A Morte do Andante
(Dionísio Costa, Andrius Cruz)
Um cusco impaciente lambendo seu
rosto
Ao ver contragosto o amigo no
chão
Um leito de trapos que agora é
mortalha
Em meio a migalhas sobre um
papelão
Dormindo ao relento no forte do
inverno
O sono eterno então lhe abateu
Não teve a graça de ver mais um
dia
Sozinho vivia sozinho morreu
Será que é verdade que somos
iguais
Os mesmos mortais conforme se
pensa
Será que vivemos o que é aparente
E a vida da gente não tem
diferença
Será que a vida daquele andarilho
Por ter menos brilho não tinha
valor
Será que só basta rezar ajoelhado
E dormir descansado em nome do
amor
Que história teria aquele andante
Que há poucos instantes tombou na
avenida
Quem são seus parentes e onde
estão agora
No amargo da hora que se esvai
uma vida
Dormiu sem ter sonho e aceitou
calado
O abraço gelado que a morte lhe
trouxe
Nem vela e nem choro nessa
despedida
Mas era uma vida do jeito que
fosse