque eu vou dançar contigo

Meio bicho, meio gente
É minha alma e é meu sangue
Eu hoje vou me tapá
Com a bandeira do Rio Grande

Nasci nas covas de touro
Templado a fogo e a frio
Criado a trevo e babosa
E acostumado a Mil- mil
De fronteiro um verso potro
Do tipo meio arredio
Sou eu, o pingo e o cusco
Pode anunciá o nosso trio

Campeando a toca dos “zóio”
Sacudo meu doze braças
Que tem um guizo na argola
Quando a gente faz chalaça
Quando cerra nos "cabido"
De algum brazino fumaça
Livro as orelhas e me estrivo
Na tradição da minha raça

Meio bicho, meio gente
É minha alma e é meu sangue
Eu hoje vou me tapá
Com a bandeira do Rio Grande

Tem que ser doce de boca
O pingo pros meus arreio
Que venha pedindo rédea
Mascando o coscós do freio
Ligeiro na lida bruta
E faceiro num pacholeio
Valente e solto de pata
Pra apartar boi nos rodeio

Numa pendenga a cavalo
Morro queimando cartucho
Tirar zebu do banhado
Pra mim é um troço de luxo
Bem no garrão do Brasil
Vou aguentando o repuxo
Com a bandeira do Rio Grande
Bem no estilo gaúcho

Meio bicho, meio gente
É minha alma e é meu sangue
Eu hoje vou me tapá
Com a bandeira do Rio Grande


Marca Gaúcha


Marca Gaúcha
(Anomar Danúbio Vieira,Fabrício  Harden)

Oiga-lê verão de maio
Sol quente e caindo raio
Depois que eu digo que saio
Eu saio e ninguém me ataca
Um chá de casca de vaca
Sempre foi bom conselheiro
Pra metido a bochincheiro
E pra burro quando se empaca!

Gosto do “urco” veiaco
Que se atore corcoveando
Que se destorça berrando
Calçado num par de “ferro”,
No contraponto do berro
Um sapucay fachudaço
E os “estoro” dos “laçasso”
Da trança do quero-quero

Eu falo com os meus cavalos
Converso com a cachorrada
Podem me chamar de louco
Que eu saio dando risada
Se domingo “hay carrerada”
Me sobra bom parelheiro,
E uns quatro ou cinco ovelheiros
Pra juntá boi nas “canhada”.

Sacando o bocal do potro
Eu deixo bem ajustado
Que assim seguro minha doma
Serviço “garantizado”....
Eu sou metade daqui
Metade do outro lado
O coração de guri
E um sangue “acastelhanado”.

Oiga-lê  marca gaúcha
Num ala-pucha te levo!

Na chuleada, um calaveira
Rouba - três real envido -
- Tenho flor seu atrevido
E te prendo um truco na testa -!
Pra mim o que presta, presta...
E o que não presta é refugo
Pois anda muito sabugo
Se achando o bom dessa festa.

“Una cosa es una cosa
Otra cosa es otra cosa”
Já dizia por astuto
Don Alfredo Zitarroza,
Macaco em loja de “loça”
É estrago grande parceiro
E o meu verso mais matreiro
Guardei pra “dize” pras moça.

Sacando o bocal do potro
Eu deixo bem ajustado
Que assim seguro minha doma
Serviço “garantizado”....
Eu sou metade daqui
Metade do outro lado
O coração de guri
E um sangue “acastelhanado”. 

Regional


Regional
(Anomar Danúbio Vieira, Rogério Melo)

Regional é uma criolla; arte, cultura campeira
Um rangido de basteira, um redomão de bocal
Um universo rural num sentimento profundo
Que antes de sermos do mundo, temos que ser regional

Meu canto crioulo é qual pasto nativo
Que brota com força e se estende na pampa
Juntou rebeldias pelas recolutas
Da raça mais bruta herdou essa estampa

É grito tropeiro, é mugido de tropa
E assim se alvorota pedindo bolada
Cincerro de bronze chamando a tropilha
Clarim farroupilha anunciando alvorada

Curtido a Minuano e a pó de mangueira
A berro de touro e relincho de potro
Moldei este canto pra hino campeiro
Por ser verdadeiro é sinuelo pra os outros

Se quedou então Regional
Pela tradição que traduz o seu jeito
Tendo sentimento de pátria no sangue
E amor ao Rio Grande batendo no peito

Regional por devoção, regional de nascimento
Regional no pensamento, na conduta e na emoção
Lá num oco do rincão trancando o pé na macega
Que um regional não se entrega tendo ou não tendo razão

Mistura de verso e resmungo de gaita
Conceito de povo templado na guerra
Que fez seu destino arrastando choronas
Gravando o idioma no lombo da terra

Carrega nas cinzas de cada memória
A alma e a história do pago ancestral
Forjadas num lenço, parte de bandeira
Brasão de fronteira, padrão Regional

Curtido a Minuano e a pó de mangueira
A berro de touro e relincho de potro
Moldei este canto pra hino campeiro
Por ser verdadeiro é sinuelo pra os outros

Se quedou então Regional
Pela tradição que traduz o seu jeito
Tendo sentimento de pátria no sangue
E amor ao Rio Grande batendo no peito

Meu canto crioulo é qual pasto nativo…

Estampa


Estampa
(Anomar Danúbio Vieira, Zulmar Benitez)

Fulgor de tropa no entrevero de um combate
Sabor de mete no romper das madrugadas
Mescla de sangue com fumaça de candeeiro
Clarim campeiro dos tahãs pelas aguadas

Sina andarilha e rancho a beira da estrada
Onde a pousada para o andante será eterna
Linha de espera ressojando na barranca
Graxa na anca da potrada que se inverna

É goela rouca de um cantador flor de taita
Ronco de gaita deusa borra do fandango
É um bagual que perde a doma e se retrata
Pra serenata das esporas e do mango

Isso é querência, isso é pátria, isso é nação
Isto é Rio Grande assim moldou-se a sua estampa

Rudes arados rebolcando a terra bruta
Mil recolutas e tropéis de gado alçado
Tiro de laço e boleadeiras nos varzedos
Velhos segredos de um galpão mal assombrado

É cancha reta e patacoadas nos domingos
Cacho de pingo bem quebrado a cantagalo
Olhar matreiro da morena, china linda
Que eu lembro ainda quando tive que campeá-lo

Baile Gaúcho


Baile Gaúcho
(Anomar Danúbio Vieira, Juliano Gomes)

Uma morena de cruzá em arroio fundo
Cosa mais linda do mundo, era o destaque da sala
De vez em quando se luzia e gavionava
E há tempos eu cobiçava pra debaixo do meu pala

Passou bailando e me largou um par de vistaço
Preparei um cavallaço sacando o folha de abóbra
Todo o fronteiro no entrevero se agigantava
Depois de um samba com fanta… tenho coragem de sobra!

Baile gaúcho, cordeona e china bonita!
Não se acredita no poder dessa infusão.
Livra os pecados, cura as malezas da vida
E cicatriza as feridas que afligem o coração

E assim levei a conversa, lembrando que a noite é pouca
Que sorte louca, me dá o prazer desta marca
Porque depois de nós se enredar num bailado
Nem raio, nem delegado, nem o teu pai nos aparta

E esta morena saiu manhosa se espiando
De soslaio me bombeando, ariscona prás conversa
Assim que eu gosto, quanto mais xucra, mais doce
- Qual o santo que te trouxe?
Que eu vou pagá uma promessa!

E se o gaiteiro for das bandas de Santana
De alma véia castelhana, vaqueano das madrugadas
Sabe que a volta pra um romance de primeira
É num tranco de fronteira, pra bailar de cola atada.

Identidade De Campo

Identidade De Campo
(Anomar Danúbio Vieira, Rogério Melo)

Ergo meu canto e me acho
“Muy gaúcho... Cual Martin Fierro”
E em qualquer lombo de cerro
Faço morada e me planto

Por Rio Grande me garanto!
Sempre que calço as esporas
E largo assim, campo a fora
Toda emoção deste canto.

Canto de pampa e estância
Mais novo a cada manhã,
Na goela de algum “tajã”
Semeia a sina andarilha...

É cheiro de maçanilha
Que brota xucra da terra,
Voz de querência que berra
Num parador de coxilha.

Num entrevero de patas
Meu canto é doma e carreira
É rangido de porteira
No vai e vem das cruzadas,

É a alma da gauchada
Nos gestos da minha gente
Que vive e morre contente
Só por se livre...e mais nada!

Sempre que canto... renasço!
Volto às planuras de novo
Buscando origens de um povo
Que fez pátria de a cavalo
E que deixou de regalo
Pra nós, herdeiros da história!
Um torrão pleno de glória
E a identidade ao cantá-lo.

Canto de tropa estendida,
Seiva de grama pisada
Pelos cascos da potrada
Que no varzedo retoça,

Fruta que aos poucos se adoça
A cada noite de geada
É chuva forte, guasqueada
Que nas estradas faz poça.

Canto as coisas do meu povo
Suas crenças, tradições
Campos, mangueiras, galpões
Gineteadas e bochinchos

Berros de touro, relinchos
Orquestrando as invernadas
Marcas de laço queimadas
Num tirador de capincho

Sempre que canto... renasço!
Volto às planuras de novo
Buscando origens de um povo
Que fez pátria de a cavalo
E que deixou de regalo
Pra nós, herdeiros da história!
Um torrão pleno de glória
E a identidade ao cantá-lo.

Com O Coração Nas Esporas

Com O Coração Nas Esporas
(Anomar Danúbio Vieira, Fabrício Harden)

Quem traz o campo num floreio de cordeona,
E um tilintar de “choronas” nas madrugadas tropeiras,
Tem neste fundos o berro da gadaria
Orquestrando as sesmarias, num concerto de fronteira.

Por “orelhano”, não tenho marca e sinal
Par de rédeas e um bocal me bastam pra ser feliz
E toda vez que estendo um “xucro” na estrada,
Sinto a alma enraizada no garrão do meu país.

Sou do Rio Grande, sou da pátria de à cavalo
Por isso que não me calo pras modas que vem de fora
Chuva guasqueada e geada grande não entanguem,
Quem tem a pampa no sangue e o coração nas esporas!

Minha rebeldia tem sotaque e procedência
Cerne puro de querência templado pelo rigor,
Todo “pampeano”, que canta a terra nativa
Conserva uma história viva mesmo depois que se for.

Nas campereadas forjei a sina vaqueana,
Sovando basto e badana, groseando casco de pingo
Firme na crença, de que a vida se ilumina
No sorriso de uma china numa tarde de domingo.

Nalgum bolicho, na volta de um corredor,
Já fui peão e fui senhor oitavado junto à copa
Se me extraviei, campeando algum movimento
Fui me encontrar, pelo tempo, nalguma ronda de tropa.






Prá Bailar De Cola Atada

Prá Bailar De Cola Atada
(Anomar Danúbio Vieira, Juliano Gomes)

De vereda me acomodo, se d’um baile sinto cheiro
Sacudo o pó da mangueira, lá no açude do potreiro
Encharco de amor gaúcho a estampa de um peão campeiro
Por que sei que na minha terra dá pra confiar nos gaiteiros.

Pra bailar de cola atada campeio a volta do mouro
E um par de esporas prateadas, saio beliscando o couro
Levo na alma a esperança de hoje enfrena um namoro
E um três oitão das confiança, pra causo algum desaforo.

Vou tirá china mais linda pra bailar de cola atada
E se não souber dançar ensino e não cobro nada
Depois que meto o cavalo seja lá o que Deus quiser
Pois sou do tempo que os home ainda gostavam de mulher.

A cordeona dá um gemido a polvoadeira levanta
E eu já de pala encardido arrasto o pé na bailanta
Vou cochichando no ouvido meu segredo pra percanta
E bem campante convido pra tomá um samba com fanta

Se debrucemo na copa e ali troquemo uns carinhos
Com juras de amor eterno, ninguém quer morrer sozinho
Não me tenteia morena que tu é flor cheia de espinho
E eu tô loco de vontade de te arrastar pra o meu ninho.

Vou tirá china mais linda pra bailar de cola atada
E se não souber dançar ensino e não cobro nada
Depois que meto o cavalo seja lá o que Deus quiser
Pois sou do tempo que os home ainda gostavam de mulher.

Imagens

Imagens
(Anomar Danúbio Vieira, Marcello Caminha)

Não crio imagens bombeando o vão das cancelas
Da moldura das janelas sob a quincha dos galpões
Mas bem montado sobre o lombo do cavalo
Botando pealo em rodeio e marcações

Não crio imagens nos mates ao pé do fogo
Envolvido pelo jogo de alguma angústia encruada
Mas sim num grito pra tirar o gado da grota
Ou na culatra da tropa que se perfila na estrada

Não crio imagens de campanha entristecida
Pela vida enrijecida no compasso da existência
Mas da alegria e da emoção das carreiradas
Nos bolichos beira-estrada pelos fundões da querência

Não crio imagens na clausura das paredes
Embora as mesma guardem lembranças dos meus
Mas sim liberto num santo altar de coxilha
Porque ali estou mais perto de mim, do vento e de Deus

Não crio imagens que acalantem muitas almas
Me falta calma pra saudade e solidão
Se isso for imposição, talvez nem seja poeta
Mas a palavra direta me salta do coração

Não crio imagens dos momentos que não gosto
Pois não aposto em parelheiro perdedor
Se a mim me agrada as lidas de campo a fora
Crio imagens das esporas no garrão de um domador

Não crio imagens de trastes dependurados
Nem de termos delicados, mas que tem pouco valor
E sim de laços, de bocal basto sovado
De cachorros ensinados que são gente num fiador

Não crio imagens prá chorar águas passadas
Pois enxergo meu futuro muito além dos horizontes
Eu crio imagens pra que se forjem pampeanas
Pois no sangue tenho ganas de distâncias e repontes

Não crio imagens na clausura das paredes
Embora as mesma guardem lembranças dos meus
Mas sim liberto num santo altar de coxilha
Porque ali estou mais perto de mim, do vento e de Deus

Não crio imagens que acalantem muitas almas
Me falta calma pra saudade e solidão
Se isso for imposição, talvez nem seja poeta
Mas a palavra direta me salta do coração

A Cusco E Mangaço

 A Cusco E Mangaço
(Mauro Moraes, Anomar Danúbio Vieira)

Quando esparramo meu laço
Calçando o zaino na espora
Num combate campo a fora
Contra um boi mandando pata
Quis a mala suerte ingrata
Que eu errasse aquele pealo
E que rodasse o cavalo
Virge! quase que me mata

Mas como eu sou vaqueano
Cruzei a perna ligeiro
Só escutei o entrevero
De pingo, terra e boléu
Quando finco meu chapeú
Bem debochado na nuca
Nem diabo, nem arapuca
Me cambeiam lá pro céu

Chega, chega, pega, pega
Que o zebu é caborteiro!
Me entrincheirei nas macegas
Atiçando os ovelheiros

E não é que o boi me veio
Causa do pala encarnado
Trazia um cusco agarrado
Bem na junta do garrão
Meu cachorro Tradição
Mordendo o tronco da oreia
Pressentindo a coisa feia
Virei o mango na mão

E aprumei o pitangueira
Bem no miolo do tirano
Nisso já vinha meu zaino
Me procurando no espaço
Coisas da lida de laço
Pra quem anda de à cavalo
Se eu não derrubo de um pealo
Derrubo a cusco e mangaço

Chega, chega, pega, pega
Que o zebu é caborteiro!
Me entrincheirei nas macegas
Atiçando os ovelheiros

Os Loco Da Fronteira

Os Loco Da Fronteira
(Anomar Danúbio Vieira, Rogério Melo)

Não afroxemo nem os lançante
Pois semo loco de dá com um pau
Cruzemo a nado se o rio não dá vau
Neste mundo véio flor de cabuloso
E o mala bruja quando esconde o toso
Nós esporiemo bem no sangrador
Em rancho de china, se campiemo amor
Entremo sem sono e garantimo o poso

Semo medonho no cabo da dança
Gostemo mesmo é do bochincho grosso
Que é pra sair tramando o pescoço
Ao trote largo nalguma rancheira
E bem campante, levantando poeira
Coisa gaúcha, vício de campanha
Limpemo a goela num trago de canha
Pois semo loco de lá da fronteira

Semo bem loco, loco de bueno
Mas temo veneno na folha da faca
Quando o sangue ferve e viremo a cabeça
Por Deus, paysano! Ninguém ataca

Nós semo loco lá da fronteira
De raça tranquila, mas de pouca cincha!
E de vereda quando o lombo incha
Saiam de perto que a xucreza é tanta
Cremo em percanta que seja percanta
Apartemo os maula pra outra invernada
E a nossa bebida mais sofisticada
É canha gelada, num “samba com fanta”

Nós semo loco, mas não semo bobo
Semo parceiro de quem é parceiro
Nas horas brabas e no entrevero
Nunca dexamo um amigo solito
Pode ser feio pode ser bonito
Mas é nosso jeito de levar a vida
Por ser de campo e por gostar da lida
É que volta e meia nós preguemo o grito

Semo bem loco, loco de bueno
Mas temo veneno na folha da faca
Quando o sangue ferve e viremo a cabeça
Por Deus, paysano! Ninguém ataca

Apaysanado

Apaysanado
(Anomar Danúbio Vieira, Marcello Caminha)

Floreio o bico da gansa
Nesta gateada lobuna
A melhor das minhas alunas
Na doma tradicional
Por favor não levem a mal
Este meu jeito fronteiro
Filho de pai brasileiro
Hijo de madre oriental

Não carrego pretensão
Mas não sou de me achicar
Decerto trouxe de alla
O gosto pela guitarra
Quando a saudade se agarra
Num bordoneio entonado
É o meu povo enforquilhado
Num bagual mandando garra

Sou assim apaysanado
Domador e guitarreiro
Diariamente peão campeiro
Nas folgas campeio festa
Tapeio o chapéu na testa
Pra ver melhor as imagens
Talento fibra e coragem
Não se compra nem se empresta

Quem é do garrão da pátria
Alma sangue e procedência
O amor pela querência
Traz retratado na estampa
Retovos de casco e guampa
No repertório da lida
Pra que o sentido da vida
Finque raízes na pampa

No cabo de uma solinge
Sou mais ligeiro que um gato
No aporreado um carrapato
Largando só no garrote
E macho pra me dar bote
Não se perca por afoito
Junte mais uns sete ou oito
E me atropelem de lote

Numa milonga crioula
Numa chamarra gaúcha
Prego um grito de a la pucha
E me acomodo no embalo
Mateio ao canto do galo
Gosto do assunto bem claro
E se de a pé já não disparo
Quanto mais bem a cavalo

Sou assim apaysanado
Domador e guitarreiro
Diariamente peão campeiro
Nas folgas campeio festa
Tapeio o chapéu na testa
Pra ver melhor as imagens
Talento fibra e coragem
Não se compra nem se empresta

Um Milongão Dos Veiaco

Um Milongão Dos Veiaco
(Anomar Danúbio Vieira, Mauro Moraes)

Aba larga retovado, pala de seda no braço
E o choro fino do aço das chilenas no garrão
Encilhei um milongão, não vi que era dos veiaco
E sacudiu os meus caco bem no que sai do violão

No alambrado das cordas quis me apertar num floreio
Aprumei um bordoneio bem na dobra da virilha
Quando um taura se enforquilha é duro de se pelar
Se me ponho a guitarrear sou pampa em riba da encilha

Prá ginetear de bolada um milongão dos veiáco
Hay que tener fé no taco e uma alma guitarreira
Um batidão de fronteira mais firme do que um palanque
Que desde o primeiro arranque já enrede o mal na açoiteira

Do jeito que o diabo gosta se prendeu mandando garra
No parador da guitarra escondeu a cara com as mão
E eu gritei com o milongão e aticei a cachorrada
Que a vida não vale nada se não se tem tradição

Tem que ter corpo leviano e um dedilhado campeiro
Pra mostrar pra um caborteiro qual é o pau que dá cavaco
Calça os ferro no sovaco, esfrega o pala na cara
Não é qualquer um que pára num milongão dos veiaco

Prá ginetear de bolada um milongão dos veiáco
Hay que tener fé no taco e uma alma guitarreira
Um batidão de fronteira mais firme do que um palanque
Que desde o primeiro arranque já enrede o mal na açoiteira

Xucro Ofício

Xucro Ofício
(Anomar Danúbio Vieira, Zulmar Benitez)

Nem bem clareia e já me encontro chimarreando
Ao pé do fogo que aquenta as madrugadas
Daqui um pouquito o sol desponta no horizonte
To desde ontonte com as idéias engarrafadas

Pra o parapeito do galpão arrasto as garras
Buçal na mão vou tiflando pra mangueira
Meio sestrosa me cuidando a matungada
Vem da invernada e fica flor de caborteira

Mas que me importa pois me levantei aluado
Cano virado das minhas botas garroneiras
Toda segunda tem bagual de lombo inchado
Adivinhando que passei de borracheira

Junto as argolas do cinchão no osso do peito
Procuro um jeito busco a volta e me enforquilho
Depois que monto e atiro o caixão pra trás
Só Deus com um gancho pra me sacar do lombilho

Me dá vontade de prender o buçal na cara
Deste picaço que esqueceu como se forma
Mas eu garanto que embaixo dos meus arreios
Conhece o freio e aprende a respeita as normas

Prego no grito e tacho os ferros na paleta
De boca aberta o queixo roxo vem de garra
Lida baguala que em muitos mete medo
Meu xucro oficio que por vicio fiz de farra

Baldas de Potro Cuiudo

Baldas de Potro Cuiudo
(Anomar Danúbio Vieira, Fabrício Harden)

O bagual mouro resolveu me exprimenta
Em seguida de munta quando campeava um estrivo
Mas que eu me lembre o homem comanda o cavalo
E o resto é pura bobagem criada pra vender livro

O bagual mouro resolveu me exprimenta
Em seguida de munta quando campeava um estrivo
Mas que eu me lembre o homem comanda o cavalo
E o resto é pura bobagem criada pra vender livro

Bagual tranqüilo nunca tinha corcoveado
De rédea andava costeado já no ponto de enfrenar
Deve ter sido por causa do Vento Norte
Se arrastou batendo forte com ganas de me sacar

Deve ter sido por causa do Vento Norte
Se arrastou batendo forte com ganas de me sacar

E as nazarenas que eu não carrego de enfeite
Resolveram provar os dentes tenteando a força na perna
O que se passa na cabeça de um matungo
Que agarra nojo do mundo e do tento que lhe governa

Pegou na volta com cacoetes de aporreado
Já que me encontro estrivado e ainda por cima de lua
Me fui na boca caiu sentado na cola
Já que frequentamo a escola da velha doma charrua

Levei os ferro e lhe enredei num quero-quero
Cavalo que eu considero respeita o índio campeiro
Deu mais uns talhos e viu que se topou mal
Seguiu mascando o bocal num trote bueno e ordeiro

Fiquei pensando co'as rédeas por entre os dedos
Nos mistérios e segredos deste ofício macanudo
Se um flete manso devalde se queda brabo
Deve ser obra do diabo ou baldas de potro cuiudo

Se um flete manso devalde se queda brabo
Deve ser obra do diabo ou baldas de potro cuiudo

E as nazarenas que eu não carrego de enfeite
Resolveram provar os dentes tenteando a força na perna
O que se passa na cabeça de um matungo
Que agarra nojo do mundo e do tento que lhe governa

Pegou na volta com cacoetes de aporreado
Já que me encontro estrivado e ainda por cima de lua
Me fui na boca caiu sentado na cola
Já que frequentamo a escola da velha doma charrua

Velório do Juca Torto

Velório do Juca Torto
(Anomar Danúbio Vieira)

Fui no velório do querido Juca Torto
Eu era íntimo do morto
Pero mucho mas da viúva
Babava água pesos de terra e trovão
Entrei de chapéu na mão
E poncho encharcado da chuva

Tomei um trago de canha meio sem jeito
É que tenho esse defeito de gostar de coisa triste
E quem resiste a um vélório com cachaça,
com rapadura, bolacha e umas véia pra dizer um xiste

Varei a sala arrastando as nazarenas
Corri os olhos da morena
Chorando embaixo de um véu
Tinha um gaitero vaqueano das horas brabas
Que floreava uma pianada pedindo as bençãos pra o céu

Não chora linda, não chora minha querida
Porque a saudade é um mal que o tempo cura
Não chora linda, não chora minha querida
Que nessas voltas da vida a gente acha o que procura

Não chora linda, não chora minha querida
Porque a saudade é um mal que o tempo cura
Não chora linda, não chora minha querida
Que nessas voltas da vida a gente acha o que procura

Eu tinha um lenço bordado com as inicial
E ofereci mui cordial tapado de sentimento
Não te preocupa que os amigos são pra isso
Fica aqui meu compromisso te amparar neste momento

Vendo a quietude que negaciava ambiente
Fui pra o lado de um parente falando que era preciso
Me deem licença que eu conheci o finado
Sei que ia querer o coitado
Que eu cantasse de improviso

Sentido eu faço este verso
Em respeito ao falecido
Que era muito meu amigo
Desde os tempos de guri
Se agora me encontro aqui
Pra te dizer por inteiro
Pode ir te embora parceiro
Que a viúva eu cuido pra ti
 
Não chora linda, não chora minha querida
Porque a saudade é um mal que o tempo cura
Não chora linda, não chora minha querida
Que nessas voltas da vida a gente acha o que procura

Não chora linda, não chora minha querida
Porque a saudade é um mal que o tempo cura
Não chora linda, não chora minha querida
Que nessas voltas da vida a gente acha o que procura

Não chora linda, não chora minha querida
Porque a saudade é um mal que o tempo cura
Não chora linda, não chora minha querida
Que nessas voltas da vida a gente acha o que procura

Não chora linda, não chora minha querida
Que nessas voltas da vida a gente acha o que procura