Cadastre seu e-mail e receba as atualizações do Blog:

Mostrando postagens com marcador 9º Pealo da Poesia campeira. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador 9º Pealo da Poesia campeira. Mostrar todas as postagens

A Razão das Adagas

A Razão das Adagas
(Adriano Medeiros)                                                       Amadrinhador: Adriano Medeiros

O que impulsiona a bestialidade humana?
Será o homem motivado pela vaidade?

A amplidão de suas posses,
São marcadas pelos seus passos,
Sejam eles firmes ou tortuosos.

O que gira a girândola do mundo?
Sim, são as vontades,
E se achegam demarcadas por insígnias,
Talvez de maldades.
Dependendo do julgamento de quem olha.

Seria eu tolo de me subjugar a um tirano,
Ou teria eu o poder de impor a minha razão?

A história esta escrita
Nos pergaminhos do tempo,
E esta senhora não vos mente!

Se culpado quem executa,
Culpado quem manda.
Na lei do maior,
Divisão injusta,
Quando a situação
Beneficia a barbárie
Em favor de um dos lados.

Foi na revolta de noventa e três,
E lá onde aconteceu ninguém esquece.

No local denominado três bocas,
Os maragatos degolaram o pai.
Mulher e filhas serviram
Pra que eles se despojassem
Como animais,
Besta-feras no cio!

Restando um guri,
Que se escapou em um
Zaino e foi deixado pra trás.

Este guri cresceu e prometeu
Que vingaria a honra da família.

Mais que homem,
Tornou-se uma lenda no lugar.

Findada a revolução...
Tudo se acalma e volta à devida ordem.
Para este que falo, não.

E assim, um a um,
Ele passou no fio da adaga.
Só se ouviam os comentários:

-Fulano morreu lá no Lageado.
-O outro morreu no Ibirocaí.

De tal modo ele foi fazendo a sua
Vingança pessoal.

O último que ele passou pra “alla”...
Foi um estancieiro,
Mas antes de executar,
Apresentou-se!

-Sou aquele que tu
Deixou escapar!

De pronto cruzou o aço frio.
Roubando assim...
O derradeiro lume dos olhos,
E o suspiro que restou,
Balbuciou um perdão quase sem sentido.

Alguns o acusavam de bandido!
Outros... Defendiam...

O que se sabe é que ele vivia naquele mato,
Com seu cavalo, adaga e poncho.

Jeito de céu e...
Vocação de terra.

Como uma “torcaza” ele alçou vôo,
Sem jamais voltar à querência.
Quem ceifou vidas,
Sentia-se morto por dentro.

Nunca mais botou os pés na estrada real.

Cruzador de caminhos tortuosos,
Viu-se enredado em uma teia
De sangue, medo e morte.

Por guarida,
As estrelas.
Por parceira,
Uma tristeza contundente.

“Además”...

Um olhar de gato do mato,
Instinto de capincho,
E...
Um desvelo,
Que vociferava por vezes,
Enlutando seu coração.

Muito tempo já decorrido...
Andava pelos fundões de campo,
Uma figura sólita.

Nada mais tinha de seu que,
Uma vingança no cerne.
Viveu bem naquela cruzada
Onde hoje leva o seu nome:

Passo do Silvestre.

Um dia sumiu,
Igual à noite se desfazendo,
Ao primeiro fulgor da manhã.

Alguns, ainda afirmam que...
Em noites de lua cheia
Pode se ver,
O proscrito passando nos matos,
Ou cruzando alguma cancela.

Sua alma,
Quem sabe ainda pena,
Sentindo que a vida,
Foi roubada em um jogo
De cartas marcadas.

É assim.
Quem mata morre também.
E perde mais que a sua existência.

Ficando talvez...
Só o arrependimento,
E um ar fumacento,

Pra durar a vida inteira.


Intérprete: Gerson Brandolt