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Décima do Trançador


Décima do Trançador
(Rodrigo Bauer, Joca Martins, Negrinho Martins)

Aprendi a lidar com o couro
Quando um franqueiro aluado
Pranchou cruzando um lajeado
E se quebrou num estouro...
Já nem se ergueu mais o touro
Quando eu apeei, me cuidando,
Olhando o pobre berrando,
Saquei a cabo de osso
E fiz sumir no pescoço a
Folha inteira, alumiando!

Tirei-lhe o couro com jeito,
Fui descascando aos poquitos
Nada, sem ser despacito,
Se aproxima do perfeito.
Depois do serviço feito,
Ganha as estacas cravadas
Sessenta e quatro, estiradas,
Num terreno decrescente,
Deixando a parte da frente
Para o lado da baixada!

Só depois de bem curtido
Com o mormaço lhe ardendo,
Foi que a Coqueiro, lambendo,
Lhe recortou o tecido.
O seu pêlo enegrecido,
Com a pitoca eu fui raspando,
Tento por tento, tirando
Pra rédeas, buçais e relhos,
Tento por tento, parelhos,
Um por um, os desquinando!

Aprendi a lidar com lonca
Quando um lobuno do meio
Me despejou de um arreio
E se atirou numa estronca...
Eu saí liso da bronca,
Mas o lobuno, coitado,
Além de ser retalhado,
Quebrou a mão e, lutando,
Se degolou, pataleando,
No velho arame farpado!

Aprendi a lidar com trança
Quando um baio, sem pretexto,
Arrebentou o cabresto
Sentando que nem criança!
Eu danço conforme a dança,
Seguindo o antigo adágio...
Trancei outros nesse estágio,
Pra um sentador que mereça,
Fugir, deixando a cabeça
Para pagar o pedágio!

Por isso é que trago os dedos
Picados de tantos talhos,
O coração em frangalhos
De tanto trançar segredos...
Sovei o couro do medo
Com o macete da dor...
No aço do cravador abri
Caminhos da história
Escrita com a trajetória
Das mágoas do trançador!

Das mágoas do trançador!

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