A Razão das Adagas
O que
impulsiona a bestialidade humana?
Será o homem
motivado pela vaidade?
A amplidão
de suas posses,
São marcadas
pelos seus passos,
Sejam eles
firmes ou tortuosos.
O que gira a
girândola do mundo?
Sim, são as
vontades,
E se achegam
demarcadas por insígnias,
Talvez de
maldades.
Dependendo
do julgamento de quem olha.
Seria eu
tolo de me subjugar a um tirano,
Ou teria eu
o poder de impor a minha razão?
A história
esta escrita
Nos
pergaminhos do tempo,
E esta
senhora não vos mente!
Se culpado
quem executa,
Culpado quem
manda.
Na lei do
maior,
Divisão
injusta,
Quando a
situação
Beneficia a
barbárie
Em favor de
um dos lados.
Foi na
revolta de noventa e três,
E lá onde
aconteceu ninguém esquece.
No local
denominado três bocas,
Os maragatos
degolaram o pai.
Mulher e
filhas serviram
Pra que eles
se despojassem
Como
animais,
Besta-feras no
cio!
Restando um
guri,
Que se
escapou em um
Zaino e foi
deixado pra trás.
Este guri
cresceu e prometeu
Que vingaria
a honra da família.
Mais que
homem,
Tornou-se
uma lenda no lugar.
Findada a
revolução...
Tudo se
acalma e volta à devida ordem.
Para este
que falo, não.
E assim, um
a um,
Ele passou
no fio da adaga.
Só se ouviam
os comentários:
-Fulano
morreu lá no Lageado.
-O outro
morreu no Ibirocaí.
De tal modo
ele foi fazendo a sua
Vingança
pessoal.
O último que
ele passou pra “alla”...
Foi um
estancieiro,
Mas antes de
executar,
Apresentou-se!
-Sou aquele
que tu
Deixou
escapar!
De pronto
cruzou o aço frio.
Roubando
assim...
O derradeiro
lume dos olhos,
E o suspiro
que restou,
Balbuciou um
perdão quase sem sentido.
Alguns o
acusavam de bandido!
Outros... Defendiam...
O que se
sabe é que ele vivia naquele mato,
Com seu
cavalo, adaga e poncho.
Jeito de céu
e...
Vocação de
terra.
Como uma “torcaza”
ele alçou vôo,
Sem jamais
voltar à querência.
Quem ceifou
vidas,
Sentia-se
morto por dentro.
Nunca mais
botou os pés na estrada real.
Cruzador de
caminhos tortuosos,
Viu-se
enredado em uma teia
De sangue,
medo e morte.
Por guarida,
As estrelas.
Por
parceira,
Uma tristeza
contundente.
“Además”...
Um olhar de
gato do mato,
Instinto de
capincho,
E...
Um desvelo,
Que
vociferava por vezes,
Enlutando
seu coração.
Muito tempo
já decorrido...
Andava pelos
fundões de campo,
Uma figura
sólita.
Nada mais
tinha de seu que,
Uma vingança
no cerne.
Viveu bem
naquela cruzada
Onde hoje
leva o seu nome:
Passo do
Silvestre.
Um dia
sumiu,
Igual à
noite se desfazendo,
Ao primeiro
fulgor da manhã.
Alguns,
ainda afirmam que...
Em noites de
lua cheia
Pode se ver,
O proscrito
passando nos matos,
Ou cruzando
alguma cancela.
Sua alma,
Quem sabe
ainda pena,
Sentindo que
a vida,
Foi roubada
em um jogo
De cartas
marcadas.
É assim.
Quem mata
morre também.
E perde mais
que a sua existência.
Ficando
talvez...
Só o
arrependimento,
E um ar
fumacento,
Pra durar a
vida inteira.
Intérprete: Gerson Brandolt